PT prepara-se para encarar cobrança das ruas


Longe do salão azul do Senado, o deputado estadual Raul Pont, um dos principais expoentes da chamada "esquerda" do PT, recebeu, durante os últimos dias, no Rio Grande do Sul, reclamações de eleitores irritados com a decisão do partido de apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), envolvido em uma crise moral, política e administrativa.

O relato de Pont se repete em outras histórias contadas por parlamentares e integrantes das diversas correntes de esquerda e de centro do partido. Mesmo com a pressão das bases sociais, grupos petistas que sempre fizeram críticas ao pragmatismo do partido aderiram aos argumentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a defesa da governabilidade e a eleição da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na disputa pela Presidência da República, em 2010, dependem da aliança com o PMDB de José Sarney e Renan Calheiros.

Como em parte da bancada petista no Senado, há resistência dentro do PT nas diferentes correntes do partido quanto à defesa do PMDB e do senador José Sarney. Integrantes de alas da esquerda petista analisam que o governo deveria ter criado condições para tornar-se menos dependente dos pemedebistas, mas justificam que a aproximação faz parte da "esquizofrenia do sistema político brasileiro". "Não é pragmatismo. É o realismo da política brasileira", explicou o deputado gaúcho Raul Pont. "Não tem como entender de forma lógica esse apoio do PT. Somos críticos ao Sarney e ao PMDB, mas precisamos de apoio no Congresso", disse. "E concordamos que a eleição de Dilma, em 2010, deve estar acima de outras questões."

Durante a pior crise enfrentada pelo PT, em 2005, durante o escândalo do mensalão, Pont foi candidato à presidência do partido contra Ricardo Berzoini, candidato do Campo Majoritário - ligado a Lula e ao ex-ministro José Dirceu - e levou a disputa ao segundo turno com uma candidatura que pretendia representar a "mudança" petista.

"Em nome da governabilidade o presidente Lula teve que fazer sacrifícios e acabou contrariando o PT", comentou o deputado federal Geraldo Magela (DF), do Movimento PT, corrente moderada do partido. Petistas de tendências como Democracia Socialista, de esquerda, e do Movimento PT, de centro, dizem que o presidente Lula sempre terá influência muito grande dentro do partido.

Integrante da Executiva do PT, Valter Pomar, da "Articulação de Esquerda", analisou que a divergência existente no partido não é sobre apoiar ou não Sarney, mas sim como o PT deve se relacionar com os aliados. "A diferença é outra, de natureza estratégica: como agir para que o PT não se torne prisioneiro dos limites de uma "governabilidade institucional", "parlamentarista"", disse. "O que fala mais alto no partido é a decisão de não perder as eleições presidenciais de 2010."

O dirigente ponderou que as ações praticadas no Senado não são de responsabilidade exclusiva do presidente da Casa e afastar o pemedebista imediatamente "não ajuda a investigar e punir todos os culpados". "Está claro que o afastamento dele é visto como uma grande oportunidade pela oposição."

Um senador que participou da reunião com Lula na noite da quinta-feira passada, quando o partido foi enquadrado, lembra que, neste episódio, é escolher o mal menor dentre das opções colocadas à mesa. "Ficamos entre uma escoriação passageira, que será curada a curto prazo ou um desgaste natural que pode sepultar a candidatura Dilma. O presidente já fez sua escolha. Cabe a nós a maturidade para tomarmos a decisão certa", afirmou o senador.

O discurso dos defensores da governabilidade é de que Sarney não precisa se licenciar mas tem que promover mudanças administrativas que serviriam como um "analgésico", na opinião de alguns senadores, para que a dor da escolha seja menos impactante e a humilhação sofrida pela bancada, no enquadramento feito pelo presidente e consequente recuo nas decisões, seja absorvida. "O PT salvou o Renan Calheiros (PMDB-AL) da cassação, compartilhamos o desgaste e não ganhamos nada com isto. Esperamos que agora, pelo menos, as mudanças sejam implementadas."

Um parlamentar que transita bem entre as correntes pemedebistas não se impressiona com o jogo imposto pelo PMDB, de pressionar o governo Lula em busca de apoio como uma contrapartida ao apoio à Dilma na sucessão presidencial. "Eles sempre fazem isto, jogam as cartas à mesa de acordo com os próprios interesses. Chantageiam o governo com a CPI da Petrobras, mas não querem investigar uma das subsidiárias, a Transpetro, comandada por Sérgio Machado, ex-senador pelo Ceará e filiado ao partido.

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