A estudante Mica Rocha esperou na fila um mês para ter o chinelo Chanel, de R$ 1.300
Por pouco Carolina Andraus, mulher do empresário e ex-senador Gilberto Miranda, não ganhou do marido, há três meses, um jato Gulfstream de US$ 60 milhões de presente de aniversário. Um pequeno problema atrapalhou a surpresa: a fila de 300 milionários do mundo que também queriam o avião, o G650, em seu hangar.
A empresa até realizou, em abril, um leilão internacional para organizar a demanda: quem depositasse a entrada pela aeronave mais rapidamente conseguiria melhores lugares na fila de entrega. Lances feitos -onze brasileiros participaram da "gincana" -, Miranda recebeu a notícia: seu lugar na fila previa que a entrega da aeronave só seria feita em 2018. Carolina estaria com 40 anos quando ela pousasse no Brasil. Ficou sem o presente.
Com o aquecimento mundial do mercado de aviação executiva, até Roberto Irineu Marinho, das Organizações Globo, e Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, amargaram fila ao comprar o Falcon 7X, último lançamento da francesa Dassault que custa US$ 40 milhões e é considerado um dos mais potentes e caros jatos executivos do mundo. Marinho acabou pagando ágio para a Budweiser, que cedeu seu lugar na fila ao empresário. O publicitário Nizan Guanaes só receberá seu jato Phenom, da Embraer, de US$ 2,9 milhões, em 2011; o bilionário Eike Batista também amargou um tempo na fila antes de receber o seu.
Aos 51 anos, o empresário paulistano Álvaro Sobral pagou US$ 100 mil para garantir lugar na fila de compra do jato VLJ (very light jet) da americana Cirrus, avaliado em US$ 1 milhão. Quantia que ele terá de desembolsar quando a máquina, encomendada ainda no protótipo, ficar pronta, em 2011. "Estava na hora de subir um degrau na minha posição", diz Sobral, que já tem um avião turboélice no hangar.
Na Spirit Ferreti, uma das mais prestigiadas fabricantes de barcos no Brasil, quatro clientes colocaram seu nome numa lista para comprar embarcações de até R$ 14 milhões. Na joalheria Cartier, o relógio Pasha Seatimer Chrono de aço, de R$ 26.880, tem sete compradores à sua espera. Na Empório Armani, o casaco quadriculado de R$ 3.880, ícone da última coleção, tem sete brasileiras interessadas na nova remessa, que pode nem chegar ao país. Também sem data certa de desembarque, o lápis comemorativo do 240º aniversário da Faber-Castell, com extensor de ouro branco e três brilhantes no topo, é aguardado por três colecionadores, que fazem fila para comprá-lo por 12 mil. "No mercado de luxo, o desejo não é estabelecido pelo preço e sim pela indisponibilidade do produto, que reforça o efeito psicológico do exclusivo", diz Fábio Mariano, sócio-diretor da InSearch Tendências e Estudos de Mercado. "O produto se torna especial porque não é para todo mundo."
Exemplo: mais de cinqüenta brasileiras fazem fila para comprar o Lip Maximizer, da Dior, batom que promete aumentar o volume dos lábios e que custa R$ 106. O segredo da marca para criar expectativa foi distribuir 800 peças por 500 pontos-de-venda, fazendo com que o produto se esgotasse em menos de uma semana. A próxima leva só deve chegar este mês. "Não me importo de esperar até três meses por um produto que realmente quero", afirma a analista de mercado Anna Maria Colacioppo, que pretende comprar dois batons para garantir um estoque particular.
O segmento que mais estimula a formação de filas é o de bolsas. No momento, em SP, há listas de espera para pelo menos cinco modelos de marcas diferentes. Na Louis Vuitton há fila para a bolsa Limelight (R$ 3.500), que aparece no filme "Sex and The City", e para a Galliera (R$ 3.400), estrela do anúncio com a Natalia Vodianova. Na Bottega Veneta o sucesso é o último lançamento de trecê. Na Longchamp, a Legende, de R$ 1.266, que aparece na campanha com a top model Kate Moss, está esgotada. E o próximo lote de 20 peças já tem donas pré-determinadas. "O modelo está em lista de espera no mundo todo", diz Kika Rivetti, responsável pela marca no Brasil. Kika sabe o que as clientes sofrem. Ela mesma já teve de aguardar um ano por uma bolsa Hermès, com lista em Paris. Outra campeã de pedidos é a Soft Dior, usada pela atriz Mônica Bellucci. As primeiras 30 peças, vendidas a R$ 4 mil cada, chegaram à loja de São Paulo há três meses e desapareceram da prateleira em quatro dias. "Já tenho 31 pessoas esperando a nova remessa. Mas só devo receber 30 bolsas", diz Rosângela Lyra, diretora da grife no Brasil. A Daslu tem fichário para organizar os pedidos de "pre-sale", ou vendas antecipadas. E já teve fila até para comprar chinelo de plástico - da Chanel, bem entendido. Por R$ 1.300, a estudante de publicidade, Mica Rocha, 22, garantiu o seu par.
Uma fila está formada para a compra da safra de 2005 do Romanée-Conti, cuja garrafa sai por R$ 14.300. "Desde janeiro nossa cota de importação já estava vendida e paga", afirma Marlene Kratz, gerente comercial da Expand. Outros 12 clientes aguardam a possibilidade de o produtor enviar garrafas extras até o fim de agosto. Superpontuado, o chileno Carmin de Peumo 2003, da Concha y Toro, já conta com 85 interessados na garrafa, que custará R$ 498. "Apesar de ser uma estratégia de marketing, não há dúvidas de que esse fenômeno só existe porque o mercado está aquecido. Vai ver se tem fila no Paraguai ou na Argentina?", diz o consultor Fábio Mariano, da InSearch. Da coluna de Mônica Bergamo
A empresa até realizou, em abril, um leilão internacional para organizar a demanda: quem depositasse a entrada pela aeronave mais rapidamente conseguiria melhores lugares na fila de entrega. Lances feitos -onze brasileiros participaram da "gincana" -, Miranda recebeu a notícia: seu lugar na fila previa que a entrega da aeronave só seria feita em 2018. Carolina estaria com 40 anos quando ela pousasse no Brasil. Ficou sem o presente.
Com o aquecimento mundial do mercado de aviação executiva, até Roberto Irineu Marinho, das Organizações Globo, e Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, amargaram fila ao comprar o Falcon 7X, último lançamento da francesa Dassault que custa US$ 40 milhões e é considerado um dos mais potentes e caros jatos executivos do mundo. Marinho acabou pagando ágio para a Budweiser, que cedeu seu lugar na fila ao empresário. O publicitário Nizan Guanaes só receberá seu jato Phenom, da Embraer, de US$ 2,9 milhões, em 2011; o bilionário Eike Batista também amargou um tempo na fila antes de receber o seu.
Aos 51 anos, o empresário paulistano Álvaro Sobral pagou US$ 100 mil para garantir lugar na fila de compra do jato VLJ (very light jet) da americana Cirrus, avaliado em US$ 1 milhão. Quantia que ele terá de desembolsar quando a máquina, encomendada ainda no protótipo, ficar pronta, em 2011. "Estava na hora de subir um degrau na minha posição", diz Sobral, que já tem um avião turboélice no hangar.
Na Spirit Ferreti, uma das mais prestigiadas fabricantes de barcos no Brasil, quatro clientes colocaram seu nome numa lista para comprar embarcações de até R$ 14 milhões. Na joalheria Cartier, o relógio Pasha Seatimer Chrono de aço, de R$ 26.880, tem sete compradores à sua espera. Na Empório Armani, o casaco quadriculado de R$ 3.880, ícone da última coleção, tem sete brasileiras interessadas na nova remessa, que pode nem chegar ao país. Também sem data certa de desembarque, o lápis comemorativo do 240º aniversário da Faber-Castell, com extensor de ouro branco e três brilhantes no topo, é aguardado por três colecionadores, que fazem fila para comprá-lo por 12 mil. "No mercado de luxo, o desejo não é estabelecido pelo preço e sim pela indisponibilidade do produto, que reforça o efeito psicológico do exclusivo", diz Fábio Mariano, sócio-diretor da InSearch Tendências e Estudos de Mercado. "O produto se torna especial porque não é para todo mundo."
Exemplo: mais de cinqüenta brasileiras fazem fila para comprar o Lip Maximizer, da Dior, batom que promete aumentar o volume dos lábios e que custa R$ 106. O segredo da marca para criar expectativa foi distribuir 800 peças por 500 pontos-de-venda, fazendo com que o produto se esgotasse em menos de uma semana. A próxima leva só deve chegar este mês. "Não me importo de esperar até três meses por um produto que realmente quero", afirma a analista de mercado Anna Maria Colacioppo, que pretende comprar dois batons para garantir um estoque particular.
O segmento que mais estimula a formação de filas é o de bolsas. No momento, em SP, há listas de espera para pelo menos cinco modelos de marcas diferentes. Na Louis Vuitton há fila para a bolsa Limelight (R$ 3.500), que aparece no filme "Sex and The City", e para a Galliera (R$ 3.400), estrela do anúncio com a Natalia Vodianova. Na Bottega Veneta o sucesso é o último lançamento de trecê. Na Longchamp, a Legende, de R$ 1.266, que aparece na campanha com a top model Kate Moss, está esgotada. E o próximo lote de 20 peças já tem donas pré-determinadas. "O modelo está em lista de espera no mundo todo", diz Kika Rivetti, responsável pela marca no Brasil. Kika sabe o que as clientes sofrem. Ela mesma já teve de aguardar um ano por uma bolsa Hermès, com lista em Paris. Outra campeã de pedidos é a Soft Dior, usada pela atriz Mônica Bellucci. As primeiras 30 peças, vendidas a R$ 4 mil cada, chegaram à loja de São Paulo há três meses e desapareceram da prateleira em quatro dias. "Já tenho 31 pessoas esperando a nova remessa. Mas só devo receber 30 bolsas", diz Rosângela Lyra, diretora da grife no Brasil. A Daslu tem fichário para organizar os pedidos de "pre-sale", ou vendas antecipadas. E já teve fila até para comprar chinelo de plástico - da Chanel, bem entendido. Por R$ 1.300, a estudante de publicidade, Mica Rocha, 22, garantiu o seu par.
Uma fila está formada para a compra da safra de 2005 do Romanée-Conti, cuja garrafa sai por R$ 14.300. "Desde janeiro nossa cota de importação já estava vendida e paga", afirma Marlene Kratz, gerente comercial da Expand. Outros 12 clientes aguardam a possibilidade de o produtor enviar garrafas extras até o fim de agosto. Superpontuado, o chileno Carmin de Peumo 2003, da Concha y Toro, já conta com 85 interessados na garrafa, que custará R$ 498. "Apesar de ser uma estratégia de marketing, não há dúvidas de que esse fenômeno só existe porque o mercado está aquecido. Vai ver se tem fila no Paraguai ou na Argentina?", diz o consultor Fábio Mariano, da InSearch. Da coluna de Mônica Bergamo