Clodovil dá novo show e é xingado

Destinação de mesmo assento para dois passageiros da Gol provoca disputa entre parlamentar e outro viajante. Distúrbio levou comandante do avião a chamar a Polícia Federal para retirar deputado

Na tentativa de escapar dàs lentes dos fotógrafos, Clodovil refugiou-se entre assessores depois de prestar depoimento durante três horas

O deputado federal Clodovil Hernandes (PTC-SP) protagonizou ontem à tarde mais uma confusão, desta vez dentro de um avião da Gol, no Aeroporto Internacional de Brasília. Segundo informações da Polícia Federal, o estilista disputou um assento com outro passageiro no vôo 1847 da Gol, que decolaria às 16h30 rumo ao aeroporto de Guarulhos (SP). O desentendimento provocou a mobilização de agentes da PF, chamados pelo comandante do avião para retirar o parlamentar. Clodovil prestou esclarecimentos durante três horas à delegada Sílvia Régia e embarcou para São Paulo às 20h14, num vôo da TAM.

De acordo com a versão relatada pela PF — e parcialmente confirmada pela Gol — , um passageiro encontrou Clodovil sentado na poltrona que lhe fora destinada. Clodovil argumentou que solicitara o assento ao fazer o check-in, no balcão da companhia, e se recusou a levantar-se alegando ainda que é idoso — completa 70 anos no próximo dia 17 — e deputado federal. De acordo com a polícia, a agressividade do comentário de Clodovil teria produzido revolta de outros passageiros que, em coro, passaram a ofendê-lo aos gritos.

A assessoria do parlamentar admitiu que houve desentendimento com outro passageiro quanto ao assento, mas afirmou que Clodovil foi voluntariamente prestar esclarecimentos no posto da PF. Relatou também que o estilista se queixou dos xingamentos proferidos pelos passageiros após a disputa e do tratamento recebido da companhia aérea. Como forma de compensação, informou a assessoria, Clodovil exigiu que a Gol colocasse à sua disposição um jatinho executivo para transportá-lo até São Paulo, mas não foi atendido.

Em nota divulgada à noite, a Gol lamentou o episódio. A companhia reconhece que “seu sistema marcou de forma indevida o assento” do parlamentar e garantiu que se colocou à disposição dele, oferecendo-lhe outro assento no mesmo vôo. De acordo com a assessoria do deputado, ele se recusou a viajar em qualquer outro vôo da companhia.

Frustração
Para passageiros que aguardavam seus vôos, o episódio envolvendo Clodovil Hernandes se tornou uma distração. Muitos se aglomeraram em frente a uma divisória de vidro, entre o saguão das lojinhas e as salas de embarque, aguardando que o parlamentar saísse do posto da PF. A aparição ocorreu por volta das 20h15, mas frustrou quem o aguardava. Ao perceber a presença de fotógrafos, Clodovil refugiou-se atrás de assessores e chegou a cobrir a cabeça com o paletó enquanto se dirigia para o embarque no avião da TAM.

Outros parlamentares que embarcavam para seus estados se mostraram surpresos ao receber a notícia do ocorrido. Foi o caso do senador Flexa Ribeiro (PSDB-BA) e do deputado Paulo Rocha (PT-PA), que não quiseram comentar o assunto. Já o presidente do Conselho de Ética do Senado, Sibá Machado (PT-AC), desaprovou a conduta do colega. “Eu acho que esse procedimento (de reacomodar um passageiro) tão normal que não cabe um comportamento que venha a desabonar uma pessoa, principalmente um parlamentar”, comentou.

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Memória
Sucessão de encrencas

Clodovil Hernandes, bem ao seu estilo, chegou à Câmara dos Deputados ditando moda. Desfila pelo plenário e demais recintos da Casa trajando elegantes ternos de grife e usando chapéu Panamá. Uma de suas primeiras atitudes foi pedir autorização à Câmara para promover uma reforma em seu gabinete, por conta própria, isto é, ele mesmo bancou as despesas. Clodovil contratou uma arquiteta para decorar o seu novo ambiente de trabalho. Apesar da ajuda profissional, o principal destaque da sala foi idéia dele mesmo: uma cobra naja de metal que servirá como base de apoio para sua mesa.

A peça imita uma cobra enrolada em coluna de metal dourado e sustenta o tampo de vidro. Foi o próprio Clodovil quem trouxe a “obra de arte” para Brasília. Em entrevista à TV Cultura, logo após sua eleição, o deputado disse que a cobra se chama Marta, uma referência, que ele nega, à ex-prefeita de São Paulo e atual ministra do Turismo Marta Suplicy (PT), com quem rompeu relações.

O parlamentar do PTC paulista é mestre em se envolver em polêmicas, como está comprovando nesses 105 dias de convívio com os demais 512 deputados federais: ele já enfrenta dois pedidos de punição na Corregedoria da Câmara, se envolveu em discussão na qual chamou a deputada Cida Diogo (PT-RJ) de feia e depois formulou um pedido de desculpas às mulheres. Há duas semanas, em nota divulgada por sua assessoria enquanto ele se submetia a um procedimento médico em São Paulo, o deputado negou ter tido a intenção de ofender as mulheres em suas declarações e disse estar arrependido de não ter se dado conta de que “ultrapassava limites do politicamente correto”.

“Peço desculpas às mulheres. Elas sabem, pois me conhecem há anos — e não somente agora na figura de deputado federal — que sou assim, que às vezes me empolgo e falo demais, mas que isso não significa, em momento algum, desprezo ou desrespeito pelas mulheres.” Apesar das desculpas, o PT não desistiu de cassar seu mandato por quebra de decoro parlamentar. (RT)

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