A lua-de-mel de Marcola na cadeia


TV 14 polegadas, carne assada e creme hidratante fazem parte da rotina dele desde que saiu do isolamento

Depois de cumprir 360 dias de reclusão em Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, voltou a viver como um preso comum. Desde 17 de maio, o líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) ocupa sozinho a cela número 107 da penitenciária Maurício Henrique Guimarães Pereira, a PII, em Presidente Venceslau, cidade de 38 mil habitantes no oeste paulista. Antes de ser instalado ali, Marcola havia passado dez dias em uma ala especial, isolado dos demais detentos e sem direito a visitas. “Até a chegada dele, o clima na cadeia estava mais maneiro”, afirma um funcionário. “Agora, os ladrões passaram a nos fazer mais ameaças. Dizem que tudo vai mudar e que cabeças vão rolar. Eu mesmo estou pedido.” “Pedido” significa “jurado de morte”.

NOVO REGIME
Marcola recuperou o direito a visitas

“Preso comum” não é a expressão apropriada para o caso de Marcola. Conhecida como “parque dos monstros”, por abrigar alguns dos criminosos mais temidos do Estado, a PII tem concedido pequenos privilégios ao número um do PCC. No dia em que Marcola chegou a Presidente Venceslau, um comunicado passado pelo diretor de disciplina informava que, a partir daquele momento, visitas estavam autorizadas a entrar com creme hidratante, condicionador para cabelo e Sustagen, um suplemento alimentar em pó. Até então, esses itens eram entregues apenas pelo correio e só chegavam às celas depois de revistados pelos agentes. Já na primeira visita, Marcola ganhou um frasco de hidratante. O presente foi dado pela mulher dele, a estudante de Direito Cynthia Giglioli, na manhã de 20 de maio, um domingo. A data entrou para a história do presídio como a lua-de-mel do casal. Os dois estão oficialmente casados desde janeiro, mas essa foi a primeira vez que puderam trocar intimidades, já que Marcola estava isolado em outro presídio do interior de São Paulo.

Cynthia é a segunda mulher de Marcola. A primeira, Ana Maria Olivatto, foi assassinada em 2002. Reservada, Cynthia veste calças jeans e usa pouca maquiagem. Não fala com os funcionários e pouco conversa com as mulheres de outros detentos enquanto aguarda na fila para entrar. Como manda a tradição carcerária, as visitas que ela fez a Marcola até agora foram acompanhadas de muita comida e refrigerante. No sábado 26, Cynthia levou carne assada, arroz e batata frita para o almoço com o marido. Sobras da refeição ainda estavam na cela no início da semana passada, quando aquela ala do presídio foi revistada. Como de costume, nada que comprometesse Marcola foi encontrado. Com outros presos foram apreendidos drogas e um telefone celular.

Quando um detento chega à PII, é praxe que suas roupas, calçados e demais objetos sejam checados minuciosamente, a fim de evitar a entrada de produtos proibidos. O procedimento demora alguns dias. No caso de Marcola, levou menos de 24 horas. A TV que o criminoso recebeu por Sedex também foi examinada e chegou rapidamente à cela. Marcola não precisou fazer nenhuma ameaça para ter tratamento especial. “Ele encara a gente de cima a baixo, como se quisesse dizer que quem manda aqui é ele”, afirma um funcionário.

Marcola está na unidade que é tida como ponto nevrálgico de todo o sistema penitenciário paulista. Ali estão concentrados quase todos os poderosos na hierarquia do PCC.

Por dentro do presídio
Na PII estão alguns criminosos temidos. Saiba quem são eles:
- Dilson Nogueira, o Biroska, um dos principais traficantes do Estado
- Luiz Henrique Fernandes, o LH, que repassaria ordens de Marcola
- Ronaldo Dias, o Chocolate, condenado pela participação na morte do juiz Machado Dias, de Presidente Prudente
- Alejandro Camacho, irmão de Marcola, transferido para a PII em maio do ano passado com cerca de 750 presos Wanderson de Paula Lima, o Andinho, um dos maiores seqüestradores do Brasil
- Alexandre Francisco Sandorf, o X, condenado por homicídio e assaltos a bancos e carros-fortes

Apesar de a unidade ser considerada de segurança máxima, a entrada de itens proibidos é freqüente, segundo apurou ÉPOCA. O bloqueador de celular não coíbe a comunicação dos presos nem há câmeras para vigiar as celas. No ano passado, foram descobertos buracos nas paredes e um túnel em fase inicial de escavação. Segundo a polícia, foi da PII que partiu a ordem para assassinar Wellington Segura, diretor do Centro de Detenção Provisória de Mauá, em janeiro.

A cela 107 tem cerca de 9 metros quadrados, duas camas, pia, chuveiro e vaso sanitário. Nas prateleiras, além de roupas, calçados e da TV de 14 polegadas, dois livros chamam a atenção: O Código Da Vinci, de Dan Brown, e o folhetim de tribunal O Cliente, de John Grisham. Nas duas horas e meia de banho de sol a que tem direito diariamente, Marcola costuma caminhar pelo pátio e falar com aliados. Alguns deles foram alojados em Presidente Venceslau em maio do ano passado, junto com cerca de 700 presos. A transferência em massa, de acordo com a polícia, foi o que motivou a maior onda de ataques no Estado, naquele mesmo mês de maio.

A cela de Marcola
O líder do PCC ocupa sozinho uma área de cerca de 9 metros quadrados, com um beliche (1), TV 14 polegadas (2), prateleiras (3), pia (4), vaso sanitário (5) e chuveiro (6).
É uma das únicas em que o vidro da janela está intacto.

O prisioneiro mantém nas prateleiras livros como O Código Da Vinci e O Cliente.

De lá para cá, o regime na PII ficou mais brando. Os horários de banho de sol e de visita foram ampliados. O PCC teria condicionado o fim dos ataques a certas mudanças no regime da unidade. Para abrir as celas e liberar os presos para o pátio, os funcionários são acompanhados por um pelotão de 40 homens armados com espingardas de balas de borracha, cassetetes e escudos. “Além do RDD, o regime adotado em Venceslau é o que tem segurado o sistema penitenciário”, diz o promotor Roberto Porto, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado. “De fora, parece que está tudo calmo. Mas o sistema é uma panela de pressão e continua nas mãos dos ladrões”, diz um agente penitenciário.

Solange Azevedo Época num. 0472 4/6/2007

4 comentários:

  1. A prioridade do Comando no montante é pressionar o Governador do Estado à desativar aquele Campo de Concentração " anexo" à Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, de onde surgiu a semente e as raízes do comando, no meio de tantas lutas inglórias e a tantos sofrimentos atrozes.PAZ JUSTIÇA E LIBERDADE

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  2. Priscilla (Mulher de um Detento de SP)terça-feira, 29 novembro, 2011

    O Comando esta certo em requerer seus direitos, pois são seres humanos e lutam contra a Opressão, só estão lutando por uma condição cárcera Digna, se o Comando não existisse muitos inocentes estariam mortos nas penitenciarias de SP, pois não existiria Leis e a Cadeia ia ser de ninguém, mais graças a Deus as cadeias de SP são do comando. PAZ/JUSTIÇA/LIBERDADE/IGUALDADE 1533.

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  3. eu concordo com o comando pq acontece muitas coisas q nao sao passada a jornal nenhum eu creio q un dia vai existir uma equipe q cuide dos bons trato dos presos eles só querem um tratamento melhor pois jas estao presos o q custa seer tratado como un ser humano por essas e outras q muitos saen pior d q entro... igualdade a todos é o q ta faltando liberdade já

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  4. Gabrieli kauani irmã de Detento SP)
    Isso que eles,estão fazendo é para o próprio
    bem da população se o pcc não existisse muitos
    vermes estarian estrupando mais do que já estão
    pcc tem mais respeito do que qualquer pessoa,
    por ai lá dentro é do jeito que eles querem
    já aqui na rUA É tudo bagunçado tem que respeita
    se não morre como muitos,já morreram por ai ou anda na linha ou sai fora,quem tiver achando,ruim meu comentário problema de que achou........

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