Cristo é alvo de protestos do Ibama

Dois dias depois de ter sido eleito um das novas sete maravilhas do mundo e às vésperas do Pan, o Cristo foi alvo de um protesto. Parados há quase dois meses, os funcionários do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) escalaram o monumento antes de ser aberto à visitação e colocaram, na altura do peito da estátua, uma faixa com o nome do órgão federal, em protesto a uma medida provisória que entregaria a administração de reservas naturais a uma nova autarquia, a Fundação Chico Mendes. O protesto, que contou com a simpatia da superintendência do Ibama, provocou a fúria da Arquidiocese do Rio e das secretarias municipal e estadual de Turismo.

Por causa das aventuras ao redor da nova maravilha mundial, que contaram até com um helicóptero, a abertura do Cristo ao público atrasou cerca de uma hora e meia. O superintendente do Ibama, Rogério Rocco, anunciou que vai abrir uma sindicância para apurar se houve alguma "violação administrativa" durante a manifestação.

A greve é um movimento legítimo - defendeu. - Quem subiu o Cristo não provocou danos ao patrimônio, só manifestou um posicionamento democrático.

Integrante do comando de greve do órgão, Roberto Huet tem discurso semelhante:

É uma postura patriótica. Denunciamos a falta de verbas e como pioraria a fiscalização se a divisão do Ibama for aprovada. As manifestações contrárias são naturais, até porque, agora, todo mundo quer assumir a parte boa do Corcovado - alfinetou.

O destino da greve será decidido quinta-feira no Senado, quando a medida provisória deve ser votada. Se a matéria for rejeitada ou sair da pauta - voltando apenas depois do recesso do Legislativo - os servidores devem voltar ao trabalho.

Em nota, o secretário municipal de Turismo, Rubem Medina, afirmou que "afixar uma faixa de caráter político no peito do nosso Cristo Redentor é um desrespeito com a cidade, com os cariocas e com a Arquidiocese do Rio, legítima proprietária do monumento, que inspirou e financiou a sua construção".

A instituição católica também se manifestou. Em texto assinado pelo monsenhor Abílio Ferreira da Nova, vigário episcopal para administração dos bens, repudiou o "ato de vandalismo orquestrado pelos grevistas do Ibama", que revelaria "desrespeito ao local sagrado que é o Cristo Redentor do Corcovado".

Outro que não poupou os organizadores da manifestação foi o secretário estadual de Turismo, Eduardo Paes:

Foi um ato patético, planejado por aproveitadores deste bom momento vivido pelo Rio - disparou. - Reclamar é justo; criar transtornos, jamais.

Protestos à parte, o superintendente Rocco garante que os quase 60 dias de paralisação não prejudicaram os serviços do Ibama. Além de continuar prestando serviços emergenciais, o órgão ganhou uma nova função desde que seus funcionários cruzaram os braços. Em maio, passou a ser responsável pela bilheteria do Cristo Redentor, depois que a Polícia Federal prendeu funcionários da empresa terceirizada responsável pelo serviço.

Mal assumiu a tarefa, o Ibama já se prepara para deixá-la. Rocco espera anunciar ainda este mês o resultado da licitação que escolherá a nova operadora da bilheteria, que terá de repassar ao órgão federal R$ 5 por cada visitante que vá ao Cristo Redentor.

O anúncio da licitação ressuscitou a briga entre Ibama e prefeitura pela posse do monumento. No fim do mês passado, Cesar Maia, em seu ex-blog, disse que "excomunhão é pouco" para quem cobra entrada em um santuário como o Cristo Redentor. Rocco classificou o comentário como "provocativo e rancoroso". O poder municipal não recuou - desde a vitória do Cristo na eleição das sete novas maravilhas, passou a reivindicar a volta do monumento aos seus domínios.

O Cristo foi entregue à União pelo governo militar - lembrou o secretário Rubem Medina. - Hoje não há mais sentido em não devolvê-lo ao município.

Para facilitar o acesso ao monumento, Medina promete inaugurar nos próximos dias, junto à secretaria de Transportes, uma linha regular de microônibus do Largo do Machado ao ponto turístico.


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