Disputas regionais devem acirrar ainda mais as relações dos parlamentares no Senado em 2008. Muitos deles tentarão renovar os mandatos em 2010. Por isso, cada discurso será de olho na urnas
Na noite do último dia 25, o presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), decidiu jantar com a mulher em um restaurante tradicional de Natal. Chegou ao local por volta das 20h. Logo na entrada, começou a ser cumprimentado. “Senhor presidente, boa noite!”, disse um garçom. Clientes o abordavam no meio do caminho à mesa. Garibaldi não escondia a satisfação. Sabe que a sua recente eleição poderá resgatar parte do prestígio político perdido com a derrota na disputa para o governo do Rio Grande do Norte em 2006. Lançou-se à vaga então ocupada por Renan Calheiros (PMDB-AL) muito mais de olho nos potiguares do que no futuro do Senado.
As questões regionais motivam quase toda tática política dos senadores. O que está em votação vira pretexto. E com Garibaldi não foi diferente. Assim como o apoio do líder do DEM, José Agripino (RN), à sua candidatura no Senado. Os dois não morrem de amores um pelo outro. Foram adversários no passado. Hoje, precisam andar lado a lado. Até porque os mandatos de ambos terminam em 2010. Se sonham com a reeleição, terão que se preparar para a provável candidatura ao Senado da governadora do estado, Vilma Faria (PSB). Apenas duas vagas estarão em jogo. Por isso, um deles pode sair ao governo. Apoiando o outro, claro, ao Senado.
Assim caminha a Casa. Em um jogo rotineiramente eleitoral. De olho em 2010, por exemplo, Aloizio Mercadante (PT-SP) comprou briga com Renan Calheiros. O petista chegou a defender o colega antes do primeiro julgamento em plenário, no mês de setembro. Defendeu no dia da sessão o adiamento da votação. Sem sucesso, disse que votou pela abstenção, o que ajudou Renan a se salvar. Mercadante voltou para São Paulo e sentiu a resposta negativa. Percebeu que, com sua postura, arriscou a reeleição ao Senado em 2010. Passou a pedir a renúncia de Renan. Depois, defendeu sua cassação. Se a tática deu certo, ele ainda não sabe. Mas torce para que a resposta seja positiva.
Absolvição
O caso Renan, aliás, mexeu também com o Mato Grosso do Sul. Delcídio Amaral (PT-MS) se incomodou com os holofotes direcionados a Marisa Serrano (PSDB-MS), uma das relatoras do primeiro processo contra o senador alagoano. Um dia antes da absolvição de Renan, Delcídio levantou a bandeira do fim da sessão secreta. Tentou aprovar a proposta em tempo relâmpago, para valer na votação que julgaria o peemedebista. Não conseguiu. Mas apareceu em jornais, televisões e rádios. Objetivo alcançado.
A mesma disputa foi travada no Amazonas. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), nega publicamente, mas se irritou com a postura de Jefferson Péres (PDT-AM), relator do processo que levou Renan a outro julgamento em plenário. Chegou a discutir com ele reservadamente. Depois, Virgílio assumiu a relatoria do caso na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Fez barulho. O tucano minimiza a disputa com Péres, diz que não o considera adversário. Mas jamais o colocou como aliado.
No Espírito Santo, o jogo é parecido. Magno Malta (PR-ES) e Gerson Camata (PMDB-ES) estão ressabiados com o destaque de Renato Casagrande (PSB-ES) no primeiro ano como senador. Em 2010, Malta e Camata terão que disputar as duas vagas, provavelmente, com o atual governador do estado, Paulo Hartung (PMDB). Cientes disso, se vigiam diariamente no plenário.
Exemplos do jogo eleitoral
Rio Grande do Norte
Derrotado para o governo do estado em 2006, Garibaldi Alves Filho, do PMDB, se lançou ao Senado para disputar o comando regional em 2010. José Agripino (DEM) o apoiou porque quer uma aliança com ele na mesma eleição
Mato Grosso do Sul
Preocupado com o crescimento de Marisa Serrano (PSDB) no caso Renan, Delcídio Amaral, do PT, apresentou propostas para alterar o Regimento Interno do Senado
São Paulo
O petista Aloizio Mercadante, se desgastou em São Paulo ao revelar que se absteve no primeiro julgamento de Renan. Candidato em 2010, mudou de lado e passou a pedir a cassação do colega
Amazonas
Irritado com a projeção de Jefferson Péres (PDT) no caso Renan, o líder do PSDB, Arthur Virgílio, começou a cortar o prestígio político do colega no Senado
Espírito Santo
Magno Malta (PR) e o peemedebista Gerson Camata perderam espaço com a chegada de Renato Casagrande (PSB), que também relatou processo contra Renan
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