Ontem, o telefone do ministro da Justiça, Tarso Genro, não parou de tocar. Do outro lado da linha, parlamentares de alto calibre da oposição e da base do governo buscavam informações sobre a operação da Polícia Federal que prendeu, entre outros, o banqueiro Daniel Dantas.
São políticos que se aproximaram dele no governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) .. Pegos de surpresa pela operação da PF que prendeu o dono do Opportunity, os partidos agora não querem assistir aos seus líderes envolvidos com o personagem central da investigação.
“O caso deixou todo mundo preocupadíssimo. Ninguém sabe direito o
motivo das prisões, e o Dantas tem relação com o governo pelo menos desde as privatizações no setor de telecomunicações”, diz um parlamentar petista de bom trânsito com colegas de PSDB e DEM. “A gente não sabe no que vai dar a operação”, acrescenta.
Nas conversas por telefone, Tarso Genro aumentou ainda mais a dúvida dos parlamentares. Ele descartou qualquer relação da operação da PF com o esquema do mensalão e reafirmou a versão oficial de que a apuração policial tem tentáculos que passam a largo do esquema de compra de votos que foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Congresso em 2005. Ou seja, esclareceu pouco para quem não esconde o temor pelo o que pode vir pela frente.
“Do que li sobre as investigações, trata-se de um caso de espionagem industrial, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. O governo está tranqüilo”, declara um ministro, descartando, ao menos por enquanto, uma relação direta com o mensalão. A oposição está preocupada porque alguns de seus líderes são ligados a Dantas desde o governo de Fernando Henrique, quando o banqueiro começou a mostrar sua força na privatização das telefonias.
Ontem à tarde, o senador Heráclito Fortes (DEM-PI) telefonou para um filho de Carlos Rodenburg, preso na operação da PF. Ex-cunhado de Dantas, Rodenburg é diretor do banco Opportunity, o carro-chefe dos negócios do polêmico banqueiro. Amigo de Dantas e Rodenburg, Heráclito queria detalhes da operação. Publicamente, o senador evitou comentar a ação da polícia. “Ainda preciso entender o que está acontecendo”, afirmou. Heráclito afirmou que não conversou com o ministro Tarso Genro.
Outros casos
Ontem não foi a primeira vez que o ministro da Justiça teve que conversar com parlamentares sobre uma operação da PF. Em abril, Tarso foi procurado pelos deputados Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
Os dois queriam informações sobre a inclusão de seus nomes na ação policial denominada Santa Tereza que desmontou um esquema de desvio de dinheiro em empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Paulinho é acusado de receber dinheiro desviado do banco e, por isso, sofre um processo por quebra de decoro na Câmara dos Deputados. O parlamentar cobrou de Tarso Genro sua citação no caso. Ontem, a conversa foi outra: deputados e senadores tentaram sondar o ministro sobre eventual envolvimento na investigação em torno do banco Opportunity.
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