Como têm feito desde o início do caso, os responsáveis pela defesa dos acusados por corrupção ativa em decorrência da Operação Satiagraha da Polícia Federal tentaram, mais uma vez, ontem, mudar o foco das atenções fazendo das autoridades policial e judiciárias alvo de questionamentos. Depois de ter indeferido seu pedido de adiamento para o interrogatório de Humberto Braz, assessor do banqueiro sócio-fundador do grupo Opportunity, Daniel Dantas, o advogado Renato de Morais orientou seu cliente a permanecer calado durante os 40 minutos em que ficou diante do juiz Fausto Martin de Sanctis, titular da 6ª Vara Criminal Federal em São Paulo.
Depois, na saída do prédio, acusou a PF de ter preparado o flagrante que resultou na prisão de seu cliente por tentativa de suborno: “Uma das linhas da defesa é a de que houve uma cilada. Quer dizer, uma provocação de uma autoridade policial que levou àquela situação”, disse o advogado.
A PF gravou dois encontros nos quais foi evidenciada a tentativa de suborno feita ao delegado Victor Hugo Rodrigues Alves. Segundo as investigações, foram oferecidos US$ 1 milhão ao delegado com o objetivo de fazer com que a PF deixasse de fora da Satiagraha o banqueiro Dantas e parentes dele ligados ao Opportunity. Morais negou a participação de Braz em qualquer negócio obscuro que envolva dinheiro, vantagens ou promessas financeiras. Admitiu a presença de seu cliente em um dos encontros gravados, o do restaurante em que teria sido feita a susposta tentativa de suborno.
Conversa
No entanto, garante não haver nada sobre negociações e dinheiro nas quatro horas e 28 minutos de fitas que, segundo as autoridades, comprovariam o envolvimento de Braz. “Foi uma conversa longa e amena, mas apenas sobre assuntos dos mais variados”, sustentou Morais. O advogado afirmou ainda que o encontro no restaurante foi provocado pelo delegado que presidia o inquérito na ocasião, Protógenes Queiroz. O delegado teria enviado ao local um de seus auxiliares para se fazer passar pelo responsável da investigação. Morais condenou o procedimento.
As fitas gravadas e a confissão do professor universitário Hugo Chicaroni, que participou do mesmo encontro no restaurante, fundamentaram a base da denúncia aceita pela Justiça, que instaurou a ação penal na qual são réus por corrupção ativa Braz, Chicaroni e o banqueiro Dantas. Segundo Morais, Braz e Chicaroni só se conheceram recentemente, porque Brás teria sido vítima de uma campana feita por intergrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Pela versão, assustado com a hipótese de seqüestro, Braz pediu a seus advogados que localizassem alguém que, por prestar serviços à Abin, pudesse informa-lo sobre o motivo da campana. E, então, chegou-se a Chicaroni, apresentado a Braz no Rio de Janeiro.