Duas eleições realizadas no Congresso para a identificação dos parlamentares mais influentes em 2008 terminaram com resultados diametralmente opostos. A tradicional pesquisa do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), que elege os 100 congressistas mais influentes do ano, apontou para nomes institucionais, como o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT), que ficou em primeiro lugar. Já na eleição do sítio "Congresso em Foco", que fez uma votação na internet a partir de uma pré-seleção preparada por jornalistas, os vencedores tiveram perfil diferente, como o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), que talvez não seja tão influente nas decisões da Câmara, mas é uma referência do Congresso na opinião pública.
O "Congresso em Foco" elegeu três senadores - Álvaro Dias (PSDB-PR), Pedro Simon (PMDB-RS) e Eduardo Suplicy (PT-SP) - e três deputados - Gabeira, Luciana Genro (P-SOL-RS) e José Carlos Aleluia (DEM-BA). Curiosamente, à exceção de Álvaro Dias, os senadores são considerados "outsiders" em seus próprios partidos. Os deputados são patronos de causas geralmente rejeitadas pela chamada maioria silenciosa, exceção do baiano José Carlos Aleluia, um hábil articulador que tanto no governo tucano quanto no do PT se sobressaiu em negociações difíceis, como as matérias relativas ao setor elétrico.
O levantamento do Diap, divulgado ontem, é realizado desde 1996. Esta foi a sua 12ª edição (a eleição não foi realizada em 1998). Além dos nomes institucionais, o que chama a atenção na relação de 12 nomes (três terminaram empatados no décimo lugar) é a presença de quatro pemedebistas. Trata-se de um reflexo direto da ampliação da influência do PMDB no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que começou discreta após as dificuldades pelas quais passou o Palácio do Planalto em 2005, e chega hoje a cinco ministérios e dezenas de cargos de segundo escalão, no segundo mandato.
O PMDB também tem as duas maiores bancadas do Congresso e é favorito na eleição do próximo presidente da Câmara, em aliança com o PT: o deputado Michel Temer, presidente nacional da agremiação e que ficou em sétimo lugar na lista dos "dez mais" do Diap. No Senado, a candidatura de Tião Viana (PT-AC) passou a ser levada a sério com a decisão do senador José Sarney (PMDB-AP) de não disputar o cargo de presidente e ainda apoiar o nome do petista. Sarney, aliás, é o parlamentar mais votado (seu nome apareceu em oito das 12 edições) desde que o Diap realiza o trabalho para seus clientes, os sindicatos filiados a centrais sindicais.
O aspecto "institucional" tem sido decisivo nas eleições, segundo o diretor do Diap Antonio Augusto Queiroz, "tanto que somente dois dos eleitos (Miro Teixeira e José Sarney) não são atualmente presidentes de partido, líderes de bancada ou membros das Mesas Diretoras das Casas do Congresso". Outro aspecto a que Toninho (como é mais conhecido) chama atenção é que "embora a Câmara tenha seis vezes mais parlamentares do que o Senado, há uma distribuição equilibrada dos votos entre deputados e senadores". Destaca também que "a oposição, mesmo sendo numericamente inferior, conseguiu uma boa performance, elegendo três entre os mais influentes do Congresso, sendo dois senadores e um deputado".
"Do ponto de vista profissional, a lista é heterogênea", analisa o Diap. São "três empresários, três médicos, dois advogados, dois jornalistas, um economista e um diplomata, considerando todos os escolhidos, inclusive os que estão empatados em último lugar". Uma surpresa: "regionalmente, pela primeira vez o Norte ganhou dos Sudeste e do Nordeste em número de parlamentares influente" nesses 12 anos.
O Diap tem critérios específicos para selecionar os 100 "Cabeças do Congresso" - o eleitorado responsável pela escolha dos "dez mais". Entre eles número de projetos apresentados e aprovados, participação efetiva nas comissões e escolha para relatorias importantes, por exemplo.
Durante muito tempo, o Diap foi uma das poucas entidades a mapear a elite e as tendências do Congresso. Hoje ganhou a companhia de outras como o "Congresso em Foco" e a consultora Arko Advice, às quais eventualmente se associa. Uma pesquisa da Arko entre "os cabeças", por exemplo, aponta que 71,96% dos parlamentares acham que o governador José Serra, de São Paulo, consolidou sua candidatura presidencial pelo PSDB, com o resultado as eleições municipais. Mas 65,42% dos entrevistados afirmaram que o fortalecimento do PMDB nessa mesma eleição deve levar o governador mineiro Aécio Neves a trocar o PSDB pelos pemedebistas, a fim de concorrer a presidente em 2010. A elite congressual, no entanto, ficou dividida em relação à candidatura de Dilma Rousseff: enfraquecida (28,03%), fortalecida (28,03%) e estável (39,25%).
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