Passava das onze da manhã de um domingo nublado, no começo de julho, quando Antônio Pedro de Siqueira Indio da Costa, ou simplesmente Indio, como é chamado, entrou em seu escritório político, num prédio art déco do centro do Rio. O escritório agora faz as vezes de quartel-general da sua campanha a vice-presidente. Ele ocupa metade do 4º andar e foi remodelado pelo pai, o arquiteto Luiz Eduardo. A decoração, em tons de amarelo e laranja, leva a assinatura da mãe, a decoradora Ana Maria, enquanto parte dos móveis foi projetada pelo irmão, o designer Guto Indio da Costa. As paredes e portas foram substituídas por imensos painéis de vidro. De qualquer sala, cada uma com sua função indicada – “Secretárias”, “Articulação”, “Reuniões”, e até uma singular “Energia Criativa” – é possível observar tudo o que acontece em volta.
Indio da Costa é alto e magro, tem a pele morena e os cabelos negros bem curtos. Havendo motivo ou não, sorri quase todo o tempo. Aparenta menos que seus 39 anos. Nesse 11º dia desde sua investidura como candidato a vice de José Serra, vestia mocassins marrons, jeans e camisa social branca sem um amassadinho, apesar de ter estado toda a manhã em campanha. Cumprimentou os assessores de plantão no domingo, distribuiu tapinhas nas costas e apertos de mão, e deu uma geral no ambiente. Logo reparou que uma das lâmpadas estava queimada. Perguntou um tanto contrariado: “Não consertaram isso aqui ainda? Chamem o eletricista, num instante ele dá jeito. Se não, deixa que eu mesmo troco.” Encaminhou-se à sala de reuniões cantarolando em voz alta o clássico de Cole Porter imortalizado por Frank Sinatra, I’ve got you under my skin. Cantava porque estava feliz, explicou.
Pouco depois de sentar, antes mesmo de a entrevista começar, botou a mão sobre a têmpora direita. “Você está vendo esse caroço aqui?”, perguntou, sugerindo que pressionasse os dedos no local indicado. “Está sentindo o calombo?” Com o alerta, é possível notar uma leve protuberância. Em seguida, inclinou a cabeça, afastou os cabelos e chama a atenção para uma finíssima cicatriz branca que lhe atravessa o couro cabeludo quase de orelha a orelha. “Tive que operar um aneurisma congênito”, explicou. “Era muito grande e estava numa área delicada do cérebro”,
Expansivo, contou que descobriu o aneurisma por puro acaso, depois de sofrer um acidente automobilístico, em 2003. Na época, o deputado carioca ocupava o cargo de secretário de Administração do Rio de Janeiro. “Um maluco vinha na contramão e bateu no meu carro”, disse. “Não sofri nada e voltei para casa. Apenas bati levemente com a cabeça no vidro. Só dois dias depois o médico pediu alguns exames que acabaram detectando o problema. Parece que eu tive muita sorte de descobrir o aneurisma antes que se rompesse.”
O deputado não contou, contudo, que o acidente ocorrido na madrugada de 29 de junho de 2003, no Itanhangá, Barra da Tijuca, resultou num processo criminal que o Ministério Público moveu contra o taxista Marcio Lopes de Carvalho. Os autos contêm discrepâncias profundas em relação a sua narrativa. No processo consta que Indio da Costa foi transportado de imediato do local do acidente para a clínica São Vicente, na Zona Sul. Sangrando, deu entrada no setor de emergência com suspeita de traumatismo craniano. Só saiu de lá depois de operado.
Na entrevista , o candidato a vice-presidente ateve-se às lembranças dramáticas que guardou da cirurgia de alto risco. O acidente, na sua versão, fora corriqueiro. “O Paulo Niemeyer me alertou que eu podia morrer ou ficar paralítico”, disse, referindo-se a um dos mais renomados neurocirurgiões cariocas. “Respondi que queria operar de qualquer maneira para não passar a vida com medo de que aquilo explodisse. ” Acrescentou que costuma ser aconselhado a não falar no episódio, a tentar esquecê-lo. “Respondo que quem vê a morte de perto não esquece nunca. E que isso mudou minha forma de ver a vida.”
Duas semanas mais tarde, ao saber que os autos do processo número 2003.800.152746-8 davam uma versão bastante diferente do acidente, ele enviou um e-mail corrigindo o relato que fizera, aproximando-o do que consta no processo. “Talvez eu não tenha sido preciso na primeira entrevista – afinal, não é um momento da vida que eu goste de recordar”, explicou. O boletim de ocorrência feito pelo sargento Sebastião Carlos Martins, hoje aposentado, não inclui perícia porque, quando o pm chegou ao local, a cena do acidente havia sido desfeita. Embora o Passat de Indio da Costa não estivesse mais na posição da batida, a polícia concluiu pela culpa do taxista, que teve as duas pernas quebradas, sofreu cinco fraturas, o motor lhe esmigalhou os ossos, ficou cinco meses em cadeira de rodas, tem dezesseis pinos metálicos e cinco platinas no corpo e foi julgado à revelia. Ele acaba de entrar com uma ação indenizatória na vara cível contra Indio da Costa e insiste que não foi o culpado pelo acidente. Indio da Costa retirou o processo contra Marcio Carvalho em 2004.
A campanha eleitoral que naquele domingo começara às quatro da madrugada com uma viagem até Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, tinha sido, segundo ele, muito produtiva. “Visitei hospitais e feiras livres. Fui para a rua ouvir as pessoas”, contou, enquanto mostrava uma sala maior, com vista para a Baía de Guanabara e o Museu de Arte Moderna. Naquele espaço funciona o seu “Instituto de Novas Ideias”, conforme indica o nome inscrito na porta de vidro.
Fundado sete anos antes, o instituto recebeu a sigla inirio e fez parte de seu plano frustrado de eleger-se prefeito do Rio de Janeiro, em 2008. Da equipe inicial de trinta pessoas restam quinze, uma vez que o banco de dados idealizado para alavancar sua carreira política foi concluído. O banco guarda informações sobre todas as escolas, creches, hospitais, postos de saúde, delegacias, batalhões da Política Militar, Corpo de Bombeiros e outros serviços públicos do município do Rio. E adquire visibilidade LEIA MAIS Revista Piaui
Olá,
ResponderExcluirGostaria de entrar em contato para convidá-la a uma parceria junto a Rede Mercadante. Você poderia, por gentileza, enviar um email de contato para o email: blogosfera@mercadante13.com.br
Aguardo seu retorno e agradeço sua atenção!
Sensacional a matéria.
ResponderExcluirConseguiu captar as cenas, situações e fatos, deixando um sabor de gosto para quem nem acompanhou pessoalmente.
Saudações!
E por falar de Saúde Pública.Como que o povo pode acreditar no Zéserra,se demotucanos,depois de governar o Estado de São Paulo por mais de 16 anos – se em minha cidade de São Miguel Arcanjo(180 km da Capital)não temos Maternidade a 4 anos e ñ temos Hospital desde 2 de maio de 2008?????FORA ZÉPEDÁGIOSERRA!!!!Se não fez em São Paulo,certamente não fará pelo Brasil!!!!
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