Vestibular deve acabar

Era uma vez um reitor de universidade baiana que, sonhando com um ensino superior de melhor qualidade, reuniu-se com colegas de três instituições do Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF) e do Grande ABC (SP) para elaborar o projeto de uma universidade nova. Um dia, ao visitar a capital de São Paulo para falar sobre a proposta para outros acadêmicos, o reitor baiano chamou a atenção da grande mídia. Não porque a imprensa estivesse interessada no debate em si – essencialmente o novo modelo estimularia uma formação mais interdisciplinar. Discutir currículo é muito chato fora do meio acadêmico. O que chamou a atenção dos jornalistas foi um dos tópicos da proposta: o fim do vestibular.

Isso tudo aconteceu entre o segundo semestre de 2006 e janeiro deste ano, quando o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Monteiro de Almeida Filho, esteve em São Paulo (SP). Desde então, visitou vários Estados, inclusive Goiás – onde esteve na semana passada para apresentar a proposta “Universidade Nova” para acadêmicos da Universidade Federal de Goiás (UFG) – e Brasília, onde participou de um debate no Congresso Nacional. O Ministério da Educação está animado com a proposta, que pode aumentar o número de vagas nas faculdades públicas sem desembolsar muito dinheiro. Hoje, há 580 mil universitários no País e o governo federal promete dobrar esse número até 2010.

O projeto, que ainda está numa fase incipiente, segundo o próprio reitor da UFBA, prevê a composição do ensino superior em três ciclos: bacharelado interdisciplinar (BI), de formação geral; ciclo de formação profissional específica; e ciclo de pós-graduação. Outra mudança é o fim do vestibular como forma de ingresso nas universidades.

Ao formar-se no 2º grau, o aluno ingressaria em um BI atrás de uma versão melhorada do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e não mais por meio do vestibular. Em vez de escolher a profissão, decidiria por uma área genérica, como ciência, humanidades, artes. Após três anos, receberia um título de bacharel e poderia escolher: interromper os estudos ou especializar-se, buscando cursos como medicina, direito, jornalismo. Essa fase teria a duração de dois a quatro anos. Aí viria a pós-graduação.

O número de vagas no segundo ciclo seria menor que o do BI, já que os cursos profissionalizantes exigem laboratórios e estrutura que hoje não atende à demanda que estaria nos bacharelados. Por isso, haveria disputas mais concorridas a partir das notas obtidas ao longo do primeiro ciclo.

O reitor da UFBA destaca que o ensino superior enfrenta hoje sérios problemas, o que leva a uma grande evasão estudantil. Naomar destaca a precocidade nas escolhas de carreira profissional, a seleção limitada, pontual e traumática do vestibular e currículos estreitos. “A arquitetura curricular atual possui modelos de formação totalmente superados em seus contextos de origem.” Naomar também diz que o modelo aproximará o sistema universitário brasileiro dos vigentes no Primeiro Mundo, onde não há nem vestibular nem especialização precoce.

A Universidade Nova prevê ainda a criação de cursos superiores de curta duração, que propiciem a formação de “tecnólogos”, para alunos que necessitam de uma formação profissional mais rápida. A proposta tem sido elaborada em conjunto por sete universidades federais (Bahia, Brasília, do ABC, Rio de Janeiro, Pará, Piauí, do Recôncavo da Bahia e Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia). O nome “Universidade Nova” é em homenagem ao educador Anísio Teixeira e seu projeto “Escola Nova”, feito na década de 30.

POLÊMICA – O alcance que o projeto ganhou na mídia e os bons olhos com que o governo tem visto a idéia despertaram acadêmicos de diversos centros. O principal medo de quem colocou um pé atrás ao analisar o assunto é a ausência do tema “orçamento”. “Concordamos que o vestibular não é a melhor maneira de ingressar na universidade e com a proposta da interdisciplinaridade, mas nada se resolve sem que seja discutido o orçamento. Precisamos de financiamento para ampliação e expansão do ensino superior”, diz o 1º tesoureiro do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), José Vitório Zago.

Ele acredita que a proposta é um “espetáculo” (no sentido de show midiático) para o governo fugir do verdadeiro debate: a falta de recursos nas universidades públicas. “É com recursos que as universidades podem melhorar o ensino universitário e aumentar as vagas.”

2 comentários:

  1. EM PORTUGAL, O ENSINO SUPERIOR JA É NESTES MOLDES. SO NAO SEI COM RELACAO AO INGRESSO.

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  2. Ótima proposta! O governo seria ,pois, obrigado a investivir nas Universades Públicas do país.

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