R$ 730 mil sob suspeita

Policiais apuram se dinheiro apreendido na casa de servidor público do Maranhão é parte de propina

A Polícia Federal apreendeu R$ 730 mil em poder de José de Ribamar Hortegal, engenheiro da Secretaria de Infra-Estrutura do Maranhão. O dinheiro foi encontrado na casa do servidor público, no bairro Ipem Cristóvão, em São Luís. Os investigadores suspeitam que os recursos sejam parte de propina paga pelos integrantes do suposto esquema de corrupção. A PF ainda não divulgou um balanço final sobre as apreensões da última quinta-feira.

Os policiais sustentam que o pagamento de propina era feito de duas formas: oficialmente ou clandestinamente. No primeiro caso, o suposto corrompido emitiria faturas de sua empresa, lavando o dinheiro ilícito recebido. “É caso de Roberto Figueiredo (Planos Consultoria Financeira Ltda.) e Geraldo Magela (Pool Comunicações Ltda.)”, acusou o inquérito do caso remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Roberto Figueiredo atuou como consultor financeiro do Maranhão e, mais recentemente, como presidente do Banco Regional de Brasília (BRB), cargo do qual foi afastado. Geraldo Magela foi assessor do ex-governador do Maranhão José Reinaldo Tavares, também acusado pela PF de participar das irregularidades. Figueiredo e Magela, segundo as investigações, receberiam o dinheiro por depósito bancário, emitindo, em contrapartida, notas fiscais por serviços não realizados.

Se não era possível aplicar esse artifício, a remessa do montante era feita em espécie e por meio de transporte clandestino. Foram feitos diversos acompanhamentos em que funcionários da Gautama e o próprio Zuleido Veras, dono da construtora, transportaram quantia em espécie para serem entregues a agentes públicos.

Ataques à família Sarney

Acusados pela Polícia Federal de favorecer a empreiteira Gautama, o governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e seu antecessor, José Reinaldo Tavares (PSB), atacaram ontem a família Sarney e atribuíram aos adversários políticos a tentativa de envolvê-los no caso. Tavares prestou depoimento por mais de um hora no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Disse à ministra Eliana Calmon e a duas subprocuradoras da República que nunca ganhou nenhum presente da Construtora Gautamo e não beneficiou a empresa em obras no Maranhão. "Não me sinto vítima, tudo isso faz parte da luta política. No Maranhão a guerra é enorme, é pressão do grupo que ficou 40 anos no poder, que fica fornecendo dados falsos", afirmou, após o depoimento.

José Reinaldo Tavares se elegeu em 2002 com o apoio da família Sarney. Durante o mandato, contudo, desavenças familiares o fizeram romper com o grupo que se alternava no poder há decadas no Maranhão. Sem citar nomes, Tavares não poupou críticas aos rivais. "Vencemos a eleição, isso faz bem ao Maranhão que herdou os piores indicadores sociais", disse. O ex-governador foi ainda mais duro contra os Sarney e aliados: "O grupo político que se aproveitou da pobreza do estado (do Maranhão) perdeu as eleições e não deve voltar mais", atacou.

Acusado pela PF de ter recebido um automóvel no valor de R$ 110 mil em troca de benefícios à Gautama, o ex-governador disse que mostrou ontem à ministra cópia do recibo e da declaração do Imposto de Renda para provar que comprou o veículo. "Foi pago por mim, com recursos declarados no meu Imposto de Renda de 2005 e o carro foi declarado no Imposto de Renda de 2006. Não houve benefício e não houve presente porque eu não aceitaria".

Coincidência
Também em Brasília, Jackson Lago usou argumentos parecidos com o do antecessor para se defender. Em entrevista, ele creditou o pesadelo que vive à família Sarney e jura que foi uma coincidência ele estar na capital justamente no dia em que seus dois sobrinhos supostamente teriam recebido uma propina de R$ 240 mil da Gautama. Lago diz que vai provar sua inocência, e acusa os senadores José Sarney (PMDB-AP) e a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA), de estarem por trás da tentativa de envolvê-lo no escândalo.

Lago negou qualquer irregularidade em seu governo e afirmou que, até agora, não teve qualquer contato com os sobrinhos Alexandre Maia Lago e Francisco de Paula Lima Júnior, presos pela Polícia Federal. E que, portanto, não pode dizer se eles receberam ou não dinheiro da Gautama.

Sem fazer menção aos pagamentos feitos este ano pelo governo do Maranhão à Gautama, Lago fez questão de afirmar que foi a família Sarney que levou a Gautama para fazer obras milionárias no estado. “Quem levou a Gautama para o Maranhão foi a então governadora Roseana Sarney, que assinou contratos milionários com a empresa para a duplicação da adutora de Italuís e as obras foram paralisadas pelo Tribunal de Contas do Estado. O contrato era de R$ 300 milhões. Acho que talvez a obra nem tenha começado”, disse Lago.

Ao negar a ligação entre a suposta propina paga a seus sobrinhos e a liberação de recursos para a Gautama, Lago voltou a acusar os Sarney. “Já demos entrada na documentação junto ao ministro da Justiça Tarso Genro para que seja apurada toda essa infâmia que está sendo construída contra mim, com a cumplicidade, a parceria, o poder que o senhor José Sarney reúne nessa República”. Nem José Sarney nem Roseana se manifestaram sobre as declarações de Jackson Lago e de José Reinaldo Tavares.

Vilela adota silêncio

O governador Teotônio Vilela Filho (PSDB) não quis se pronunciar ontem sobre a citação do seu nome em trechos de conversas telefônicas gravadas pela Polícia Federal durante a Operação Navalha. Numa das conversas gravadas, o nome do governador é citado pelo dono da Construtora Gautama, Zuleido Veras, que está preso na carceragem da Polícia Federal em Brasília, apontado como chefe da suposta quadrilha que desviava recursos federais de obras públicas. Em um desses trechos, Zuleido diz para um dos envolvidos na Operação Navalha que o "dinheiro tem que sair porque a obra é do Téo".

Na manhã de ontem, Vilela participou de uma solenidade no Palácio República dos Palmares, ao lado do secretário de Planejamento, Sérgio Moreira, que está respondendo também pela Secretaria de Infra-Estrutura desde sexta-feira, após a prisão e a exoneração do ex-secretário Adeílson Bezerra. O governador só quer falar quando a Controladoria-Geral do Estado (CGE) concluir a auditoria nos contratos da Gautama para realização de obras públicas em Alagoas.

Um grupo de assessores, no entanto, vem tentando fazer com que Vilela convoque a imprensa para uma entrevista ou um pronunciamento, como fez na quinta-feira, quando cinco auxiliares seus foram presos durante a Operação Navalha. Entre os presos, além de Adeilson Bezerra, está Enéas Alencastro, que chefiava o escritório de Alagoas em Brasília e trabalhava no gabinete de Vilela no Senado

Acusações

Segundo a PF, Adeilson Bezerra e Enéas Alencastro teriam recebido juntos cerca de R$ 300 mil em propina da Gautama, a mando de Zuleido Veras. Vilela também é citado nas investigações da PF. Em ligações interceptadas, há referência a um possível encontro entre o governador de Alagoas e o proprietário da Gautama, Zuleido Veras. O encontro teria sido organizado pelo chefe do escritório de Alagoas em Brasília, Enéas Alencastro. Nas gravações, Alencastro fala para Veras: "Quatro e meia, lá no escritório do gover...senador, está bom?". Os dois ainda confirmam o local por telefone, que fica no bairro do Farol.

O escritório de Vilela foi utilizado como uma de suas bases de campanha, quando disputou o governo do estado em 2006.

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