ONG bandida


Hugo Marques
Isto é num. 1964
20/6/2007



Ele era um homem acima de qualquer suspeita. Rico, culto e simpático, Tarcísio Franklin de Moura, aos 64 anos, era, no Planalto Central, o retrato pronto e acabado de um bon vivant. Separado por duas vezes, ele mantinha o status à altura do cargo que ocupava há oito anos: a presidência do Banco de Brasília (BRB), um dos mais cobiçados da capital federal. Dirigindo carrões importados, Franklin freqüentava assiduamente os mais sofisticados restaurantes de Brasília, desfilava com belas mulheres e, como hobby, colecionava relógios de grife – nada menos que 101 relógios, um deles no valor de R$ 60 mil. O BRB é um banco público, mas não divulga o salário de seu ex-presidente. A polícia, entretanto, apurou que Franklin fazia retiradas em casas de câmbio equivalentes a US$ 100 mil por mês.

Franklin viu seu castelo ruir na quinta-feira 14, quando foi preso na sua mansão depois que a Polícia Civil de Brasília descobriu o golpe que ele e outras 19 pessoas aplicavam no próprio banco que ele dirigia. A quadrilha de Franklin, segundo a polícia, usava um esquema extremamente novo e sofisticado de roubar dinheiro público: cartões de crédito corporativos. Na prática, as tarjetas funcionavam nessa nova modalidade de corrupção como malas de dinheiro de plástico. Os investigadores descobriram que a turma de Franklin montou uma ONG – a Caminha –, que terceirizava os serviços do BRB. Sob as ordens do presidente Franklin, os cartões tinham limite de até R$ 50 mil. O esquema não deu certo justamente pela sede com que os próximos a Franklin iam à boca do caixa. Só no dia 23 de janeiro, um deles sacou R$ 650 mil em dinheiro vivo. No dia 5 de fevereiro, nova investida, mais R$ 491 mil. Era assim quase todo dia. Somente de setembro do ano passado até o início deste ano eles torraram R$ 14,2 milhões.


PROVAS Entidade ligada ao presidente do Banco de Brasília fez saques milionários

Os saques, segundo o Ministério Público, eram feitos através de mil cartões corporativos e podem chegar a R$ 50 milhões. Os ongueiros faziam compras nas melhores lojas: Forum, Aramis, Vivara Jóias, Bulgari. Como todo rico, eles também mandavam seus filhos para estudar no Exterior. A polícia ficou no rastro dessa quadrilha por causa dos grandes saques na boca do caixa. Os investigadores descobriram, então, que de ONG a Caminha não tinha nada. Apontado como o cabeça da organização, Franklin, que chefiava o banco desde 1999, coordenava um esquema criminoso que não resistiu ao depoimento da primeira testemunha do caso, Noelma Xavier, funcionária do doleiro Georges Kammon, que confirmou ter entregue R$ 1 milhão a Tarcísio.

Para o MP, a prisão da quadrilha ajuda a identificar um novo e rentável caminho para a lavagem de dinheiro: os cartões corporativos. A investigação continua, promotores e policiais estão atrás dos vínculos políticos da quadrilha, a partir da análise do material apreendido nas residências e em cinco andares do imponente prédio do BRB, no centro de Brasília.

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