Brigadeiro constrangido e deputados afoitos

De um lado, emburrado, estava o brigadeiro Jorge Kersul Filho; de outro, deputados afoitos pelo segredo da degravação da caixa-preta do Airbus 320 da TAM. Conhecer os dados antes dos senadores, que também têm uma CPI, e são notórios em vazar todas as informações que chegam, havia se tornado questão de honra para os deputados.

Nas reuniões anteriores com a CPI, o brigadeiro Kersul havia sido muito resistente à divulgação dos dados da caixa-preta. Mas não conseguiu convencer os deputados a desistir de conhecê-los. Sem ter o que fazer, porque, segundo ele mesmo, tinha 48 horas para entregar o conteúdo das caixas, sob pena de ser intimado por um oficial de Justiça, encontrou uma fórmula de criar dificuldades para os deputados.

A gravação da caixa-preta de voz do A320 foi entregue, mas não é possível ouvir o som, porque seguiu sem o software que permite isso. Os deputados ficaram irados com o brigadeiro. Mais: a transcrição feita nos Estados Unidos, que a CPI logo deliberou entregar para os meios de comunicação, estava em inglês. Como nem todos os deputados lêem em inglês, foi preciso improvisar dois intérpretes, Rocha Lores (PMDB-PR) e Luciana Genro (PSOL-RS). Termos técnicos foram traduzidos pelo brigadeiro, numa aparente má vontade. O deputado Carlos Willian (PTC-MG) tornou-se o porta-voz dos descontentes. "A Aeronáutica fez a CPI de palhaço", bradou ele. "Entregou-se um disquete de ET (extraterrestre). Só uma máquina multinacional pode lê-lo."

Outra dificuldade foi fazer uma cópia do texto do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) em inglês - o material tinha uma série de proteções contra cópias e impressões. O relator Marco Maia até fez uma projeção dos dados para jornalistas, antes que se conseguisse uma saída que permitisse a cópia.


Um comentário:

  1. Então a culpa não foi da pista?

    Será que alguém vai saber disto?

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