Lista de cotistas da UFSC vaza pela internet


Em meio à polêmica da suspensão do sistema de cotas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), determinada pela Justiça Federal, uma lista extra-oficial vazou na internet com o nome dos aprovados e a identificação dos cotistas por raça ou origem escolar.

O desempenho de cada um é detalhado no documento. A universidade confirmou ontem que um hacker invadiu o sistema do Núcleo de Processamento de Dados da instituição e copiou o relatório, que não havia sido divulgado até então.
A lista oficial dos aprovados divulgada pela UFSC, no final de dezembro, não informava a classificação dos candidatos.
Anteontem à noite, um link para download foi colocado em uma comunidade sobre vestibular no Orkut por um internauta identificado apenas como "Vestibulando da UFSC".

Na lista que foi disponibilizada pelo usuário, havia o emblema da universidade e da Coperve (Comissão Permanente do Vestibular). São mais de 30 mil nomes em 806 páginas.
A Polícia Federal informou ontem que, se a universidade enviar um ofício à corporação informando sobre o problema, poderá fazer perícia no sistema e tentar identificar o suspeito. Caso ele seja condenado, poderá pegar até três anos de prisão.

A relação de cotistas normalmente não é divulgada pelas universidades para evitar que os aprovados pelo sistema sejam estigmatizados. Algumas, porém, como a Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), divulgam as informações.
O vazamento acirrou ainda mais os ânimos. No começo do mês, a Justiça Federal de Santa Catarina suspendeu as cotas na UFSC, a pedido do Ministério Público Federal.
Na decisão liminar, o juiz Gustavo Dias de Barcellos afirmou que o sistema fere o princípio de igualdade assegurado na Constituição e determinou que as vagas fossem preenchidas por ordem de classificação dos candidatos.

A UFSC, entretanto, recorreu e aguarda a manifestação do Tribunal Federal Regional. A matrícula está marcada para os dias 14 e 15 de fevereiro.
A UFSC havia reservado 20% de 4.095 vagas para egressos de escolas públicas e 10% para negros. A universidade tem 20 mil estudantes de graduação.

Após saber da lista, uma integrante da comunidade no Orkut comentou: "Agora que dá pra saber quem é cotista e quem não é, o preconceito vai comer solto lá dentro". Em outra comunidade contra o sistema, um aluno disse que os negros não poderiam entrar na UFSC "de cabeça erguida tirando menos da metade da nota daquelas pessoas que ficaram de fora por causa das cotas".
Na UFSC, mais de 50 mandados de segurança foram concedidos pela Justiça a estudantes ou entidades contra o sistema.

Ontem, o subsecretário de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria da Igualdade Racial, Alexandro Reis, minimizou o fato. "As idéias de recrudescimento do ódio racial, perda de qualidade da educação superior e demais efeitos negativos previstos pelos opositores do sistema não aconteceram."
O secretário de Ensino Superior do Ministério da Educação, Ronaldo Mota, afirmou que não comentaria o fato.

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