Pelo menos 50 agentes e delegados da Polícia Civil do Distrito Federal estão indiciados e prestes a serem expulsos da corporação e presos por crimes variados, que vão da extorsão ao narcotráfico. Eles são lotados em delegacias diferentes e acusados de praticar os delitos separadamente. Mas, ao saberem das punições administrativas, teriam se unido para se vingar dos policiais que os investigaram. Um plano para executar dois delegados da Corregedoria foi descoberto pelo Serviço de Inteligência da instituição, que ontem decidiu dar proteção especial às pessoas sob ameaça e familiares.
O envolvimento de policiais com uma série de crimes é investigado desde agosto do ano passado. “Desde então, mais de 500 telefones foram grampeados com autorização judicial. Por meio deles, descobrimos, no começo de janeiro, o plano para executar os delegados da Corregedoria”, contou o diretor da Divisão de Comunicação (Divicom) da Polícia Civil, delegado Miguel Lucena. “Essa reação desses policiais que viraram bandidos se deve ao investimento tecnológico e de pessoal, além do trabalho exemplar da nossa Corregedoria, que vem incomodando muita gente”, acrescentou.
A Corregedoria da Polícia Civil começou a contar, desde o ano passado, com aparelhos próprios de escuta telefônica, mais avançados do que os do Departamento de Atividades Especiais (Depate) da corporação, que tem o Guardião, mesmo equipamento de interceptações usado pela Polícia Federal. As conversas criminosas dos delegados e agentes do DF foram gravadas pela Corregedoria e o Depate. De acordo com Lucena, o departamento flagrou os policiais em meio a investigações sobre a atuação de organizações criminosas do DF e outras regiões, que agem em todos os âmbitos da capital, do submundo do tráfico de drogas aos esquemas de propinas dos gabinetes.
As informações obtidas pela Corregedoria e pelo Depate viraram processos administrativos e inquéritos policiais, que devem resultar nas prisões e expulsões dos policiais. “Aguardamos apenas os mandados judiciais para efetuar essas prisões. Elas podem se concretizar antes do carnaval (que começa sábado)”, adiantou o diretor da Divicom. Para evitar fugas e garantir a execução dos mandados, todos os policiais civis vão ser convocados a trabalhar durante o carnaval. Toda a direção da instituição está de plantão desde ontem, assim como os agentes do Depate, para cumprir as missões que devem resultar nas prisões e dar proteção aos delegados ameaçados de morte.
Crianças e adolescentes
Entre as ligações feitas pelos policiais investigados, uma é de ameaça direta aos diretores da Polícia Civil, de acordo com Lucena. “A direção já foi longe demais. Temos que dar um basta nisso”, disse um dos delegados indiciados, na conversa gravada. Um deles responde por quebra ilegal de sigilos telefônicos. Ele teria conseguido os números dos filhos menores de idade dos delegados da Corregedoria e grampeado os aparelhos, sem autorização da Justiça. As crianças e os adolescentes receberam ligações com ameaças de morte aos pais. Delegados planejavam matar um dos colegas que os investigou e jogar o corpo em frente ao prédio da Corregedoria, no Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). “Eles queriam desmoralizar a direção e mandar um recado a todos”, comentou Miguel Lucena.
Apesar das ameaças, o diretor da Divicom garante que a direção da Polícia Civil não vai recuar. “Sempre primamos por ser uma polícia cidadã. Uma pequena parcela de maus policiais não vai estragar essa nossa imagem. Lugar de bandido é na cadeia e não na polícia”, afirmou. Ele fez questão de ressaltar que os investigadores não detectaram um grupo criminoso organizado na instituição. “O que houve é o contrário. Uma parcela mínima foi atraída pelo crime organizado. Vamos colocar logo essas pessoas para fora. Vamos limpar a Polícia Civil do Distrito Federal”, garantiu.
A direção da Polícia Civil não divulgou nomes nem os locais onde estão lotados os agentes e delegados indiciados. Mas descobriu, por meio das escutas legais, que alguns estão recorrendo a padrinhos políticos para evitar as punições. Os 5 mil policiais civis do DF são os mais bem pagos e aparelhados do Brasil. Um agente ganha R$ 7 mil em início de carreira, enquanto um delegado recebe, em média, R$ 15 mil por mês. Os valores aumentam com o tempo de serviço e se o policial assumir cargo de chefia.
Uma parcela mínima (de policiais) foi atraída pelo crime organizado. Vamos colocar logo essas pessoas para fora, limpar a Polícia
Miguel Lucena, diretor da Divisão de Comunicação da Polícia Civil
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