Uma notícia importante


No meio das intrigas e picuinhas da política brasileira, às vezes deparamos com uma notícia realmente relevante. Uma delas ocupou as páginas dos jornais de ontem. Tratava do relatório do Unicef sobre mortalidade infantil no mundo. O órgão das Nações Unidas mostrou uma impressionante redução nos óbitos de crianças com até cinco anos de idade aqui no Brasil. Em 1990, de cada mil crianças nascidas no país, 57 morriam antes de completar o quinto ano de vida. Em 2006, a taxa de mortalidade caiu para 20 entre cada mil crianças. É um progresso enorme. Cada número desses significa milhares de vidas poupadas.

Um fato importante do relatório do Unicef é cobrir um intervalo de 16 anos. Nesse período, o Brasil teve quatro presidentes: Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. A redução da mortalidade infantil não é mérito de um governo iluminado. É uma conquista da sociedade brasileira. Aos poucos, estamos construindo um país melhor.

É verdade que muitas vezes parece difícil enxergar isso. O noticiário do dia-a-dia não nos permite esse distanciamento. Continuamos pautados pelas denúncias de corrupção. Há sempre um senador ou suplente encrencado com alguma coisa. Os governos continuam a gastar mal boa parte do seu dinheiro. Os políticos colocam muitas vezes interesses pessoais acima das questões do país. Tudo isso é verdade. O que o olhar distanciado e imparcial de um relatório como o do Unicef nos mostra é que todos esses problemas não passam de percalços em um caminho que, no geral, é muito positivo. Mesmo que às vezes nosso cinismo de classe média nos impeça de admitir.

Os dados da mortalidade se somam a outros, divulgados ao longo dos últimos meses, que comprovam essa melhoria do país. No final do ano passado, a Fundação Getúlio Vargas divulgou um estudo mostrando que pela primeira vez a faixa de brasileiros miseráveis ficou abaixo dos 20% da população. O Brasil cumpriu em 12 anos o compromisso assumido nas Metas do Milênio da ONU de reduzir a miséria pela metade. O prazo estabelecido para cumprir a meta era de 25 anos. O estudo tinha o significativo título de “O Real do Lula” e mostrava que os dois mandatos de Fernando Henrique e o primeiro do petista enquadravam-se no mesmo processo histórico de redução das desigualdades sociais.

É claro que os nossos políticos reagiram mal à boa notícia. Os tucanos berraram que o estudo provava que Lula apenas copiara seus programas. Os petistas esgrimiram com números que mostravam um ritmo maior de diminuição da miséria na gestão de Lula que na de FHC, como se governar fosse uma espécie de gincana. Mas esses são os nossos políticos. O importante é que o país melhora. Às vezes apesar deles. Em outras, por causa deles.

O relatório divulgado ontem pelo Unicef traz outras boas notícias. A proporção de crianças desnutridas caiu de 12,7% em 2000 para 3,5% em 2006. É uma melhoria de 72% em seis anos. Algo para o país se orgulhar. Mas mostra que ainda há muito a fazer. A mortalidade infantil permanece muito mais alta entre indígenas e negros. Os índices também continuam desiguais entre as regiões brasileiras. No Nordeste, a mortalidade é mais que o dobro do Sul. E a mortalidade materna aumentou, em vez de diminuir.

Relatórios como esse do Unicef ou o estudo da Fundação Getúlio Vargas divulgado no ano passado ajudam a entender qual a agenda real que a população brasileira espera dos seus políticos ou dos seus governos. Lula venceu em 2002 e 2006 porque soube entender esse fenômeno. Mais que isso, conseguiu encarná-lo, com seu discurso popular e a imagem de presidente operário. Nas eleições de 2010 ele não estará no cenário. Ainda é cedo para saber quem serão os candidatos. Mas já dá para saber quais serão os elementos principais na decisão do voto da maioria dos brasileiros: a estabilidade da economia e as políticas sociais. Não deveria ser novidade. Foram os mesmos elementos que elegeram duas vezes Fernando Henrique e Lula.

Outra notícia
No clima de “vamos conversar mais” da reunião ministerial de ontem, Reinhold Stephanes, da Agricultura, conseguiu marcar uma audiência com o colega da Fazenda, Guido Mantega. O encontro vinha sendo protelado há uns dez dias e a pauta será a negociação das dívidas do setor rural. Não se falou explicitamente no assunto ontem, mas toda a conversa de ouvir as bancadas e atender os pedidos do Congresso pode ajudar a amolecer a equipe econômica. Afinal, poucos partidos têm mais parlamentares que a bancada ruralista. “Se o setor vai bem, o governo conta com a bancada”, raciocina Stephanes.

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