A culpa (não) é do FMI


Jornal Diário Popular , domingo 21 de maio de 2000

Compare você mesmo os dados do próprio governo, para tirar suas conclusões. De 1996 a junho de 1998, o governo FHC despejou R$ 21 bilhões, uma cifra fantástica, em obras de ampliação dos serviços telefônicos — apesar de já estar preparando a venda das empresas de telefonia, dentro da política de privatização. O que essa cifra representa? Antes de mais nada, ela corresponde ao triplo dos cortes de R$ 7 bilhões no Orçamento deste ano, anunciado na semana passada pelo governo FHC. Isto é, menos dinheiro para reduzir a morte de crianças, consertar rodovias assassinas, fazer a reforma agrária, dar escola aos jovens, reaparelhar os hospitais, distribuir remédios, aparelhar a Polícia Federal para combater o contrabando, a ‘‘lavagem de dinheiro’’, o narcotráfico que espalha o terror, a violência e a morte entre milhões de famílias humildes e bairros pobres das capitais. Em resumo, como você deve ter deduzido, o governo FHC aumentou o ‘‘arrocho’’ que está desmantelando o País, destruindo os serviços públicos vitais que deveriam atender o povão, ou mesmo que ajudariam o governo a arrecadar mais (caso da Polícia Federal) e, assim, reduzir o próprio ‘‘arrocho’’ e suas terríveis consequências. Ou, mais diretamente: o governo FHC aumentou o ‘‘arrocho’’ responsável pela desgraçada situação do povo brasileiro, e que está levando o País para uma explosão social, como ficou claramente indicado com pelas crescentes manifestações populares das últimas semanas. Aqueles R$ 21 bilhões são, ainda, mais de dez vezes os R$ 2 bilhões, em média, que o governo FHC permitiu que a Petrobras gastasse para comprar equipamentos destinados a perfurar poços em áreas onde ela já havia descoberto petróleo, isto é, para permitir o começo da produção de milhares de barris de petróleo por dia — e economizar dólares nas importações. Ou, ainda, aqueles R$ 21 bilhões representam 20 vezes a quantia de R$ 1 bilhão liberada no ano passado para a reforma agrária.

No mesmo período, o governo FHC continuou a despejar dinheiro no famoso rombo do Nacional, que chegou a nada menos de R$ 15 bilhões. Da mesma forma que, somente no ano passado, o Banco Central teve um prejuízo de R$ 13 bilhões com suas operações para socorrer o mercado financeiro. A lista dos ‘‘estranhos’’ gastos bilionários feitos pelo governo FHC é longuíssima. Mas, para facilitar o raciocínio, vamos ficar por aqui mesmo, e prestar atenção somente nos gastos com o sistema telefônico, às portas da privatização, e compará-los com os cortes no Orçamento. O governo diz que o ‘‘arrocho’’, o corte nos gastos, é exigido pelo Fundo Monetário Internacional. Os exemplos acima mostram que essa é outra deslavada mentira do governo FHC: ele é o responsável pela desgraceira nacional, pois é ele quem decide onde vai gastar mais e onde vai cortar gastos. O presidente FHC e sua equipe têm preferido gastar mais com telefones, com empresas a serem ‘‘doadas’’ e cortar em tudo que a população precisa. FMI não tem culpa, como se verá detalhadamente amanhã.

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