Após levantar R$ 2 bilhões com o Rodoanel, ogovernador está prestes a vender a Cesp por R$ 6,6 bilhões. O que fará com o dinheiro?


O GOVERNADOR JOSÉ Serra fechou a semana passada comemorando dois avanços em sua agenda política. O primeiro aconteceu na segunda-feira 10, com o início formal do processo de privatização da Cesp, a principal geradora de energia de São Paulo. Cinco interessados apresentaram a documentação necessária para disputar o controle da companhia que vai a leilão no dia 26 pelo preço mínimo de R$ 6,6 bilhões.

Um dia depois, nova vitória. Os 32 quilômetros do trecho Oeste do Rodoanel passaram às mãos da iniciativa privada em um leilão vencido pelo Consórcio Integração Oeste, encabeçado pela CCR – Companhia de Concessões Rodoviárias. A proposta estabeleceu um deságio de 61% no teto de R$ 3, fixando a tarifa em R$ 1,17 em 13 praças nas saídas para as rodovias, além de R$ 2 bilhões pela outorga a ser paga ao Estado em dois anos. Com as operações, o governador José Serra deu prosseguimento ao seu objetivo de privatizar 18 empresas de serviços públicos e, em apenas uma semana, gerou quase R$ 10 bilhões de receita extra ao governo. Um caixa que deverá ser usado em novas obras para tentar viabilizar a candidatura de Serra à Presidência da República em 2010. Até porque, nos primeiros 15 meses de mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes, ele ainda não deixou uma marca.

R$ 8,6 BILHÕES NO CAIXA em uma semana, governador garante recursos livres que devem pavimentar o caminho de sua candidatura à Presidência em 2010

O ímpeto privatista de Serra tem razões mais práticas do que ideológicas. “Ninguém esperava que ele fosse dar continuidade às privatizações dos governos de Mario Covas e Geraldo Alckmin em função do seu passado de esquerda”, avalia o cientista político Roberto Romano.

Mas o governador não só surpreendeu como bateu o pé diante da pressão do governo federal e de alguns governadores, como o mineiro Aécio Neves e o paranaense Roberto Requião, que pretendiam incluir estatais no leilão. A presença de empresas como Eletrobrás, Cemig e Copel aumentaria a disputa e poderia elevar o preço mínimo de R$ 6,6 bilhões, gerando caixa ainda mais robusto ao governo de São Paulo. Mas Serra rechaçou a idéia de uma privatização pela metade.

Sem as estatais, restaram na disputa a franco-belga Suez/Tractebel, a brasileira-espanhola Neoenergia/ Iberdrola, a brasileira CPFL, a portuguesa EDP e a americana Alcoa, além da certeza de que o ágio sobre o preço mínimo deve diminuir. O pagamento pela estatal será aplicado em transporte e saneamento básico. Já o modelo do leilão do Rodoanel agradou a Serra.

A outorga de R$ 2 bilhões ajudará o governador a acelerar as obras da construção do trecho Sul do Rodoanel. “Tendo dinheiro, podemos pressionar a empresa sem comprometer a segurança”, disse o governador, que projeta o término da obra para 2010.

A concessão do Rodoanel e a venda da Cesp não poderiam vir em melhor hora para o governador. Os R$ 10 bilhões extras reforçaram o caixa de investimento do governo, que hoje praticamente não existe. “É uma oportunidade rara de dinheiro livre para que Serra gaste onde quiser”, afirma o professor da Unicamp e cientista político Valeriano Costa.

“Como notório candidato ao Planalto, ele não perderá a chance de mostrar serviço aos eleitores”, diz o cientista político Roberto Romano. Por isso, ainda há expectativas sobre possíveis privatizações da Dersa, CPTU, CDHU e Sabesp, além de muita publicidade sobre obras a serem realizadas nos próximos anos.

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