Este ano, como naquela marchinha de carnaval, está combinado: o PSDB e o Partido Democratas começam a brincar separados. O marco é a disputa pela prefeitura de São Paulo, onde tudo indica que o atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM), concorrerá à reeleição, batendo chapa com o tucano Geraldo Alckmin.
Mas não é só no campo da oposição que velhos casais ensaiam passos separados no baile eleitoral. O PCdoB já anuncia aos quatro cantos candidaturas próprias para 400 prefeituras, incluindo mais de uma dezena de capitais onde dará adeus à velha aliança com o PT.
Como já disse o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), nada disso está sendo feito gratuitamente. As eleições municipais deste ano ensaiam um movimento maior de separação, no âmbito nacional, que deve se refletir na campanha presidencial de 2010. Há, de fato, uma forte tendência a que o PSDB e o DEM estejam realmente separados em 2010. O mesmo tende a ocorrer entre o PT e o PCdoB. Os comunistas passaram praticamente todo o período do governo Lula preparando este rompimento definitivo. E falavam abertamente no apoio a Ciro Gomes (PSB) para presidente, num projeto de aliança PCdoB-PSB-PDT capaz de tirar o sono dos caciques petistas.
Vinha tudo muito bem, ou muito mal, entre os dois casais. PSDB e DEM às turras de um lado e PCdoB e PT aos tapas de outro. Até que o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, resolveu se mexer contra o prato feito oferecido pelos tucanos de São Paulo ao PSDB de todo o país, segundo o qual o governador José Serra já seria o nome indicado pelo partido para candidato a presidente da República. Protegido pelo silêncio da montanhas mineiras, Aécio, que almeja a vaga, tem marcado conversas seguidas com quem quer que possa lhe oferecer um caminho alternativo. E encontrou em Ciro Gomes um interlocutor de primeira linha. Os dois já discutiram o tema eleitoral por diversas vezes. E têm deixado aberta a possibilidade de marcharem juntos em 2010.
Ontem ouvi claramente de um ministro do governo Lula e de um aliado do PSB que a avaliação corrente no meio político é que Ciro está jogando para ser vice em 2010. E que sua opção preferencial é ser vice de Aécio Neves. O mineiro, por sua vez, também tem dito a vários tucanos que, se for ungido candidato pelo partido, tem todas as condições de trazer Ciro para sua chapa. E tem mesmo!
Mais. Trazer Ciro significa, de uma forma ou de outra, trazer uma parcela dos aliados do presidente Lula. O ministro com quem falei, por exemplo, suspeita até que o próprio presidente ficaria feliz em apoiar a chapa Aécio-Ciro. Daí Lula ter deixado sempre clara sua simpatia por Aécio. Porque Lula sabe que a chapa do mineiro com seu ex-ministro cairia como uma bomba sobre os tucanos de São Paulo.
Mas a tal chapa não incomodaria apenas o PSDB. Também deixaria o PCdoB em apuros, com seus planos de se livrar do PT. Órfão da candidatura Ciro, não restaria ao PCdoB outra alternativa que não fosse a de retornar aos braços da velha aliança com os petistas.
A interpretação deste ministro é de que Ciro Gomes habita os pensamentos do presidente Lula, quando ele fala em aproximação com parcelas do PSDB. E que é este mesmo Ciro quem está por trás das articulações de Aécio Neves, quando ele classifica sua eventual candidatura como uma opção de governo pós-Lula, e não contra Lula.
Do ponto de vista das articulações de bastidores, tal chapa e os temores do ministro fazem todo sentido. Do ponto de vista da política partidária, ela pode se tornar um grande estorvo. Ciro não é um nome afeito a partidos. Transitou do PFL ao PPS até se alojar no PSB. Aécio, embora seja um tucano de primeira hora, sempre deixou no ar uma certa possibilidade de transferir-se para o PMDB, caso tenha sua candidatura presidencial negada pelos tucanos. Uma aliança dos dois para apenas concorrer à presidência da República, neste caso, acabaria simbolizando uma verdadeira afronta à estrutura partidária.
De fato, há momentos na política em que os partidos atrapalham alguns dos seus principais protagonistas. O presidente Lula e seu PT, por exemplo, já não são tão unidos quanto no passado. O PSDB e Aécio vivem um momento de incertezas em sua relação. E quanto a Ciro, seu partido, o PSB, e os aliados PCdoB e PDT, estes nunca acreditaram muito nas juras de amor eterno do candidato.
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