Ninguém quis apostar na solução política para as hidrelétricas da Companhia Energética de São Paulo (Cesp) e o leilão da estatal, que chegou a atrair o interesse de 12 empresas e estava marcado para hoje, foi cancelado. Nenhum dos cinco candidatos que ainda estavam credenciados depositou as garantias financeiras de R$ 1,7 bilhão para se manter na disputa. Sem leilão, as ações da Cesp despencaram 21,09%.
O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), evitou polemizar sobre a renovação da concessão de duas importantes hidrelétricas da Cesp, Ilha Solteira e Jupiá, que representam 66% da capacidade de geração de energia da estatal, mas cujas concessões vencem em 2015. Como ambas já tiveram concessão renovada, pela lei precisarão ser novamente leiloadas em sete anos. Ou seja, um eventual vencedor do leilão poderia, em 2015, ficar sem dois dos principais ativos da Cesp.
Serra preferiu ver no fracasso de ontem um reflexo da crise financeira dos Estados Unidos. “Várias instituições financeiras internacionais importantes me disseram que estão tendo dificuldades para mobilizar grandes massas de recursos neste momento. Não porque o Brasil não seja um bom negócio, mas porque a crise nos Estados Unidos e na Europa implica repatriar capital para agüentar prejuízos e isso tira recursos de financiamentos”, avaliou.
Para especialistas no setor e alguns interessados na compra, no entanto, a indefinição sobre as concessões foi crucial. “São ativos de peso no parque gerador da companhia e representam 65% da capacidade. A dimensão desse risco não criava condições de apresentarmos proposta nesta fase”, disse o vice-presidente de Comercialização, Energias Renováveis e Novos Negócios da Energias do Brasil, Miguel Setas.
“Não dá para pagar o preço da Cesp correndo o risco de a concessão não ser renovada. O preço mínimo é incompatível com a não-renovabilidade da concessão. Quem comprar tem de apostar que em 2015, no governo do sucessor do Lula, ele conseguirá a renovação”, disse o presidente da Light — que já anunciara desistência —José Luiz Alquéres.
O governo paulista queria R$ 6,6 bilhões pelos 93,68% das ações com direito a voto da Cesp. As empresas, como é costume em vésperas de leilões, reclamavam do preço. O negócio todo poderia alcançar mais de R$ 22 bilhões — o vencedor ainda precisaria fazer uma oferta aos sócios minoritários, que poderia chegar a quase R$ 10 bilhões, além de outros R$ 6 bilhões em dívidas. Isso com risco de ficar sem dois terços da geração em sete anos. “O governo estipulou um piso. As pessoas queriam um valor menor, mas nós não vendemos na bacia das almas”, insistiu José Serra.
O governo federal até se mostrou favorável a uma solução que permitisse a renovação das concessões que vencem nos próximos anos. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo tentará encontrar brechas na legislação para garantir a renovação das concessões. Ontem, reconheceu que ainda não foi possível, mas que esse deve ser um processo demorado. “É uma decisão do próximo governo e sobretudo do Congresso Nacional. Uma legislação dessa natureza depende de uma longa tramitação”, afirmou.
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