R$ 63 MILHÕES PASSARAM POR CONTAS DO CRIME EM 20 MESES


O último relatório consolidado pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) revela que, de novembro de 2005 a julho de 2007, 686 contas bancárias pertencentes a 748 pessoas e empresas ligadas direta ou indiretamente à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) movimentaram R$ 63 milhões. Para chegar às contas, o Coaf pesquisou 2.607 nomes identificados pelo conselho em cruzamentos de dados ou fornecidos pelas autoridades policiais que trabalham no combate ao crime organizado em São Paulo. Um grupo composto por 252 nomes suspeitos ainda está sob checagem.

A ampliação das operações e das contas rastreadas confirmou o perfil identificado em trabalhos anteriores. De acordo com os dados do Coaf, em 20% das contas as movimentações registradas são superiores a R$ 100 mil. No restante dos casos, os saques e depósitos foram pulverizados.

Grande parte das operações está centrada em cerca de 50 contas movimentadas por integrantes do alto comando do PCC. Há maior incidência de depósitos originários da capital paulista e de cidades do interior do Estado com grandes penitenciárias. O cruzamento das informações com dados fiscais e patrimoniais dos titulares das contas revelou também que grande parte dos envolvidos na movimentação financeira tinha CPFs cancelados ou suspensos pela Receita Federal e não apresentava capacidade econômica que justificasse o volume de dinheiro manejado.

Esses dados do Coaf sobre o PCC fazem parte de um levantamento consolidado sobre as atividades do conselho, que será divulgado hoje e faz parte das comemorações dos dez anos da instituição e da legislação, que integram a estrutura de combate à lavagem de dinheiro.

CEARÁ E MINAS

Os valores apurados sobre o PCC somam saques, depósitos e transferências. Ou seja, são cumulativos: se uma pessoa movimentou R$ 100 mil, repassados para outras duas, que fizeram outras negociações, o montante é contabilizado duas ou mais vezes. Mas oferecem uma dimensão do poder financeiro da facção criminosa.

A evolução dos rastreamentos também revela que a facção ensaiava estender tentáculos financeiros por mais dois Estados, Ceará e Minas, além dos já identificados em pesquisas anteriores. Apesar das movimentações se concentrarem em São Paulo, há ramificações financeiras em Bahia, Rio, Maranhão, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Pará (onde foram localizadas três contas em nome de empresas ligadas ao comando com movimentações individuais na casa de R$ 10 milhões).

E o volume de dinheiro movimentado pelo PCC pode ser muito maior, porque a facção usa também dinheiro vivo e caixa 2. O rastreamento do Coaf se limitou a operações bancárias, que tinham um perfil específico: o dinheiro originário de contas menores, muitas vezes em nome de laranjas, parentes e mulheres de integrantes do esquema, desaguava em pouco mais de uma centena de contas com movimentação mais graúda, funcionando cada uma como uma “conta-matriz”. O fluxo de dinheiro também apontou indícios de que a facção mantém estreita relação com empresários ligados ao transporte coletivo alternativo paulistano - o que inclui, por exemplo, perueiros.

As autoridades paulistas enviam rotineiramente nomes e dados ao Coaf para novas checagens. O objetivo é identificar e cortar as fontes de financiamento do crime organizado. A cooperação com o Coaf começou quando a Polícia Civil de São Paulo entregou ao conselho um CD apreendido que continha dados sobre 412 contas utilizadas pela facção. A Secretaria de Segurança Pública também remeteu ao Coaf um relatório com 110 nomes de integrantes da organização. O conselho, por sua vez, já tinha em seus arquivos movimentações relacionadas a aproximadamente cem pessoas ligadas ao esquema.

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