Ninguém espera por novidades na reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) desta semana. O colegiado do Banco Central (BC) deve apenas confirmar as expectativas e manter a Selic estável em 11,25% ao ano pela quarta reunião consecutiva. Dólar declinante e inflação corrente em desaceleração, na opinião dos economistas, não são suficientes para desviar o foco do BC de sua principal preocupação, a atividade superaquecida.
"É claro que o dólar ajuda a controlar a inflação, mas se a atividade se mantiver forte com a demanda interna em expansão, o BC manterá a coerência e a Selic ficará estável nas próximas reuniões", avalia José Francisco Gonçalves, economista-chefe do banco Fator. "A manutenção da Selic é um desdobramento natural do diagnóstico feito pelo Copom em outubro passado, quando afirmou ser necessário esperar que os efeitos acumulados da queda na Selic fossem sentidos", diz Gonçalves.
No campo inflacionário, desde a reunião do Copom de janeiro houve melhora nos índices, com o preço dos alimentos cedendo. O IPCA de janeiro surpreendeu positivamente e os dados semanais mostram recuo nos índices também em fevereiro. A queda da inflação foi o que fez o economista-chefe do Santander, Mauricio Molan, alterar sua previsão para o encontro desta semana.
"Antes, eu via probabilidade de uma alta na Selic agora em março, mas a inflação surpreendeu positivamente e o Copom tem espaço para manter a taxa básica inalterada", explica Molan. Em relação à trajetória esperada para a Selic ao longo do ano, o economista ainda vê riscos de retorno das pressões inflacionárias. "O forte crescimento econômico pode provocar uma generalização da alta nos preços mais à frente, o que pode forçar o BC a elevar o juro", diz Molan. "Uma desaceleração é fundamental para o retorno dos cortes no juro. Caso isso não ocorra, acredito que a Selic possa subir a até 12,25% neste ano."
Gonçalves, do banco Fator, está mais otimista e vê possibilidade de que o ciclo de afrouxamento da política monetária seja retomado neste ano. "A partir de abril, acredito que a capacidade da oferta irá melhorar e, com um câmbio que não preocupa, o Copom pode voltar a pensar em cortes no juro", diz Gonçalves. "É mais provável que a Selic volte a ser reduzida a partir do último trimestre do ano."
O dólar comercial inicia a semana negociado a R$ 1,692, após recuar 4,37% no mês de fevereiro. Na última sexta, com a piora no ambiente externo, o dólar subiu 1,32%. As bolsas de valores fecharam em baixa. A Bovespa recuou 3,15%, a 63.489 pontos. O índice Dow Jones teve baixa de 2,51%, Standard & Poor""s 500 caiu 2,71% e o Nasdaq retrocedeu 2,58%. Alguns indicadores colaboraram para a sexta-feira nervosa.
Um índice de atividade no Meio-Oeste dos Estados Unidos registrou o pior nível em mais de seis anos. Outra pesquisa mostrou a confiança do consumidor no menor patamar desde 1992. Resultados trimestrais ruins do grupo AIG levou as ações da empresa a caírem após a maior seguradora do mundo reportar um prejuízo de US$ 5,3 bilhões com as perdas relacionadas às baixas contábeis com o setor imobiliário. Para completar o clima ruim, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, afirmou que o Fed pode ajustar as taxas de juros mais acentuadamente do que o usual em tempos de tensão, mas deve deixar claro que pode elevar os juros novamente assim que a situação se estabilizar. Também na sexta, o Fed anunciou que fará em março dois leilões no valor total de US$ 60 bilhões, mantendo suas injeções de liquidez nos mercados financeiros iniciadas em dezembro passado.
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