Torpedos da discórdia


Torpedos apócrifos enviados aos distritais criaram um clima de suspeição na Câmara Legislativa. A pedido do deputado Chico Leite (PT), o presidente da Casa, Alírio Neto (PPS), determinou à Polícia Legislativa a abertura de investigação para apurar se são verdadeiras e quem é o autor de denúncias, feitas por meio de mensagens por celular desde a semana passada, que dão conta de uma suposta negociação envolvendo dinheiro — R$ 4 milhões — para a aprovação de um projeto de lei complementar que altera destinação de terras no Distrito Federal.

O denunciante diz que tem provas e gravações que comprovariam a negociata. Promete encaminhar o material ao Ministério Público e à Polícia Federal (PF), mas não quer aparecer. “A corrupção está descarada na CLDF”, diz o texto. Nas mensagens encaminhadas a vários deputados, o autor das acusações diz que a compra de votos envolveu matéria relacionada a mudanças de destinação de áreas e desapropriações de terras que beneficiariam empresários do ramo imobiliário na cidade. Aponta o envolvimento de parlamentares, mas não apresenta provas de nenhuma das afirmações.

Mesmo assim, a história incomodou deputados distritais. O episódio começou na quinta-feira passada. Chico Leite ficou preocupado com os torpedos e tentou retornar a ligação para o número registrado no celular. Queria obter mais detalhes. A pessoa, então, respondeu por meio de mensagens que não falaria para não ter a voz identificada. O distrital do PT procurou Alírio que decidiu tomar providências. Ele e outros parlamentares da base governista, como Milton Barbosa (PSDB) e Cristiano Araújo (PTB), também foram alvo dos torpedos.

Na sessão de ontem, vários deputados confirmaram que também receberam a correspondência sobre o mesmo assunto pelo telefone. Mas os textos são diferentes. O deputado José Antonio Reguffe (PDT), um dos destinatários das mensagens, foi à tribuna ontem para pedir uma investigação da Polícia Federal (PF). Defendeu uma apuração rigorosa. “Acho que a PF tem mais isenção para apurar o caso”, afirma o pedetista. “Não me interessa saber quem é o denunciante, mas temos de descobrir se as acusações são verdadeiras”, acrescenta.

Dúvidas
Em ofício encaminhado à Coordenadoria de Polícia Legislativa, Chico Leite até mesmo coloca à disposição seus sigilos bancário, fiscal e telefônico para que não pairem dúvidas a respeito de seu nome. O primeiro passo na apuração será tentar localizar o autor das mensagens para convidá-lo para um depoimento, mas parlamentares não acreditam que será possível encontrá-lo. A aposta é de que a pessoa usou número de CPF falso para comprar as duas linhas usadas para enviar os torpedos ou até mesmo um celular roubado. “Se o denunciante não quer ser identificado, seria muita incoerência usar um celular em seu próprio nome”, avalia um distrital.

Para quebrar o sigilo telefônico do autor dos torpedos, a Câmara Legislativa terá de conseguir autorização judicial. Uma coisa é certa: as mensagens partiram de alguém que conhece os números dos telefones celulares usados diretamente pelos deputados distritais. Por isso, suspeita-se de que seja alguém com relação próxima com a Casa. Outra aposta é de que seja alguém com interesse no mercado imobiliário que conheça profundamente as operações com repercussão nesse setor. Com o clima de caça às bruxas, o mensageiro pode virar alvo de uma ação por injúria, calúnia e difamação.

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