A falta de mão-de-obra qualificada constitui um gargalo para vários setores econômicos do País. Esta limitação na formações dos profissionais também restringe a condição das empresas de compensar a escassez de pessoal com aumento de produtividade. "O investimento em capital humano é o que tem o grau de maturação mais longo e não se resolve com a aplicação de recursos maciços", segundo Fernando Blumenschein, consultor da FGV Projetos, unidade multidisciplinar da Fundação Getulio Vargas (FGV) voltada ao desenvolvimento de projetos de consultoria e treinamento para empresas públicas e privadas.
"Todas as empresas que precisam de mão-de-obra especializada estão sentindo esse gargalo", comenta Blumenschein. Na avaliação do consultor da FGV Projetos o canal de transmissão desta restrição é o aumento do custo de mão-de-obra, fator que diminui a rentabilidade dos investimentos e o crescimento à medida em que a melhora do nível de produtividade não pode ser utilizada como alternativa para compensar essa deficiência. "Os ganhos de produtividade também ficam limitados porque para assumir novas funções as equipes, da mesma forma, precisam ser treinadas.
Este quadro deve-se a um conjunto de fatores, na opinião de Blumenschein. Nos últimos anos os investimentos no Brasil ficaram abaixo da média mundial. As empresas reduziram os gastos com treinamento de seus funcionários. Este processo ocorreu nas famílias que cortaram despesas com aperfeiçoamento e na área de educação básica, que recebeu poucos recursos governamentais.
De acordo com Blumenschein, o crescimento econômico recente veio acompanhado pela internacionalização da economia, que agravou a demanda por profissionais especializados em áreas específicas. O economista cita como exemplo o setor financeiro. Nos últimos cinco anos, os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro receberam uma carga significativa de investimentos diretos na área financeira. A repercussão da entrada destes recursos em bancos e financeiras refletiu esta limitação quando as instituições começaram a abrir escritórios em outros estados, informa o economista da FGV Projetos. "Este problema não pode ser resolvido no curto prazo", comenta. Vários setores econômicos sentem esta dificuldade, diz Blumenschein.
Os investimentos diretos na economia brasileira registraram crescimento significativo nos últimos anos. De acordo com dados do Banco Central, os investimentos estrangeiros diretos saltaram de US$ 10,14 bilhões em 2003 para US$ 36,81 bilhões no período de 12 meses até março de 2008.
A falta de pessoal decorre de um período em que a sociedade brasileira acreditou que os empregos haviam acabado e pela baixa perspectiva de algumas categorias profissionais. Segundo Clemente Ganz Lucio, diretor do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o longo período recessivo que afetou a economia no final dos anos 1990 e início de 2000 "levou ao desmonte da qualificação em todos os níveis". Este impacto atingiu até mesmo os cursos de engenharia. "Os pais deixaram de incentivar os filhos a seguir a mesma carreira porque achavam que a sua profissão não valia mais a pena porque não havia mercado de trabalho", comenta Lucio.
Para o diretor do Dieese, "as empresas estão suprindo esta deficiência chamando os aposentados". A recuperação de cadastros tem ocorrido em diversos segmentos na tentativa de cobrir a falta de pessoas qualificadas. A indústria da construção civil terá de investir rapidamente na formação de trabalhadores. O setor de serviços, que tem crescido com a melhora da renda, é uma área em que o grau de escolaridade e o treinamento fazem diferença. "As montadoras estão chamando os ferramenteiros de volta", comenta Clemente Lucio. Para a indústria automotiva, que está em ritmo acelerado, um funcionário novo precisa de alguns anos para operar com o mesmo grau de precisão e qualidade que os antigos ferramenteiros.
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