Em um cenário de turbulência internacional, a estabilidade econômica do Brasil vira um oásis para as multinacionais. Nos mais diversos setores, do bancário ao de telecomunicações, os rendimentos no país tingem de azul os pouco animadores balanços contábeis mundo afora. O excelente desempenho das filiais brasileiras se reflete em números pomposos. De janeiro a maio deste ano, empresas estrangeiras enviaram às matrizes US$ 15,8 bilhões, quase o dobro do mesmo período do ano passado. O suficiente para garantir ao Brasil um lugar de destaque no planejamento estratégico de empresas como Coca-Cola Company, Fiat, General Motors (GM), Nokia, Telefónica, Banco Santander e HSBC.
O número de clientes brasileiros da empresa de comunicação espanhola Telefónica supera a quantidade de espanhóis que usam o serviço da empresa na matriz européia. No setor automobilístico, a fábrica da multinacional italiana Fiat em Betim, Minas Gerais, produz 30% de todos os carros vendidos pela marca no mundo. A montadora abocanhou parte dos 248,9 mil carros comercializados no país só em abril, segundo dados da Federação Nacional de Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave). A expressão "investimento no Brasil" tem sido repetida constantemente entre os executivos da marca.
Pesquisa internacional realizada pela KPMG com 300 multinacionais nas 15 principais economias – entre elas o Brasil – mostra que haverá retração de investimentos nos Estados Unidos, Japão, Cingapura e Emirados Árabes. Em contrapartida, os recursos devem migrar para países do Bric – Brasil, Rússia, China e Índia. Só no Brasil, em cinco anos, houve aumento de previsão de investimentos de 10% para 14%.
O País ocupa a oitava posição no ranking dos principais destinos dos investidores corporativos e deve subir para a sexta colocação até 2014, atrás da China, Estados Unidos, Rússia, Índia e Reino Unido.
Por outro lado, prevê-se que a parcela de investimentos nos Estados Unidos recue de 4 pontos percentuais a 23 pontos, o que faria o país ficar atrás da China.
O setor que deve receber o maior nível de investimentos no Brasil no próximo ano é o de mineração, com 17%, seguido por serviços e indústria, ambos com 13%.
De acordo com Marienne Munhoz e Roberto Haddad, sócios da área de tributação internacional da KPMG e responsáveis pela pesquisa, o Brasil é concorrente direto da Rússia e Índia. Outro motivo que qualifica o país é a política democrática, que garante estabilidade, ao contrário da Índia, país culturalmente muito complexo, ressaltam.
"É fato importante, sem dúvida, pois ele está entre as três maiores democracias do mundo", lembra Haddad. E é um item muito observado pelos analistas financeiros do resto do mundo.
Outro ponto destacado pelos pesquisadores é a mudança de perfil dos investidores. O setor de serviços passou de 8% para 16%, serviços financeiros de zero para 8%, os produtos industriais de 13% para 25% e manufaturas de 11% para 20%.
A KPMG critica, entretanto, a falta de uma política específica do governo federal para atrair investimentos externos. O país seria capaz de atrair mais recursos e ultrapassar outros Brics. Executivos de grandes conglomerados instalados no Brasil lembram, ainda, a já recorrente reclamação da infra-estrutura.
Ernane Galvêas, ex-ministro da Fazenda e ex-presidente do Banco Central (BC), prevê que este ano o total de remessas para o exterior chegará a US$ 38 bilhões, em um ritmo cada vez maior. O motivo é simples: o dólar fraco."À medida que o real valoriza frente ao dólar, as empresas multiplicam os lucros, já que faturam em moeda brasileira. Elas então aproveitam para remeter uma quantidade maior de dólares", observa. "Os executivos sabem que o câmbio favorável para eles não continuará por muito tempo nesse patamar. Por isso, a remessa é cada vez maior."
Se a operação no Brasil gera excelentes dividendos para empresas estrangeiras, o envio dos lucros para as matrizes levou o país a amargar um déficit em transações correntes recorde. Só até maio, foi registrado um rombo de US$ 14,7 bilhões.
"Essas remessas maiores se remetem a três aspectos: maior lucratividade das empresas, condições de câmbio apreciado que favorecem as remessas e neces-sidade de cobertura de posições, por conta da volatilidade externa", explicou Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do Banco Central.
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