Há dois meses, um dos generais mais respeitados do país acirrou o debate sobre a reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. O comandante militar da Amazônia, Augusto Heleno, criticou a forma como a área foi demarcada, começando uma espécie de inferno astral do Exército. A má fase inaugurada ali se agravou poucos dias depois, quando dois sargentos da ativa assumiram a homossexualidade e foram presos. E as notícias ruins continuaram. Na semana passada, um cadete da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) morreu por causa de exercícios físicos forçados. E, como mostrou o Correio na segunda-feira, taifeiros de Brasília denunciam humilhações sofridas nas casas de generais. Os soldados, que têm a função de cozinheiros ou copeiros, são forçados a desempenhar outras tarefas, como fazer faxinas e lavar roupas íntimas. Mas foi no sábado passado, como o episódio do Morro da Providência, que a corporação viu sua imagem ser fortemente abalada, depois de passar mais de 20 anos tentando reconstruí-la, após o fim da didatura. Isso, quatro dias depois de uma pesquisa apontar a instituição como a mais confiável do país.
Nos últimos anos, a imagem do Exército esteve ligada à Amazônia, onde é realizado um trabalho de contato direto com a população, que acolhe e é bem acolhida pela corporação. Porém, com o decorrer do tempo, as Forças Armadas são cada vez mais requisitadas para atuar na segurança pública, uma tarefa que, segundo a Constituição, não é sua. A missão dos cerca de 200 homens enviados ao Morro da Providência era garantir a segurança para a realização de obras de revitalização da área. Mas o saldo foi de três mortos. E, pela primeira vez, desde o regime militar, tropas do Exército se confrontaram com civis e tiveram viaturas atacadas por cidadãos enfurecidos.
Imagem
A imagem do Exército atualmente é exemplar. Segundo pesquisa da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB), divulgada na semana passada, a Força conta com 79% de aceitação popular. Isso, no momento em que a instituição é o centro de vários debates, envolvendo temas como a demarcação de terras indígenas e a discriminação a homossexuais. A primeira polêmica começou há dois meses, quando o general Augusto Heleno criticou a demarcação atual da reserva Raposa Serra do Sol. A repercussão causada por suas declarações obrigou Heleno, um ícone dentro da Força, a se calar. A definição sobre o assunto caberá agora ao Supremo Tribunal Federal.
Quando o Exército começava a sair dos noticiários que desgastavam sua imagem, os sargentos Laci de Araújo e Fernando Figueiredo resolveram assumir sua homossexualidade. Ambos foram presos por motivos disciplinares, mas grupos ligados aos direitos humanos acusaram as Forças Armadas de homofobia. Depois, veio a morte do cadete na Aman, a denúncia dos taifeiros e, no sábado, o caso da Providência.
“O Exército, de certo modo, está dando as respostas. Abriu um IPM (Inquérito Policial Militar) e a polícia abriu outro”, avalia o coronel da reserva Geraldo Cavagnari, integrante do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, sobre o mais recente episódio que abalou o país. A morte dos três rapazes no Rio trouxe à tona, novamente, a discussão do uso das Forças Armadas na segurança pública. Na sua avaliação, a imagem do Exército deve sobreviver a esse acontecimento. “O trabalho que estava sendo feito era, além de tudo, uma ação social e, por isso, o fato (as mortes) não irá afetar a imagem do Exército”, analisa.
O trabalho que estava sendo feito era, além de tudo, uma ação social e, por isso, o fato (as mortes) não irá afetar a imagem do Exército Geraldo Cavagnari, coronel da reserva
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