Desde que foi apontada pelo presidente Lula como mais forte candidata à sua sucessão, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, passou a ser alvo de violento tiroteio. É a bola da vez tanto da oposição quanto do fogo amigo petista. Mas, apesar das denúncias e dos ataques políticos, Dilma, até agora, conseguiu manter o foco na sua principal tarefa, que consiste em tocar para a frente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado em 22 de janeiro de 2007. Tudo em seu gabinete gira em torno do ambicioso investimento de R$ 503,9 bilhões em infra-estrutura energética e logística. Ali, são monitoradas as 2.120 ações do PAC, das quais 87%, de acordo com os dados oficiais, estão com ritmo de execução adequado. Mais de R$ 10 bilhões já foram investidos e 88 obras concluídas. Nos partidos de oposição, argumenta-se que o P AC não tem essa importância toda, pois nada mais é do que a consolidação de projetos que já existiam e estavam em andamento. Além disso, mais de um terço dos recursos tem origem no plano de metas da Petrobras. "É dificil na história dos planos econômicos encontrar alguma coisa tão pífia para o crescimento quanto esse PAC", diz o prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (DEM). Dilma faz pouco dos críticos: "Eles deviam viajar pelo País e ver o que está sendo feito. Nunca aconteceu nada parecido. O Brasil transformou-se num grande canteiro de obras". Ela ressalta outro ponto que considera essencial: "Desta vez, haverá continuidade."
Confie-se ou não na "mãe do PAC", uma coisa é certa: grandes obras saíram
do papel e o ritmo dos investimentos públicos e privados é, de fato, impressionante. Um exemplo que salta aos olhos é o andamento acelerado das obras no trecho sul do Rodoanel de São Paulo. O objetivo é retirar da região metropolitana todo o transporte de cargas. Segundo estimativas do Dersa, com a conclusão do trecho, haverá uma redução de 43% no movimento de caminhões na Marginal % Pinheiros. Em números absolutos, serão 250 mil veículos a menos por dia. "A obra não pode parar porque teremos grandes problemas no trânsito da capital. A inauguração está marcada para o dia 27 de março de 2010", afirma o diretor de engenharia do Dersa, Paulo Vieira de Souza. Cerca de sete mil operários trabalham na rodovia de 61,4 quilômetros, que ligará o trecho oeste do Rodoanel ao ABC paulista. O investimento previsto é de R$ 3,6 bilhões, divididos em R$ 1,2 bilhão da União e R$ 2,4 bilhões do Estado. Em apenas 11 meses de trabalho, 30% estão concluídos. E é possível identificar a construção de 117 obras de arte, como pontes e viadutos. O governador José Serra acompanha o projeto com interesse redobrado. Pretende inaugurar o trecho sul antes do período eleitoral em 2010 e usá-lo como trunfo para sua campanha à Presidência da República. Serra tem cobrado agilidade às empreiteiras.
Outra obra do PAC que chama a atenção - e costuma ser citada com carinho
por Dilma - é o Canal do Sertão Alagoano. Trata-se da construção de um canal de 97,5 quilômetros com captação da água do rio São Francisco para abastecimento humano e animal, agricultura irrigada e piscicultura, entre outros usos. O objetivo é melhorar o nível de vida da população de 42 municípios beneficiados. O investimento total é de R$ 593 milhões e a conclusão da obra está prevista para dezembro de 2010. O projeto começará em Delmiro Gouvêa e se estenderá até o município de Arapiraca. Segundo o Ministério da Integração Nacional, 70% da terraplanagem foi concluída e 16 quilômetros de canal receberam o revestimento de concreto. O canal do Sertão é um dos projetos mais antigos de Alagoas. Em 1972, o senador Luiz Cavalcante, da Arena, já falava sobre a viabilidade da construção de um canal irrigatório, no sertão de Alagoas, com as águas do Velho Chico. Passou pelas mãos de cinco governadores, mas avançou pouquíssimos quilômetros. Agora, graças ao PAC, a obra vai garantir água tratada para mais de 1,2 milhão de pessoas. "É como a antiga profecia que falava do sertão que vai virar mar", comemora o senador Renan Calheiros (PMDB-AL).
A construção das duas eclusas da usina hidrelétrica de Tucuruí tem a mesma importância regional. Vai permitira navegabilidade do rio Tocantins, mas arrasta-se desde 1981. As eclusas estavam previstas ao tempo da polêmica construção da barragem, mas a obra foi interrompida várias vezes e não passou da metade. Contrato firmado entre o DNIT, a Eletronorte e o consórcio Camargo Corrêa garantiu a retomada e prevê a conclusão até junho de 20m O investimento previsto sobe a R$ 548 milhões. As
eclusas, com um canal de 5,5 quilômetros, permitirão o tráfego de embarcações e o transporte de até 22 mil toneladas de carga por via fluvial. O que, certamente,
servirá de incentivo para o desenvolvimento agropecuário, florestal e mineral no Vale do Tocantins-Araguaia, contribuindo para a geração de empregos na Amazônia e no Centro-Oeste. Assim que foi anunciada a inclusão do projeto no P AC, o diretor de Infra-Estrutura Aquaviária do DNIT, Martinho Cândido, avaliou: "A obra mais importante em termos de magnitude e valor são as eclusas de Tucuruí." Além da retomada, houve, enfim, preocupação em alojar as famílias atingidas pelo projeto. Até março, foram construídas 100 casas de um total de 300.
Além dessas três "jóias da coroa" - o Rodoanel de São Paulo, o Canal do Sertão Alagoano e as eclusas de TucuruÍ -, os assessores da Casa Civil (muitos deles, gaúchos) falam com entusiasmo do investimento de R$ 438 milhões no superporto da cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. Ali se constrói o primeiro dique seco de grande porte do País. Ao entrar em atividade em setembro de 2009, o dique seco - com 16,5 metros de altura, 350 metros de comprimento e 130 de largura - servirá para a montagem e o reparo de plataformas submarinas e deverá gerar 1,2 mil empregos. Durante dez anos, o espaço será de uso exclusívo da Petrobras, que arcará com R$ 340 milhões. Além do pólo naval de Rio Grande, são espetados na conta da Petrobras os investimentos na ampliação da frota de petroleiros, em novas plataformas petrolíferas e na construção de gasodutos. A estatal banca também a construção da Refinaria Abreu Lima, em Penambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em ltaboraí, na Baixada Fluminense, cuja refinaria vai processar 150 mil barris/dia de petróleo pesado da Bacia de Campos. Até 2010, a Petrobras investirá R$ 5,5 bilhões no CompeIj, no que será a maior obra já vista no Rio de Janeiro nas últimas décadas. Na opinião do governador Sérgio Cabral, o Comperj terá o impacto dê "uma revolução" na vida dos três milhões de pessoas daquela região. Estima-se que serão gerados 210 mil empregos diretos e indiretos.
Em seus relatos, Dilma também dá destaque aos investimentos em rodovias, ferrovias, habitação e saneamento. São inúmeras ações distribuídas por todo o País, que recentemente passaram a ser monitoradas por satélite. Uma das obras prioritárias é a duplicação e a modernização da rodovia BR-101 de norte a sul do País. Encontram-se em fase mais adiantada os trechos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, graças a investimentos totais de R$ 1,2 bilhão até 2010. Outra frente à qual a ministra se refere com uma ponta de orgulho foi o êxito tanto nos leilões das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, quanto na segunda etapa do programa de concessão de rodovias, na qual o pedágio de alguns trechos chegou " a ficar abaixo de. R$ 1. No caso do Rio Madeira, a acesa a disputa entre a construtora municípios Norberto Odebrecht e o consórcio Suez-Camargo Corrêa acabou na Justiça, o que veio confirmar o acerto da decisão de reabrir a licitação. O preço do kW caiu pela metade.
A "mãe do PAC" sabe que seu futuro político está ligado ao bom desempenho do programa. Por isso mesmo, Dilma ficou irritada com as denúncias de corrupção nos investimentos em saneamento e habitação do Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal, no bojo da Operação João-de-Barro da Polícia Federal. ""Não há projetos, não há obras, não há gestão. Há apenas propaganda e, agora, corrupção", disse o deputado José Anibal, líder do PSDB na Câmara. Pesquisa feita às pressas pela Casa Civil mostrou que, dos 119 municípios listados pela PF, somente 37 têm obras do PAC. Além disso, segundo a ministra, do R$ 1,8 bilhão a que teriam direito, as prefeituras investigadas receberam apenas R$ 15,5 milhões até o momento., Dilma está decidida a não permitir que pequenos desvios de conduta ponham em risco a integridade do canteiro de obras que pode garantir seu caminho para 2010.
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