E oi Serra vai descer a Serra


É impressionante a situação em que Serra se colocou nas eleições da capital de seu estado. Pelo que fez e deixou de fazer, chegou a um ponto em que, em todos os desfechos, ele perde

Não são muitas as cidades onde as pesquisas feitas atualmente têm alguma capacidade preditiva a respeito do que pode ocorrer na eleição de outubro. Pesquisas de intenção de voto convidam os entrevistados a responder propondo que raciocinem dentro de duas hipóteses: “Se a eleição fosse hoje” e “se os candidatos forem fulano e beltrano”.

Será que elas são verdadeiras?

É fácil perceber quão incerta pode ser, em muitas cidades, a primeira. Não apenas a eleição não é hoje, no plano objetivo, como há uma grande distância subjetiva da grande maioria do eleitorado em relação a ela. Especialmente em eleições municipais, como mostra nossa experiência dos últimos anos, são raras as pessoas que escolhem cedo seus candidatos.

Nas eleições presidenciais, ao contrário, são muitas, o que faz com que, desde meses antes do pleito, já se possa identificar para onde vão os principais segmentos do eleitorado. Nas que vamos fazer agora, a atitude típica do eleitor é de pouca motivação e baixíssima mobilização. A eleição, definitivamente, não “é hoje”.

A segunda é menos óbvia, mas relevante. É fato que, depois de sábado, quando se encerrou o prazo de registro das candidaturas, conhecemos os nomes dos que vão concorrer. Mas o que é, hoje, um nome? Em muitos casos, apenas um nome, de alguém que o entrevistado pode não saber quem é, de quem pode se lembrar de alguma coisa (que nem sempre corresponde ao que o candidato é atualmente) ou cuja avaliação pode mudar muito, quando vier a conhecer os demais.

Em outras palavras, enumerar nomes “a frio”, longe da hora e perante um quadro de informação desigual sobre eles, pode dizer pouco.

Toda regra tem exceções e existem eleições em que os nomes principais são tão conhecidos que as pesquisas, mesmo feitas agora, mostram tendências firmes. É o caso de São Paulo, onde os quatro candidatos mais importantes — Alckmin, Marta, Kassab e Maluf — são quase universalmente conhecidos: o atual prefeito, dois ex-prefeitos, dois ex-governadores. Sobre os quatro, até um eleitor desinteressado é capaz de dizer várias coisas, para o bem ou para o mal. Nenhuma cidade brasileira chega perto de ter um quadro assim.

Por isso, a pesquisa do Datafolha recém-divulgada é relevante. Ela pinta um quadro localmente significativo, sobre quem tem mais chances de vir a ser o próximo prefeito (ou prefeita) da cidade. Mas mostra, também, algo que tem mais interesse nacional, pois se refere a um dos principais atores do jogo político atual e ao pré-candidato que lidera as pesquisas sobre a sucessão de Lula, o governador José Serra.

O mínimo que se pode dizer é que é impressionante a situação em que Serra se colocou nas eleições da capital de seu estado. Pelo que fez e deixou de fazer, chegou a um ponto em que, em todos os desfechos, ele perde.

Perde se Marta, que está na frente na pesquisa (com 38%), ganhar, pois ele se coloca como adversário dela, tendo feito uma campanha de desconstrução de sua gestão quando a enfrentou e venceu em 2004. Perde se o segundo colocado (que tem 31% e ganha de Marta na simulação de segundo turno, com 50%) for bem sucedido, pois nunca admitiu que Alckmin tivesse todas as razões para ser o candidato do PSDB e nunca quis que o fosse. Perde se Kassab (hoje com 13%) vier a ganhar, mesmo sendo ele seu indicado.

Por um lado, porque as cicatrizes dentro do partido demorariam muito a desaparecer. Por outro, porque seria apenas uma vitória da força, de quem faz política passando por cima dos outros, até de seus companheiros. Assim, não soma, não constrói, habilidades indispensáveis a um presidente.

Mas como poderia ser uma vitória da força, se o governador sequer conseguiu impor o nome de sua preferência a seus correligionários? A estas alturas, Kassab é que seria o vitorioso.

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