Ex-marido de Ingrid diz que Brasil foi decisivo na libertação


Fabrice Delloye elogia Lula por ter pressionado Uribe por negociação

O Brasil teve um papel ativo na libertação da ex-senadora franco-colombiana Ingrid Betancourt, refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) nos últimos seis anos. Essa ação se deu por meio de pressões diplomáticas sobre o governo da Colômbia para que reabrisse as negociações com os revolucionários e não ordenasse tentativas de resgate dos reféns por meio da força militar. As garantias foram feitas ontem ao Estado pelo diplomata francês e ex-marido de Ingrid, Fabrice Delloye, coordenador em Paris da campanha pela libertação dos reféns.

Delloye, pai dos jovens Mélanie e Lorenzo - filhos da ex-refém -, havia confidenciado no início do ano que não tornaria a ocupar os holofotes da imprensa após a libertação dos reféns, não por menosprezo, mas por fadiga. Informado pelo Estado de que uma polêmica se estabelecera no Brasil em torno do papel supostamente coadjuvante do governo de Luiz Inácio Lula da Silva nas negociações com as Farc, o diplomata aposentado aceitou falar. "Não tinha conhecimento da polêmica e não posso concordar com ela. O presidente Lula sempre manifestou suporte à nossa causa. No início do ano, na Cúpula das Américas, reuniu-se com o primeiro-ministro da França, François Fillon, e ambos aprofundaram discussões sobre o tema", relata. "O Brasil foi formidável na libertação de Ingrid."

Segundo Delloye, os interlocutores brasileiros - entre eles o secretário Especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia - auxiliaram nas conversações com os presidentes da Colômbia, Álvaro Uribe, e da França, Nicolas Sarkozy.

A colaboração entre as partes sofreu, entretanto, um grande revés, reconheceu o diplomata: a operação clandestina de resgate ordenada pelo então ministro das Relações Exteriores francês, Dominique de Villepin, realizada em Manaus em 9 de julho de 2003. À época, motivado por notícias repassadas por fontes da família de Ingrid em Bogotá, uma equipe do governo da França usou o território brasileiro sem permissão para aterrissar, à espera da libertação da refém. As informações se mostraram equivocadas.

Por ordem do presidente Lula, a equipe teve de deixar o país. Embaixadores do Palácio do Eliseu em Brasília e Bogotá foram convocados a prestar esclarecimentos. Villepin desculpou-se formalmente pelo erro. "Naquele momento a missão francesa foi vítima de uma maquinação que retardou o processo de negociação", afirmou Delloye, sem precisar a que tipo de retardo se referia, nem qual teria sido o papel do Palácio do Planalto. "Mas o fato é que as Farc não mostravam, e nunca mostraram, vontade efetiva de negociar a libertação dos reféns."

O ex-marido de Ingrid ressaltou ainda que membros do Partido Verde e conselheiros de Lula trabalharam no Brasil como interlocutores da ONG Agir por Ingrid, de Paris. Delloye espera que a ONG, agora denominada Agir com Ingrid e destinada a lutar pela libertação dos demais reféns das Farc e por um acordo de paz na Colômbia, mantenha o apoio oficial brasileiro. "Só peço que continuemos a luta pelos que ainda estão sofrendo."

Na sexta-feira, Ingrid fez elogios a Lula e disse que deseja visitar o Brasil. No mesmo dia, o presidente manifestou interesse em encontrar-se com a ex-refém.

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