E-mail obtido pela Folha mostra que Gilberto Kassab (DEM) acionou pessoalmente a máquina da prefeitura na tentativa de influir no campo do mais recente Datafolha sobre a sucessão paulistana, no qual aparece em terceiro lugar, com 11%, atrás de Marta Suplicy (PT, 36%) e Geraldo Alckmin (PSDB, 32%).
Os resultados foram divulgados na noite de quinta-feira passada, 24 de julho. Às 19h02 de terça, 23, ao fim do primeiro dos dois dias de campo, Kassab enviou mensagem a 26 subprefeitos pedindo que, no dia seguinte, realizassem "ação" uma vez "identificado o ponto" onde os entrevistadores do instituto abordariam eleitores. O prefeito confirma ter mandado o e-mail, mas nega que o objetivo tenha sido melhorar seu desempenho na pesquisa -na qual recuou dois pontos.
Segundo ele, tratou-se de "ação preventiva" para "evitar maldades". Seus auxiliares teriam conhecimento de que "pessoas ligadas ao PT" costumam provocar tumultos de trânsito e outros em locais supostamente próximos aos visitados pelos entrevistadores de modo a prejudicar a percepção do público a respeito da administração.
"É impossível que eventos do gênero descrito pelo prefeito influam sobre os resultados do Datafolha, seja pela forma como são feitas as entrevistas, seja pelos posteriores procedimentos de controle", afirma Alessandro Janoni, diretor de pesquisa do instituto (leia na pág. A8 texto explicativo sobre a metodologia utilizada). "Se ele suspeitava de ação indevida por parte dos adversários, deveria ter recorrido à Justiça Eleitoral, em vez de adotar as mesmas práticas."
No e-mail, Kassab orienta os subordinados a intervir "principalmente no período da manhã", que concentraria maior número de entrevistas, "mas também no período da tarde".
O teor da mensagem indica que o prefeito havia dado a mesma determinação antes do primeiro dia do campo. A "ação", escreveu, deveria ser feita "assim como hoje, onde alguns [pontos de entrevistas] foram identificados". "Seria ótimo se acontecesse amanhã."
Em obediência à legislação eleitoral, as datas de realização do campo são registradas no TRE, que as torna públicas. A pesquisa que o prefeito tentou influenciar por meio de uso da máquina registrou recuo de dois pontos em sua intenção de voto na comparação com o Datafolha anterior, divulgado em 6 de julho.
Também dentro da margem de erro do levantamento, oscilou um ponto para cima sua taxa de rejeição, hoje em 31%. Após queda brusca no início deste mês, a aprovação do governo Kassab moveu-se dois pontos percentuais para cima (35% dos entrevistados consideram a gestão ótima ou boa). A nota média dada à administração também se mostrou estável: foi de 5,3 para 5,2. Alçado do posto de vice ao de prefeito há dois anos e cinco meses, quando José Serra (PSDB) saiu para disputar o Palácio dos Bandeirantes, Kassab se lançou à reeleição com o apoio não-oficial mas evidente do governador, que trabalhou o quanto pôde pela manutenção da aliança demo-tucana em São Paulo. Alckmin, porém, desde sempre mais bem posto nas pesquisas, terminou por impor sua candidatura.
Embora aliados repitam que somente a campanha de televisão, a partir de meados de agosto, poderá alavancar Kassab -dono de um tempo de tela muito superior ao dos adversários por força da coligação com o PMDB-, é enorme a pressão para que a candidatura produza alguma reação imediata, que ao menos arranhe a polarização Marta-Alckmin. A estagnação estimula a debandada, para o lado de Alckmin, de tucanos até recentemente computados como kassabistas. O PSDB controla 21 das 31 subprefeituras e 15 das 22 secretarias municipais. Folha para quem assina
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