O Brasil é um país difícil, diz ex-vice da Telecom Itália


O Brasil é um país difícil, onde é necessário estar bem com personagens como o banqueiro Daniel Dantas e o investidor Naji Nahas. Assim Carlo Buora, ex- vice-presidente da Telecom Italia (TI), justificou as negociações da empresa com os dois principais alvos da Operação Satiagraha e o dinheiro gasto pela TI para entrar em acordo com Dantas - só Nahas teria recebido 25 milhões no período em que trabalhou como consultor dos italianos no País.

“No Brasil, personagens como Dantas hoje estão na sarjeta e amanhã são colocados num pedestal. Quando encontrava Collannino (Roberto Collannino, ex-presidente da TI) no conselho de Mediobanca, Collannino sempre dizia (sobre Dantas): ‘Esse delinqüente’. O problema com Dantas tem origens antiqüíssimas”, disse o executivo.

Ouvido no mesmo dia (27 de junho) em que Marco Tronchetti Provera, ex-presidente da empresa, pelo Ministério Público, em Milão (Itália), Buora pôs nas costas do antigo chefe a responsabilidade pela gestão dos negócios com Nahas e Dantas. O conteúdo dos depoimentos só foi divulgado anteontem.

Pouco antes de explicar por que a TI precisava de Nahas e se havia associado a Dantas, Buora foi questionado sobre os gastos registrados na contabilidade da empresa no centro de custo “top management”. “Nahas à parte, é natural haver nas empresas custos como os do top management, porque os diretores, muitas vezes, administram certos projetos.”

O procurador, então, perguntou por que nesse centro de custo estavam registrados as “dezenas de milhões pagos a Nahas”. A origem disso era, segundo Buora, a “gestão brasileira e, portanto, o doutor Tronchetti”. Em seu depoimento, publicado ontem pelo Estado, Tronchetti Provera contou que só soube que os pagamentos para Nahas eram feitos em dinheiro depois que eles foram efetuados. Nahas teria recebido R$ 3,25 milhões dessa forma. Ele responsabilizou o atual presidente do Conselho de Administração da TIM do Brasil, Giorgio Della Seta, pelos pagamentos. “Havia um teto, ele tinha um teto, creio de 2 milhões de despesas, uma coisa desse gênero, portanto era dentro do teto de despesa”, afirmou Provera.

Ao ser indagado pelo procurador sobre o que Nahas fez com esse dinheiro, Buora foi seco: “Pergunte a Nahas.” A procuradoria apurava a possibilidade de Nahas ter pago propina a políticos e policiais no Brasil. Provera negou que Nahas mantivesse contatos políticos no Brasil para favorecer a TI. Ele e Buora foram ouvidos no inquérito que apurava o suposto esquema de espionagem montado pela segurança da TI, que provocou a denúncia de 34 pessoas, entre as quais 8 acusadas de espionar Dantas no Brasil.

0 comentários.:

Postar um comentário



Topo