BNDES negocia três alternativas para compor orçamento


O BNDES está negociando três alternativas de funding com o governo para conseguir R$ 10 bilhões para fechar seu orçamento de 2008. O banco está no seu limite e já está entrando em processo de contingenciamento de projetos aprovados aguardando caixa - o que seria uma das razões para o menor crescimento das aprovações de novos projetos em relação aos desembolsos. A expectativa é que esta situação seja discutida e encontre uma solução na reunião do Conselho de Administração do banco, na quinta-feira.

As conversas dos últimos 40 dias entre governo e BNDES têm tratado, até agora, da possibilidade de captação de recursos em três fontes alternativas, duas delas envolvendo o patrimônio do FGTS e uma, o Tesouro. O Valor apurou que o BNDES pode receber uma parte dos R$ 10 bilhões que pleiteia em CVS, títulos originários do esqueleto do Fundo de Compensações das Variações Salariais dos anos 80, do antigo Sistema Financeiro da Habitação (SFH), que gerou um passivo no patrimônio do FGTS que acabou securitizado.

Outra parte pode ser obtida junto ao Fundo de Investimento em Infra-estrutura, criado por medida provisória com recursos do FGTS, que hoje tem um caixa de R$ 17 bilhões. O banco pode casar parte em CVS e parte em recursos do FI de Infra-estrutura para compor seu caixa. Ou, em último caso, se as negociações falharem, pode optar por buscar um empréstimo do Tesouro a custo de mercado. O banco já fechou, no início do ano, um empréstimo do Tesouro no valor de R$ 12,5 bilhões, corrigido por custo de captação externa. Entre estas três opções, o CVS é considerado uma solução parcial, mas pode ser usado pelo BNDES para pagar dividendos do seu balanço para o Tesouro, seu acionista majoritário. O banco poderia trocar CVS por debêntures de sua emissão com a Caixa, que administra o FGTS. O uso do CVS seria marginal para cobrir o rombo de desembolsos.

O FI de Infra-Estrutura é o que mais atrai o BNDES. O banco, que hoje tem uma carteira de R$ 49,7 bilhões de projetos em infra-estrutura, quer obter R$ 10 bilhões do caixa de R$ 17 bilhões deste FI. Este pleito, contudo, foi refugado e rebaixado para algo entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões. Até agora, porém, não houve acerto entre as partes - BNDES, Caixa e Fazenda.

O banco teria que remunerar o FI do FGTS com 6% ao ano mais TR. Mas, mesmo sendo uma correção acima da TJLP - descasada, portanto - não é esta diferença que está impedindo um acordo entre os gestores do FI de Infra-Estrutura do FGTS , todos indicados pela Caixa, e o BNDES. Se estas duas negociações falharem, o banco voltará a apelar ao Tesouro, mas vai pagar juros de mercado.

Até junho, em 12 meses, os desembolsos da instituição somaram R$ 78 bilhões. Em julho, devem superar os R$ 80 bilhões, marca que já estava prevista para junho e não foi cumprida. A maior parte dos recursos para cobrir os desembolsos vêm do retorno de financiamento e de 40% do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). O resto do dinheiro vem de captações no mercado doméstico (debêntures) ou mesmo de captações em instituições multilaterais (BID, BIRD) ou externas, que voltaram a ser feitas este ano, ou venda da carteira de ações da instituição oficial. O BNDES começou o ano com R$ 65 bilhões garantidos (incluindo o empréstimo do Tesouro) e vem, desde então, buscando alternativas para chegar aos R$ 80 bilhões. Faltam R$ 10 bilhões.

O banco, neste momento de aperto, poderia vender ações de sua carteira, se o cenário do mercado estivesse melhor. Recentemente, adiou a venda de ações da Light e suspendeu por 60 dias a emissão de uma tranche de debêntures de R$ 1,5 bilhão por conta do mau humor das bolsas. Estes recursos iriam engordar sua carteira. Pode ser que isso ainda ocorra, junto com captações de bônus lá fora, se o ambiente de negócios melhorar.

Na esteira do aumento dos investimentos produtivos, tem havido uma corrida aos recursos do BNDES . Em 2004, o banco desembolsou R$ 39,8 bilhões e aprovou R$ 37,9 bilhões em financiamentos. Estes números foram crescendo anualmente e em 2007 foram liberados R$ 64,9 bilhões e aprovados R$ 98,8 bilhões, que estão virando desembolsos neste ano.

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