Quase um mês após o começo da campanha municipal, o Democratas enfrenta problemas no Rio de Janeiro e Recife, as suas principais vitrines. Entre os grandes partidos de antes da chegada do PT ao poder, o antigo PFL foi o que mais perdeu quadros, e é a sigla que tenta agora a maior mudança de perfil e que espera sair das eleições reestruturado, de modo a fazer um bom papel em 2010. Mas para isso precisa fazer bonito no Rio e em São Paulo, e a largada não foi nada animadora.
Apesar do pouco peso que dá às primeiras pesquisas sobre as eleições de outubro, a cúpula pefelista não esconde uma certa "decepção" com os números exibidos por Gilberto Kassab. Numa eleição até agora pulverizada como a do Rio, os índices da candidata Solange Amaral são considerados compreensíveis. Mas em São Paulo o mínimo que se esperava é que Kassab já tivesse ao amenos descolado dos 9% exibidos pelo ex-prefeito Paulo Maluf.
As condições para isso foram dadas, pelo que se diz no DEM. Basta lembrar que o próprio DEM articulou a retirada de Guilherme Afif Domingos, que pensava em disputar o cargo, que o governador José Serra assegurou a permanência dos tucanos no governo municipal, além de tirar de Marta Suplicy um apoio que o PT já dava como certo: o do ex-governador Orestes Quércia, com o precioso tempo de TV do PMDB. E o melhor de Kassab foi uma grotesca tentativa de manipular uma pesquisa.
O DEM aposta na recuperação de Kassab. O presidente do partido, Rodrigo Maia, acredita que isso se dará a partir do horário eleitoral gratuito. O deputado José Carlos Aleluia (BA) concorda que com a TV "será possível passar para o candidato o índice de avaliação do prefeito, que é alto".
A expectativa da direção do DEM é que Kassab chegue ao final do primeiro turno com algo entre 25% e 30% dos votos, a serem retirados, sobretudo, do tucano Geraldo Alckmin. Isso sem atacar o candidato do PSDB. Ele, assessores e dirigentes do DEM insistem que a aliança com o PSDB será o limite da campanha. Ou seja, Alckmin não será atacado a ponto de comprometer o futuro da aliança DEM-PSDB.
É com uma votação entre 25% e 30% dos votos válidos de São Paulo que o DEM espera compensar os votos nacionais que perderá em função da grande mudança de perfil que o partido está tentando fazer nas eleições. Um exemplo da natureza dessa mudança é a grade: 60% deles disputarão postos nas regiões Sul e Sudeste, contra 30% no Norte e Nordeste. Exatamente o contrário do que ocorreu quatro anos antes, quando PFL teve 51% de seus candidatos no Norte e Nordeste e 40% nas regiões Sul e Sudeste.
O partido fez então (em 2004) 11.238.408 votos, ou 11,81% do total de votos válidos, contra os 15,35% obtidos na eleição municipal de 2000. Embora tenha agora concentrado seus candidatos nos maiores colégios, o DEM não espera um número de votantes maior ou igual ao de 2004. Mas mesmo no Nordeste, onde não tem prefeituras ou governos estaduais importantes, o DEM acredita que viverá nova realidade em 2010.
"Perdemos prefeitos seduzidos pelo poder (na Bahia, eram mais de 200, sobraram cerca de 60), mas não perdemos lideranças políticas importantes", diz o secretário-executivo Saulo Queiróz. Tradicionalmente, o DEM elege cerca de 50% dos candidatos que são lançados; este ano eles serão 1.100. Em 2005, o DEM elegeu seis prefeitos de capitais, contra nove em 2000.
Este ano, o DEM disputa em 12 capitais, contra nove há quatro anos. Em 2004, concorreu com apenas três candidatos no Nordeste; este ano, entre com chances reais - de acordo com as primeiras pesquisas - em pelo menos três: Fortaleza, Salvador e Recife. As sondagens de opinião também indicam boas possibilidades em Belém e Palmas. No Sul, Ônix Lorenzonni patina em Porto Alegre, mas tem grandes esperanças com uma novidade em Florianópolis, o deputado estadual César Júnior (em Curitiba mantém a aliança com o favorito tucano Beto Richa).
"Talvez não possamos compensar em número de votos (em relação a 2004)", diz Saulo Queiroz, "mas certamente vamos ganhar em termos de prestígio. Inclusive no Nordeste, e chegar a 2010 em condições de competir por boas bancadas no Congresso e pelos governos estaduais". Isso, como lembra Rodrigo Maia, já sob as novas regras da fidelidade partidária, "o que tornará possível planejar um partido para três ou quatro eleições".