Em debate morno, Marta recorre a Lula e Kassab atira em Alckmin


No primeiro debate de TV entre candidatos à Prefeitura de São Paulo, ontem à noite, na Band, a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy (PT) colou sua imagem à do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) disparou uma farpa ao tucano Geraldo Alckmin, ao fazer uma pergunta à petista. De modo geral, porém, todos centraram fogo em propostas e despejaram números.

Participaram do programa 8 dos 11 prefeituráveis. Além de Marta, Kassab e Alckmin, compareceram Paulo Maluf (PP), Soninha Francine (PPS), Renato Reichmann (PMN), Ciro Moura (PTC) e Ivan Valente (PSOL). A mediação foi do jornalista Boris Casoy. Segundo a emissora, o Ibope constatou que o debate teve média de 3,5 pontos de audiência.

Após um início morno, o terceiro bloco foi o que teve mais atritos. Incumbido de abrir a série, Kassab pôde escolher Marta para polarizar. Disse que herdou com o governador José Serra um sistema de saúde sucateado pela antecessora e agora estava investindo no setor de forma nunca vista na cidade “desde José de Anchieta”. E aproveitou para cutucar Alckmin, ao fechar a pergunta para a petista. “O Alckmin não cuidou dos postos de saúde?”, provocou. Em resposta, a petista evitou a polêmica e argumentou que teve de remunicipalizar o sistema, que teria recebido falido do antecessor, Celso Pitta.

Em sua réplica, Kassab atacou a ex-prefeita, dizendo que sua administração ficou marcada pela criação de impostos.

Na seqüência, coube a Maluf eleger Alckmin como alvo. O candidato do PP provocou o ex-governador, indagando-o sobre o sistema de progressão continuada adotada na rede estadual de ensino. O tucano contestou os dados do adversário, que classificara a educação no Estado “de a pior do País”. “O Maluf está desatualizado”, reagiu. “São Paulo (em educação) está acima da média nacional.” E defendeu suas realizações.

Escolhido pelo nanico Ciro Moura para responder sobre os problemas no setor de transporte e trânsito, Kassab aproveitou para alfinetar os principais adversários. O prefeito disse que investiu R$ 1 bilhão no metrô e construiu corredores de ônibus. “Candidatos já fizeram compromissos e não cumpriram”, ressaltou, referindo-se aos principais rivais, que já foram chefes de Executivo.

Em meio à guerra dos números, ao longo do debate os candidatos travaram uma disputa sobre quem plantou mais árvores. Maluf declarou ter plantado 1 milhão delas e Kassab, 600 mil. A petista garantiu ter plantado quatro vezes mais que atual gestão, o que daria 2,4 mil. Se confirmados os números, a cidade ganhou, pelos cálculos dos candidatos, 4 milhões de árvores. “Fizemos o maior plantio”, disse ela. Kassab rebateu: “Plantou bastante coqueiro e túnel”.

GAFE

O debate começou morno e com uma gafe do apresentador. Logo na primeira pergunta, sobre combate à poluição, Casoy disse que não chovia na cidade havia mais de 30 anos. Primeiro a responder, Kassab aproveitou para vender sua gestão: “Combatemos de maneira muito forte a poluição e a poluição visual”, disse, referindo-se ao programa Cidade Limpa. Maluf defendeu sua principal proposta, a freeway - uma laje sobre os Rios Tietê e Pinheiros, para evitar carros “em ponto morto, poluindo”.

Marta alfinetou Kassab, questionando o número de parques criados e garantiu: “Fizemos o maior plantio de árvores.” O candidato do PSDB, enciclopédico, disse que as doenças respiratórias são a 4ª causa de morte na cidade, graças ao monóxido de carbono, expelido na queima de combustíveis fósseis. E prometeu estimular o transporte público.

No segundo bloco, cobrada por Soninha sobre o custo e a utilidade de obras executadas ou iniciadas em sua gestão, como túneis, a ponte estaiada e o fura-fila, a petista respondeu: “Não me arrependo porque tudo foi bem feito.” E colou sua imagem à de Lula: “Como ministra do Turismo, levei a Lula e ele aprovou: construir 200 quilômetros de corredores de ônibus em São Paulo.” Já Marta usou sua primeira pergunta para defender os Centros Educacionais Unificados (CEUs).

Alckmin foi cobrado por Valente sobre o teto de financiamento de sua campanha, de R$ 25 milhões. “É muito dinheiro, o povo estranha. Quem vai financiar?” O tucano garantiu: “Vou fazer uma campanha despojada, modesta. Sou favorável ao financiamento público, mas ele não virá enquanto não houver reforma política.” Na réplica, o candidato do PSOL cobrou uma resposta sobre quem seriam os doadores. O tucano insistiu: “Tenho uma vida absolutamente franciscana.”

O tucano escolheu Kassab para perguntar, no que pareceu um jogo combinado. Indagou sobre iluminação pública e o candidato do DEM respondeu de pronto, com números na ponta da língua: “Ligamos 30 mil novos pontos de luz. E 130 mil lâmpadas de mercúrio foram trocadas por lâmpadas de vapor de sódio. Num segundo mandato, São Paulo será 100% iluminada e 100% de vapor de sódio.”

No quarto e penúltimo bloco, o jornalista Fernando Vieira de Mello indagou Maluf por sua inclusão na lista dos candidatos com ficha suja. Ele desmentiu tudo, disse que sua prisão não teve base legal e assegurou: “Sou um homem sério. Foi Paulo Maluf que praticamente construiu essa cidade.” Kassab, que também está na lista, frisou que foi absolvido na ação, mas o Ministério Público recorreu. “O eleitor tem direito de saber tudo sobre os candidatos.” GUILHERME SCARANCE, RICARDO BRANDT, SILVIA AMORIM, CLARISSA OLIVEIRA e LUIZ CARLOS MONTEIRO DE OLIVEIRA


FRASES

“Levei a Lula e ele aprovou: construir 200 Km de corredores de ônibus ”
Marta Suplicy
Candidata do PT

“Fico preocupado que a candidata Marta fique 4 anos na prefeitura”
Geraldo Alckmin
Candidato do PSDB

“Plantou bastante coqueiro e túnel (sobre a administração de Marta Suplicy)”
Gilberto Kassab
Candidato do DEM

“Foi Paulo Maluf quem praticamente construiu essa cidade”
Paulo Maluf
Candidato do PP

“Não sou atleta e pedalei nove quilômetros para chegar até aqui”
Soninha Francine
Candidata do PPS





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