Faturamento do setor cresceu 8,4% no período e uso da capacidade instalada atingiu 83,3% em junho
A indústria brasileira registrou neste ano o melhor primeiro semestre desde 2003, quando teve início a série histórica Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O faturamento real do setor subiu 8,4% e as horas trabalhadas na produção, 5,9% na comparação com o mesmo período de 2007 na série sem os efeitos sazonais. O aquecimento da atividade industrial elevou a utilização da capacidade instalada, que atingiu 83,3% em junho, também o mais elevado nível dos últimos cinco anos.
Os dados do semestre foram reforçados pelo resultado de junho, quando a atividade industrial voltou a se aquecer, depois de uma acomodação em maio. As horas trabalhadas na produção aumentaram 1,5% em relação a maio, a maior taxa de crescimento na comparação com o mês anterior desde setembro de 2003. O faturamento subiu 2% e o emprego teve expansão de 0,5% ante maio.
Diante dos bons resultados do primeiro semestre, o economista Paulo Mol, da CNI, avaliou que a indústria terá um crescimento forte em 2008, podendo bater um novo recorde. Mas ele acredita que o ritmo no segundo semestre deve desacelerar por causa da expectativa de novas elevações de juros pelo Banco Central. Segundo ele, embora os aumentos da massa salarial, dos gastos do governo e do crédito possam continuar atuando como fatores importantes na expansão da indústria, a economia deverá sofrer um desaquecimento no segundo semestre em função da intensificação do ritmo de alta dos juros.
PRODUÇÃO
Mol acredita que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2008 deve cair para 3,5% em relação ao mesmo período de 2007, enquanto a expansão do primeiro trimestre deste ano foi de 5,8%. O economista lembra ainda que, como foi divulgado pela CNI na semana passada, os estoques das grandes empresas estão um pouco acima do desejado, o que pode provocar um arrefecimento da produção.
Por outro lado, Mol previu que os investimentos na indústria devem continuar para expandir a capacidade de produção. “Como a utilização da capacidade instalada está alta, os empresários devem sentir-se estimulados a investir. Isso deve manter a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) elevada no próximo trimestre.”
O economista afirmou que o patamar atingido em junho não é motivo de preocupação. Ele lembra que, desde outubro de 2007, a indústria tem operado, em média, com 83% da sua capacidade. “Não vejo a restrição de oferta como causa da inflação”, disse.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) avalia que a indústria nacional ainda produz em um nível “seguro”. “O fato de o faturamento, o emprego e as horas trabalhadas crescerem nos últimos meses e a utilização da capacidade instalada ter permanecido relativamente estável revela esta nova característica da economia que estamos vivenciando hoje: um ciclo importante de investimentos”, afirma relatório divulgado ontem pelo instituto. “Isso vai afastando os perigos de uma inflação de demanda.”
EMPREGO
O número de postos de trabalho na indústria, de acordo com os Indicadores Industriais da CNI, cresceu 4,4% de janeiro a junho este ano, o maior aumento desde o primeiro semestre de 2005, quando foi registrada uma alta de 5,4%. A trajetória de crescimento do emprego industrial vem ocorrendo há três anos em quase todos os setores. Mas alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos representam quase a metade da expansão no primeiro semestre de 2008.
A massa real de salários na indústria cresceu 5,6%, puxada principalmente pelos setores de veículos automotores, alimentos e bebidas e máquinas e equipamentos.