O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, informou ontem, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, que o Brasil vai receber R$ 1,5 trilhão em investimentos no período de 2008-2011. Segundo Coutinho, esses são os números "confiáveis e mapeados", mas existe uma perspectiva de que esse montante chegue a R$ 2,36 trilhões no mesmo período. A maior fatia será destinada à indústria e serviços, com R$ 627,1 bilhões, seguidos de perto pela construção residencial, com R$ 534,9 bilhões. A apresentação feita por Coutinho mostrou que, entre 2004 e 2007, foram investidos no Brasil R$ 896 milhões nos mesmos setores.
Coutinho, que abriu as apresentações da reunião do conselho, intitulada "Um Novo Brasil em Construção", afirmou que esse bom resultado do país acontece independentemente da crise financeira do subprime americana, que completa um ano em agosto. Enquanto a crise das hipotecas retraiu a economia americana, no Brasil o BNDES teve crescimento de 30% nos projetos de investimento programados de 2008 a 2011. "Neste período, as decisões de investimento nem tremeram", assinalou.
Segundo a avaliação do presidente do BNDES, há a percepção de que o Brasil pode atravessar as tormentas que poderão vir, porque tem um mercado interno com um potencial enorme. Ressaltou que os empresários estão confiando e investindo e o país tem um forte sistema financeiro. O diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, Marcelo Nery, disse que uma prova de que os empresários confiam no futuro do Brasil é o número de empregos com carteira assinada gerados nos últimos 12 meses, que ficou em torno de 1,5 milhão. "Carteira assinada era um elemento em extinção no cenário brasileiro. Essa reversão é uma clara aposta de futuro do empresariado nacional", destacou Nery.
Antes mesmo de o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, iniciar sua exposição, Coutinho já havia destacado que o Brasil teria de criar uma política industrial específica para o setor do petróleo. Segundo ele, essa tese ganhava força no Executivo há algum tempo, mas tornou-se imprescindível após o descobrimento dos campos do pré-sal, o que, nas palavras do próprio Gabrielli, que fez depois sua exposição, colocará "a indústria do petróleo em outro patamar".
O presidente da Petrobras apontou, em seu discurso, a necessidade de se encomendar navios-sonda para atuar na exploração em alto-mar. Serão 28 embarcações construídas no Brasil e 12 no exterior ao preço que varia entre US$ 700 milhões e US$ 1 bilhão. Essa política industrial do petróleo terá o foco na produção de máquinas e equipamentos para as elevadas demandas previstas para essa cadeia.
Embora haja uma orientação do governo em não falar muito sobre o modelo e a regulação do pré-sal antes da conclusão dos trabalhos da comissão interministerial, Gabrielli destacou que o campo Tupi começa a operar no final de 2010. "Os volumes do pré-sal encontrados, provavelmente, serão muito grandes." Nesse campo, ele estima uma reserva de cinco a oito bilhões de barris e, para explorá-lo, é preciso investir muito. O presidente da Vale do Rio Doce, Roger Agnelli, acha que o pré-sal será bom também para a Vale. "Se há uma demanda por novos navios, haverá necessidade de mais ferro. Se a Petrobras investir em material eletrônico, precisará de mais cobre. Se investir em materiais anticorrosivos, precisará de mais níquel", disse ele.
A Petrobras pretende investir, no período de 2008-2012, US$ 112,4 bilhões. Desse total, US$ 65,1 bilhões são destinados à exploração e produção. O total de investimentos poderá gerar, de acordo com cálculos do presidente da estatal, uma média anual de 917 mil novos postos de trabalho. Até 2010, a empresa pretende contar com 9.621 quilômetros de dutos no país. Em 2003, eram 5.804 quilômetros. Cinco novas refinarias serão construídas no país. Gabrielli lembrou que a última refinaria havia sido inaugurada em 1980.
Na avaliação do presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e um dos vice-presidentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Rodrigo Loures, presente à reunião, é interessante e positiva essa aproximação das ações do BNDES e do Ministério da Fazenda, mas afirma que os investimentos em infra-estrutura não têm a velocidade desejada. Como exemplo, cita o caso dos portos do país, que ainda estão muito aquém do desafio exportador e do crescimento da economia brasileira.
O que mais incomoda os empresários atualmente, segundo Loures, é o câmbio, que vem sendo ainda mais valorizado com o aperto monetário. Ele considera que a âncora das políticas econômicas está errada e deveria ser deslocada para a gestão fiscal. "O real valorizado tira competitividade do produto brasileiro no exterior e essa situação fica ainda mais deteriorada com a subida dos juros. É preciso racionalizar as despesas públicas", argumentou.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o evento serviu para reunir todos os dados da economia brasileira que passavam, muitas vezes, despercebidos do conjunto da sociedade. "Mostramos que o crescimento do Brasil não é um vôo de galinha, mas de uma águia que pode voar mais alto do que pensava que voaria antes", afirmou o presidente.
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