Brasil Lá


O que parecia ser uma tirada espirituosa, num discurso de improviso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ganhou corpo com um convite do embaixador do Irã transmitido ao ministro de Minas e Energia, Edison Lobão: a entrada do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O ministro ficou de pensar no assunto.

A declaração de Lula, na euforia do anúncio da descoberta de óleo leve no poço Tupi, previa que “logo, logo o Brasil vai participar da Opep”. Segundo Lobão, uma proposta formal foi feita há cerca de 15 dias, numa visita do embaixador do quarto maior produtor de petróleo do mundo — o Irã retira quatro milhões de barris por dia de suas reservas provadas de aproximadamente 140 bilhões de barris.

Apesar da resposta diplomática, Lobão reconhece que o Brasil ainda está longe de poder entrar no cartel do petróleo. “Não somos ainda exportadores normais de petróleo. Enquanto não formos definitivamente exportadores teremos que ter prudência para tomar uma decisão dessas”, afirmou.

De fato, apesar da auto-suficiência — o que se extrai é equivalente ao consumido — a produção brasileira é de óleo pesado, de menor qualidade. Boa parte desse petróleo é exportado e o país compra óleo leve. Portanto, o Brasil é exportador, mas a diferença entre o que é vendido e comprado é negativa — e nos sete primeiros meses esse déficit bateu recorde, chegando a US$ 5,4 bilhões.

Além disso, entrar na Opep não combina com a perspectiva do governo de investir na exportação de derivados, e não do óleo cru, como já explicou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Por outro lado, o próprio convite do Irã tem muito mais conteúdo político do que econômico e pode ser interpretado como uma aproximação diplomática.

O presidente Lula voltou ao tema ontem. “Não vamos ser exportadores de óleo cru, e sim exportadores de derivados de petróleo para ganhar mais dinheiro para o país”, afirmou. Lula aproveitou para rebater críticas de que o governo já está pensando em como gastar a receita do petróleo antes mesmo de começar a explorar as novas reservas.

“Se a gente não discute, os mesmos de sempre vão querer se apoderar desse dinheiro antes de ele chegar para as finalidades nobres que queremos para esse país”, disse o presidente, que também reclamou de quem ainda desconfia da capacidade de explorar o óleo a mais de seis mil metros de profundidade. “É jogar para baixo, porque a gente não iria ao Espírito Santo se a gente não tivesse a convicção de que em março vamos tirar dos 6,5 mil metros de profundidade”, emendou, referindo-se à primeira retirada simbólica de petróleo do pré-sal, na terça-feira.

Euforias à parte, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, lembrou ontem que “não existe hipótese de se explorar o pré-sal de hoje para amanhã”, afinal o poço de Jubarte, no Espírito Santo, ainda está em fase de testes, o que acontecerá com Tupi a partir de março do próximo ano. Segundo a ministra, porém, a demora não se deve à falta de recursos, mas sim ao cuidado necessário a essa exploração.

Nesse particular, reiterou que a comissão interministerial formada para estudar a necessidade de mudanças na legislação do petróleo vai oferecer um conjunto de alternativas que ainda precisam ser discutidas com a sociedade. “É muito importante que se abra um debate no Brasil sobre essa riqueza. Esse é um debate crucial para o país”, afirmou. O governo espera a conclusão dos trabalhos da comissão para outubro.

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