As sete vidas dos políticos brasileiros


Às vezes a gente fica com a sensação de que os políticos "profissionais" no Brasil têm o direito de desfrutar não de uma vida, como todos os mortais, mas de umas sete, como reza a lenda, desfrutam os gatos. José Dirceu continua dando uma parte das cartas no PT - recentemente pediu por meio de seu blog que o partido negue votos à candidatura do deputado Michel Temer (PMDB-SP) à presidência da Câmara -; Roberto Jefferson permanece presidente do PTB; o ex-ministro da Fazenda e deputado federal Antonio Palocci (PT-SP), quem diria, sobrevivente do escândalo do caseiro, ressurge das cinzas como o mais novo aspirante ao governo do Estado de São Paulo nas eleições de 2010. Isso apenas para ficar em alguns exemplos de trajetórias mais recentes.

Aos políticos brasileiros é concedido o privilégio da uma segunda chance, o perdão. O eleitorado, de memória curta e coração mole, levou em consideração o arrependimento demonstrado por José Roberto Arruda - que derramou lágrimas no Senado, em 2001, quando se envolveu na violação do painel de votação da Casa. Renunciou ao cargo para voltar anos depois. Primeiro como deputado federal e, em 2006, foi eleito governador do Distrito Federal. Da mesma forma, o presidente afastado Fernando Collor de Mello voltou dois anos atrás para a política, ocupando um importante cargo, o de senador da República. É bem verdade que nesse caso a redenção demorou dezesseis anos.

Dentre os políticos que voltam, um está prestes a comprovar a tese do nordestino mandacaru - planta símbolo da resistência ao sertão nordestino. Trata-se de Renan Calheiros (PMDB-AL), que parecia estar levando discretamente seu mandato de senador desde 2007, quando foi afastado da presidência do Senado. Ele saiu temporariamente de cena depois de passar por um longo processo de exposição de sua vida pessoal e empresarial, comprovando que não falta diversidade nos escândalos da nossa política. Tudo começou pela denúncia de que o senador teria repassado a Mônica Veloso - com quem tem uma filha, fruto de uma relação extraconjugal - quantia razoável de dinheiro com origem duvidosa: um funcionário de uma grande construtora.

Menos de dois anos depois, absolvido duas vezes por seus pares, Renan angaria forças para assumir a liderança do PMDB - o principal partido da aliança de sustentação do governo Lula - no Senado. Se essa possibilidade vier a se confirmar, ele retorna para a elite dos políticos brasileiros, de onde não parece ter saído. E sem ter precisado convencer o eleitorado, como alguns de seus colegas, que conseguiram uma segunda chance com o aval dos votos.

Político do interior do Nordeste, ligado ao PC do B, lutou contra a ditadura, fez seu caminho rumo à Assembléia Legislativa de Alagoas, depois chegou ao Congresso Nacional. Como deputado constituinte, empunhou a bandeira pelo direito do voto aos 16 anos de idade, articulou a vitória do presidente Fernando Collor de Mello na corrida presidencial de 1989. Mesmo com o afastamento de Collor, ocupou cargos no segundo escalão do governo Itamar Franco, foi ministro da Justiça de Fernando Henrique Cardoso - quando deu visibilidade à pasta e ficou popular com a regulamentação dos Códigos de Trânsito e de Defesa do Consumidor. Embora um dos ministros mais bem avaliados do governo FHC, Renan perdeu o cargo em uma queda-de-braço com o então governador de São Paulo, Mario Covas (PSDB).

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