Mais 14 mulheres acusam médico tarado


Desde sexta-feira, mais 14 novas mulheres, uma acompanhada do marido, procuraram o Ministério Público do Estado de São Paulo ou a Polícia Civil para denunciar supostos crimes sexuais praticados pelo médico Roger Abdelmassih, 65, dono da maior clínica de fertilização in vitro do Brasil.

A procura começou após a Folha publicar, no dia 9, reportagem sobre a abertura de um inquérito contra o médico. Até aquele momento, nove mulheres já haviam prestado depoimento formal à polícia.

Abdelmassih nega todas as acusações e afirmou, em nota divulgada sexta-feira, que não teve acesso à íntegra do inquérito policial. Seu advogado, Adriano Vanni, disse ontem que não sabia dos novos depoimentos. "Não posso comentar sobre o que não sei", afirmou.

Os novos depoimentos são similares aos relatos colhidos em maio. Em geral, as mulheres acusam o médico de tentar beijá-las ou acariciá-las, quando estavam sozinhas -sem o marido ou a enfermeira presente. Algumas disseram ter sido molestadas após a sedação.

Uma das mulheres que procuraram o Ministério Público ontem contou que vivia fora do Brasil, mas voltou ao país apenas para se tratar com Abdelmassih. Ela afirmou ter sido agarrada pelo médico durante uma consulta.

As mulheres que prestaram depoimento no inquérito têm entre 30 e 40 anos, são casadas, bem-sucedidas profissionalmente, de pelo menos três Estados diferentes e não se conheciam. Apesar de se declararem ultrajadas, nenhuma ex-paciente quer revelar publicamente a sua identidade.

No inquérito, não há prova material contra o médico, apenas relatos. Mesmo assim, o promotor José Reinaldo Carneiro, do Gaeco, grupo especial do Ministério Público paulista que investiga o caso, acredita ter indícios suficientes para oferecer uma denúncia contra o médico.

Na polícia, o crime investigado é atentado violento ao pudor (ato libidinoso diferente de estupro), que pode acarretar até dez anos de prisão. O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) abriu uma sindicância sobre as denúncias. O médico ainda não foi ouvido. Chamado a depor na Promotoria em agosto, ele apresentou atestado médico e não compareceu. Folha

Cremesp arquiva 65% das denúncias de assédio

Dois terços das denúncias de assédio sexual recebidas pelo Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) são arquivadas, mostra estudo feito entre 2002 e 2008. Foram 272 denúncias de pacientes contra médicos paulistas- 35 por ano, em média- das quais 65% foram arquivadas por falta de provas, segundo o conselho.

Os ginecologistas lideram as denúncias, seguidos pelos médicos da saúde da família. Entre os citados, 15% são reincidentes -foram denunciados pelo mesmo crime por mais de uma mulher. Em geral, os acusados de assédio são homens casados, entre 40 e 60 anos.
Embora as queixas de assédio representem 1% do total de denúncias recebido por ano (4.000 em média) pelo Cremesp, o alto índice de arquivamento levou o conselho a instalar no ano passado uma câmara técnica para discutir o tema.

"Ficava sempre a palavra do denunciante contra a do denunciado e a mentalidade de que, sem provas, não há crimes. Agora, estamos levando em conta outros fatores, como a reincidência. A ideia é agilizar a apuração da denúncia e o julgamento do caso", explica a médica Ieda Therezinha Verreshi, conselheira do Cremesp.

A médica diz que outro fator que dificulta a apuração das denúncias é o silêncio das pacientes. "Muitas faziam a denúncia, mas depois não voltavam para prestar depoimento. Têm medo do marido, do companheiro. Agora, estamos indo até elas para ouvi-las", conta.

Segundo o ginecologista Nilson Roberto de Mello, presidente da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), a recomendação é que, na hora de examinar a paciente, o médico tenha assistência de uma enfermeira ou de uma auxiliar de enfermagem.


ORIENTAÇÕES

O médico nunca deve examinar a paciente sozinho. O conselho de medicina orienta que uma enfermeira esteja presente

Se possível, a mulher deve ir à consulta acompanhada

Nenhuma consulta exige que a mulher fique totalmente nua na frente do médico

Se perceber qualquer suspeita de assédio, a mulher deve denunciar o médico na polícia e no conselho regional de medicina

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