Doença de Dilma pode levar PMDB à oposição


O mundo político não fala em outra coisa. A doença anunciada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, mudou o tom da corrida eleitoral do próximo ano e jogou dúvidas sobre a manutenção da atual aliança governista em torno da pré-candidata.

Logo depois de declarar à imprensa um tratamento para cura de um câncer no sistema linfático, no sábado, líderes partidários já exercitavam suas previsões. Alguns sentenciam: o anúncio pode jogar o gigante PMDB, ou boa parte dele, no colo da oposição.

Maior partido do Brasil, o PMDB é a diva da disputa majoritária no próximo ano. Tradicionalmente dividido, tem seu principal contingente na base do governo, mas com tentáculos no PSDB de José Serra, governador de São Paulo e favorito nas pesquisas de intenção de voto.

Serra cobiça o lado governista e, agora, pode ampliar o número de conquistas.

"A tendência é a gente começar a receber adesões", afirmou à Reuters o senador Jarbas Vasconcelos (PE), peemedebista da oposição e defensor do tucano. "Qualquer tipo de especulação (sobre sua saúde) não ajuda ninguém. Tem pessoas que simplesmente não querem esperar (que ela supere as dificuldades), principalmente porque o PMDB carrega certa dose de fisiologismo", admitiu o parlamentar.

Oficialmente, o PMDB governista - preferido para ocupar o lugar de vice na chapa de Dilma -, não cogita abandonar o barco, mas já não considera a candidatura da ministra um fato consumado. "A grande maioria de nós participa do governo e quer estar com o presidente Lula em 2010 com a candidatura que melhor convier não só para o PMDB, mas para a base política", destacou o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem meticulosamente trabalhando pela candidatura da ministra. Antes dela, pensara em apoiar o nome de seu então ministro da Fazenda, Antônio Palocci, mais tarde envolvido em escândalo que o tirou do cargo.

Preço da aliança

Apesar do discurso oficial de apoio, os bastidores da coalizão reforçam o cenário de incerteza. "Cria uma certa fragilidade. Alternativas passam a ser considerados", disse um peemedebista que não quiser ser identificado. "O preço do PMDB para apoiar a Dilma acaba de subir 50 por cento. Sua candidatura vai ficar muito mais cara", acrescentou o analista político Luciano Dias.

Se, por um lado, a doença acendeu um sinal de alerta sobre o futuro da corrida presidencial, por outro, pode reforçar a imagem de mulher forte da ministra, ex-militante de esquerda e vítima de tortura na época do regime militar.

"A atitude de muita dignidade e muita transparência da Dilma amplia a empatia da população com a candidatura e os partidos se movem por isso. Essa coisa pega muito da coragem, de enfrentar e superar", afirmou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC), negando a possibilidade de desembarque de aliados.

O PMDB é cobiçado por qualquer candidato com pretensões de vencer uma eleição competitiva e de governar o país com maioria no Congresso. Nas últimas eleições, elegeu o maior número de prefeitos (1.201). Com seis ministérios, o partido também é campeão em número de governadores, senadores e deputados.

Logo após Dilma assumir sua luta contra o câncer, o deputado Michel Temer (SP), presidente da Câmara e um dos principais líderes do PMDB, disse que a notícia mudava o jogo político da sucessão. O parlamentar foi citado por petistas como potencial vice numa eventual chapa liderada pela ministra.

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