Um ano depois do fim da Guerrilha do Araguaia, os militares temiam que grupos subversivos se instalassem em cidades de Goiás, próximas ao Entorno. Relatórios obtidos pelo Correio revelam que o Destacamento de Operações de Informações e o Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do Comando Militar do Planalto monitoraram dezenas de pessoas em 1976, com o temor de uma nova luta armada. O DOI-Codi enviou para a região agentes disfarçados de jornalistas, mas mantinha uma extensa rede de informantes em pequenas cidades e distritos goianos e de Minas Gerais.
Desde quando enviaram seu primeiro contigente ao Araguaia, em 12 de abril de 1972, os militares mostraram que estavam dispostos não apenas a derrotar integrantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), mas manter severa vigilância pelo interior do país, para evitar novos focos de resistência. Qualquer pessoa que se manifestasse contra o governo, o golpe de 31 de março de 1964, ou fosse de partido de oposição, já era considerada inimiga. Isso ocorria mesmo quando a denúncia partia de informantes, que muitas vezes não eram politizados. Foi o que aconteceu em fevereiro de 1976, quando um relatório encaminhado ao DOI-Codi por um morador a serviço da ditadura gerou uma grande investigação do Comando Militar do Planalto.
No relatório, o informante revela que em pequenos municípios de Goiás havia elementos perigosos, alguns vindos de outras regiões. “Como é de conhecimento das autoridades competentes federais e estaduais, o município de Formoso (GO) foi, antes da irreversível revolução de 31-03-64, local escolhido para um grande movimento subversivo, tendo como sede Trombas (hoje distrito)”, diz o relatório. O documento revelou que as pessoas eram as mesmas que lideraram uma associação camponesa, antes do golpe militar, e que estariam voltando a agir. Entre os alvos estavam padres da região, que muitas vezes faziam o papel do Estado na ajuda à população local, pobre, como admitiam os próprios militares.
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