O faturamento real da indústria de transformação apresentou crescimento de 2,9% em março nem relação a fevereiro, registrando o segundo mês consecutivo de aumento no faturamento. Em fevereiro, a alta havia sido de 2,6% sobre janeiro. Os dados fazem parte dos Indicadores Industriais, divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O aumento não é generalizado, mas já atinge a maioria dos setores da indústria. Dos 22 segmentos pesquisados, 11 mostraram aumento no faturamento, enquanto que nove registraram queda.
Apesar de crescer sobre o mês anterior, o faturamento da indústria caiu 1,6% sobre igual mês do ano passado, mantendo a tendência de queda pelo quinto mês consecutivo, na comparação anual. No trimestre, o tombo do faturamento do setor foi de 7,6%, na comparação com igual trimestre do ano passado e piorou em relação ao último trimestre de 2008, quando a queda foi de 3,4%.
Os economistas da CNI avaliam que o faturamento e a utilização da capacidade instalada da indústria – considerados os primeiros a captarem os efeitos da atividade industrial – demonstram sinais de recuperação, mas afirmam ainda ser cedo para saber se o dado representa uma tendência para os próximos meses. Eles chamam a atenção para os efeitos sazonais do período, uma vez que tradicionalmente a indústria aumenta os serviços após o efeito Carnaval.
Em março, o uso da capacidade instalada do setor apresentou um modesto aumento, de 0,5 ponto percentual (para 78,7%) e interrompeu uma sequência de queda de cinco meses seguidos. Mas tal expansão não é acompanhado por aumentos de emprego e de renda.
O mercado de trabalho ainda capta os impactos da crise. A massa salarial real caiu 1,8% em março sobre igual mês de 2008 e registrou a primeira queda, na comparação anual, desde o início da série da pesquisa, em janeiro de 2007. Na comparação com fevereiro, considerando os dados reais, dessazonalizados pelo INPC do IBGE, houve estabilidade. Mas o indicador apresenta alta simbólica de 0,1% no primeiro trimestre, na comparação com igual etapa do ano passado.
Refletindo os efeitos da baixa na atividade industrial, em março as horas trabalhadas na produção caíram 6,6% sobre o mesmo mês do ano passado e declinaram 0,2% sobre fevereiro, pelo segundo mês seguido, na comparação mensal. A queda sobre março do ano passado atinge 15 setores, com mais reflexo em madeira (-28%), máquinas e equipamentos (-18,5%), veículos automotores (-15,7%), couros e calçados (-11,2%) e metalurgia básica (11,1%), com reduções acima de dois dígitos.
No trimestre, os funcionários trabalharam na produção 7,4% de horas a menos do que no mesmo trimestre do ano anterior. Com isso, o índice real de emprego registrou queda de 2,5% em março, sobre igual mês de 2008 e recuou 0,7% ante fevereiro. Na comparação mensal, foi a quinta redução seguida. Entre janeiro e março, o emprego recuou 1,4%, em relação ao mesmo período do ano anterior.
A indústria de transformação em março operou com 78,7% em média do uso da capacidade instalada, contra 78,2% em fevereiro. Porém o setor ainda trabalha com índice de produção abaixo dos 83% apurados em março de 2008.
O economista da CNI, Flavio Castelo Branco, informa que o setor ainda trabalha com estoques médios acima dos desejados pelos empresários, uma vez que as vendas não foram suficientes para desovar as mercadorias estocadas. Isso explica o motivo pelo qual o mercado de trabalho do setor ainda apresenta dados negativos.
Cautelosos, os economistas da CNI notam uma inversão no desempenho do setor que começou a reagir positivamente a partir de março. Mas alertam que não se trata de uma recuperação generalizada entre os setores e as variáveis econômicas. "A atividade industrial já chegou ao fundo do posso [começou a cair em novembro], agora deixou de piorar e está entrando num trimestre de transição [abril e junho], com dados de indicadores oscilando entre positivos e negativos", analisou Castelo Branco.
Dentre os setores que apresentam dados melhores de faturamento, destacam-se outros equipamentos de transportes, com alta de 45,4%, sobre março de 2008. Neste caso, tal aumento deve-se às encomendas feitas anteriormente ao agravamento da crise mundial, informou o economista da CNI, Marcelo D’Ávila. Na sequência, vem produtos minerais não-metálicos, com alta de 17,3%; metálicos (excluindo máquinas), com avanço de 13,9%; alimentos e bebidas, com 11,5%. Já as quedas mais acentuadas são de metalurgia básica, de 35,2%, madeira, com recuo de 20,5% e edição e impressão, com 14,8%.
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