Consultorias que chegaram a prever, no início do ano, uma contração de até 2% na economia brasileira já falam em crescimento de 0,5%
Com as nuvens se dissipando, é possível afirmar que houve uma tremenda dose de alarmismo em relação à atual crise internacional. Prevendo hecatombes jamais vistas nos últimos 70 anos, economistas da iniciativa privada e de governos conseguiram mergulhar o mundo numa depressão. Não em uma depressão econômica, mas psicológica. Numa rapidez impressionante, o abalo no sistema financeiro dos Estados Unidos se transformou em recessão. Mas, também de forma surpreendentemente veloz, a onda já começou a refluir.
Não se vai passar do buraco à prosperidade num segundo. A crise ainda não acabou. Porém, os indicadores na China, Estados Unidos, Brasil e outros países já dão sinais de recuperação. A base de comparação é baixa, mas a produção industrial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) cresceu em cada um dos três primeiros meses do ano. A média móvel, que os técnicos usam para investigar tendências, reverteu a trajetória de queda que persistia por cinco meses e subiu 1,6%. Dos 27 segmentos pesquisados, 11 tiveram alta, principalmente automóveis e medicamentos.
O faturamento do setor, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), aumentou pelo segundo mês seguido em março (2,9%), após os 2,6% de fevereiro. Os estoques das empresas ainda estão altos, num reflexo do enorme tombo na demanda. Mas, depois de cinco meses em queda, a utilização da capacidade produtiva cresceu. Em fevereiro, as indústrias nacionais usavam 78,2% do potencial de seus equipamentos, número que passou a 78,5%. Para o gerente de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, o cenário sinaliza recuperação, que precisa ser confirmada pelos números do emprego.
Retrato do passado
Os dados consolidados ainda são muito ruins, o que faz a festa dos catastrofistas, que bradam “é o pior período desde a recessão do Plano Collor” etc. É verdade. Mas, por mais difícil que seja admitir isso, o quase sempre equivocado ministro da Fazenda, Guido Mantega, está certo ao dizer que esse é um retrato do passado. Recentíssimo, mas, ainda assim, passado. Um número cada vez maior de analistas considera que estamos mesmo no momento da retomada, ainda que lenta. A economia brasileira, assim como a de países mais importantes, já vê a luz no fim do túnel.
Empresários e consumidores já perceberam isso. Os índices de confiança calculados pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e a própria CNI passaram a mostrar, para não falar num otimismo aberto, pelo menos um pessimismo muito menor. Os entrevistados se dizem especialmente esperançosos em relação ao futuro próximo. No curto prazo, projetam recuperação e prometem retomar os investimentos e o consumo de bens duráveis. Pessimistas recalcitrantes, as consultorias também notaram a virada da onda e estão revendo suas projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
No dia 17 de março, a média dos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC) previa uma retração de 0,49%. Nas duas semanas seguintes, esse número mudou para -0,39% e -0,30%. Consultorias que chegaram a prever, no início do ano, uma contração de até 2% na economia brasileira já falam em crescimento de 0,5%. A expectativa é que entremos em 2010 num ritmo mais acelerado. As estimativas são de expansão de pelo menos 3,5% no ano. Para os EUA, as apostas não são mais de uma década de recessão, mas de queda de 2,5% no PIB em 2009 e elevação de 1% em 2010.
O erro dos alarmistas
O cenário internacional não é muito diferente. A produção chinesa voltou a crescer numa taxa razoável. Nos Estados Unidos, o mercado imobiliário, onde toda a confusão começou, está voltando a se aquecer. Os investidores estão confiantes de que o plano do governo Barack Obama para limpar os balanços dos bancos dos papéis podres vai dar certo. Ele se baseia num fundo com recursos públicos e privados para comprar os títulos, dando valor de mercado para aquilo que havia virado fumaça. Acreditando que o Tesouro não vai deixar nenhum banco relevante quebrar, as bolsas de valores voltaram ao azul.
O erro dos alarmistas foi subestimar a capacidade de recuperação de economias dinâmicas, como a brasileira e a norte-americana, e a possibilidade de sucesso da estratégia financeira dos governos para injetar dinheiro no mercado. É provável que os planos de torrar mais dinheiro público em obras até se mostrem desnecessários, entrando para a história como meras peças de publicidade. A crise deve se resolver com um monumental aumento do déficit público nos EUA para salvar o sistema financeiro, o enfraquecimento do dólar e, a pior consequência, taxas de desemprego mais altas por um certo tempo.
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