Sabesp negocia compra da Emae, controlada pelo governo de SP


Com interesse em seu extenso sistema hidráulico na Grande São Paulo, a Sabesp acerta detalhes para comprar das mãos do governo estadual o controle da Emae, Empresa Metropolitana de Águas e Energia.

Mais conhecida pelo parque de geração de energia, a Emae é dona de um complexo hidráulico fundamental para o abastecimento de água da região. Pertencem a ela, por exemplo, os reservatórios Billings e Guarapiranga. Integram o sistema barragens, diques e canais, que perpassam a região metropolitana, começam no município de Salto e vão até a Baixada Santista.

O Valor apurou que as negociações para que o governo transfira a empresa à Sabesp já estão em fase final.

Transferir a Emae à Sabesp é de grande interesse do governo de José Serra (PSDB), que tem adotado medidas privatizantes para fazer caixa e ampliar sua capacidade de investimento. Vendeu a Nossa Caixa ao Banco do Brasil no ano passado e, antes disso, fez uma tentativa frustrada de privatizar a Cesp. Agora, repassará a Emae à Sabesp. Procurada, a Sabesp não comentou. Há um mês a empresa divulgou comunicado informando que havia assinado acordo de confidencialidade para avaliar a Emae.

Esse movimento começou em 2007, quando o Valor informou que o governo havia dado início a um processo para avaliar 18 empresas e entidades estatais. Na ocasião, o governo não quis adotar um discurso privatizante e Serra chegou a dizer a interlocutores que não venderia estatais.

O preço da Emae é estimado por analistas em torno de R$ 600 milhões. O pagamento poderá ser feito parte em dinheiro e parte em ações da compradora. A Sabesp deverá fazer um aumento de capital, com emissão de novas ações a serem entregues ao Tesouro paulista. É a Secretaria da Fazenda de São Paulo que controla a Emae, com 97,6% do capital votante e 38,9% do capital ordinário.

O Tesouro também é controlador da Sabesp. Receber ações da empresa é um bom negócio para o governo, que passaria a ter em mãos papéis negociados na bolsa, que poderiam ser vendidos no futuro. Por outro lado, o Estado tende a ficar com as ações - ou parte delas - para assegurar o controle. Hoje, a secretaria detém pouco mais de 50% do capital da empresa de saneamento, com a emissão de ações para incorporar a Emae, os acionistas serão diluídos.

Os ativos hidráulicos da Emae superam em valor e relevância seus ativos de energia. Por isso a transferência à Sabesp e não à Cesp, por exemplo. A operação do seu sistema hidráulico envolve o aproveitamento racional das águas superficiais (não subterrâneas) para promover a geração de energia, o controle das cheias e também o fornecimento de água bruta (não tratada).

É quase certo que o parque gerador da Emae será vendido a outro interessado futuramente. Uma das possibilidades seria a venda à Cesp. A Emae tem uma capacidade instalada de 1.396 megawatts e é dona de usinas hidrelétricas como a Henry Borden, além da termelétrica Piratininga. Suas ações preferenciais são negociadas na Bovespa e ontem subiram 2,22%. Entre seus acionistas minoritários mais relevantes estão o Metro paulista, a Eletrobrás e o Banco Prosper.

No ano passado, a receita líquida da empresa ficou em R$ 250 milhões e seu lucro líquido ficou em R$ 170 milhões.

A Emae nasceu em 1998 da cisão da antiga Eletropaulo. Dentro do programa estadual de desestatização, a Eletropaulo foi dividida em quatro empresas independentes: a Emae, a Eletropaulo Metropolitana, a Bandeirante e a Empresa Paulista de Transmissão. Com isso, a Emae herdou a atividade de geração de energia da Eletropaulo.

Embora tenha surgido como empresa independente apenas em 1998, a história da Emae começou quase um século antes, em 1899, quando foi fundada a The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited, lá no Canadá. Em 1901, começou a operar a primeira hidrelétrica da Light no Brasil e a maior do país até então, com capacidade de apenas 2 megawatts.

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