Sob pressão, PSDB admite Mercosul com "Venezuela restrita"

Pressionada por empresários, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e pelas próximas eleições, a bancada do PSDB no Senado mudou sua posição radical de oposição à adesão da Venezuela ao Mercosul e já admite uma aprovação com ressalvas.
Este deve ser o tom do parecer do relator na Comissão de Relações Exteriores do Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), a ser divulgado no final do mês.
Os tucanos têm só 3 dos 19 votos na comissão, mas tendem a ser o fiel da balança, se o DEM se mantiver contrário. "Vou trabalhar para o partido fechar posição contra", diz o democrata Demóstenes Torres (GO).
O presidente da comissão, Eduardo Azeredo (MG), é do PSDB e tem poderes para retardar ou acelerar a discussão. Depois de votado na comissão, o ingresso da Venezuela no bloco precisa passar pelo plenário. A Câmara já aprovou a matéria.
Os tucanos estão divididos entre a oposição política ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, e as vantagens comerciais que a entrada pode trazer.
"Há muitos empresários, sobretudo da região Norte, nos procurando", diz o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Um dos mais ferrenhos críticos de Chávez, Virgílio passou a demonstrar mais flexibilidade. "As audiências públicas na comissão, principalmente as de empresários e diplomatas [favoráveis ao ingresso], mexeram comigo."
Há alguns dias, a bancada de senadores tucanos reuniu-se e decidiu recomendar a Tasso elencar, em seu parecer, uma série de exigências de maior democracia e respeito dos direitos humanos por parte de Chávez. "O peso da democracia é bastante relevante", diz Tasso.
Mas, como o relator sinaliza, essas críticas não devem ser suficientes para impedir a aprovação da entrada venezuelana no bloco. "Precisamos pensar em trazer a Venezuela para junto de nós e não deixá-la isolada. É importante consolidar um mercado sul-americano forte", afirma Tasso.
Há preocupação entre os tucanos com o poder que Chávez passará a ter de vetar acordos bilaterais dos demais membros do bloco com outros países. Tasso pode incluir ressalva em seu texto para diluir esse poder.
O ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) disse em audiência pública no Senado que as negociações do Brasil com outros países não sofrerão com a entrada da Venezuela.
Para o governo brasileiro, a rejeição pelo Congresso pode prejudicar as relações comerciais entre os dois países. Segundo Amorim, em 2008, um quinto do superávit total do Brasil foi com a Venezuela.
Nos bastidores do PSDB, FHC vem se mostrando um dos mais atuantes defensores do ingresso da Venezuela no Mercosul. Quando presidente, ele teve uma relação cordial com Chávez, embora não tão próxima como a de Lula.
O ex-presidente tem afirmado que empresários paulistas próximos do partido defendem o ingresso de um país com economia diversificada e altas reservas petrolíferas. FHC também tem lembrado que em dois anos o PSDB poderá estar na Presidência e terá de conviver com Chávez no poder.
"Temos restrição política ao Chávez, mas sabemos que do ponto de vista econômico a entrada da Venezuela é interessante para o país", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).
Aprovado o ingresso da Venezuela no Mercosul, o próximo passo será a entrada do país no Parlamento do Mercosul, foro de discussão do bloco.Folha

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