“Um soco no fígado” – Entrevista Sérgio Gabrielli


O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, define as denúncias da oposição contra a empresa como “socos no fígado” que enfraquecem a reputação da maior estatal brasileira. Na quinta-feira passada, a Petrobras recebeu um arranhão em sua reputação – mas o golpe não veio da CPI criada pelo Senado. Veio da Moody’s, conhecida agência internacional de risco. Ele ainda considera a Petrobras uma boa opção de investimento, mas a crescente dependência da empresa em relação ao governo levou a Moody’s a rebaixar uma de suas notas, alegando “risco político”. Em entrevista na véspera, Gabrielli ironizara as críticas à empresa. Disse que elas começaram em sua fundação, em 1954. Afirmou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ajuda a Petrobras e negou que sindicalistas tenham excessivo poder interno.

O senhor diz que a CPI pode ter consequências muito negativas para a Petrobras. Por quê?

A Petrobras está para se tornar uma das cinco maiores empresas de energia no mundo. Nossa estratégia é que, além de grande, sejamos também a preferida de nossos públicos de interesse: investidores, empregados, governo, clientes, sociedade, fornecedores, o que é complicado, por envolver interesses contraditórios. Nessa situação, um valor muito importante é a percepção que nosso público tem de nós. Fomos considerados, por uma instituição internacional, a quarta empresa em reputação do mundo. A Transparency International nos considera a mais transparente entre as petrolíferas. Ataques sistemáticos prejudicam a imagem da companhia.

Dá a impressão de que vocês querem esconder alguma coisa errada.

Não estamos nos recusando a ir à CPI. Queremos transparência total. Até entramos num embate com a imprensa porque fizemos o blog para ter essa relação direta com o público. Mas uma CPI precisa ter fatos determinados. Muitos dos itens listados já são alvos de investigação, muitas com participação nossa. A Operação Águas Profundas está na Polícia Federal e no Ministério Público. Colaboramos. Até agora, demitimos dois (executivos) e suspendemos três.

E os superfaturamentos...

São problemas que envolvem discussões técnicas com o Tribunal de Contas da União. No caso da refinaria Abreu e Lima (o TCU aponta um superfaturamento de quase R$ 100 milhões na obra de terraplenagem), nossa resposta tem 10 mil páginas. Na questão da Receita Federal (a Petrobras optou por um cálculo que a poupou de recolher R$ 4 bilhões), há uma discussão normal entre um contribuinte e a Receita. Não é preciso uma CPI para discutir isso.

Se tudo é tão fácil de esclarecer, por que o governo quer impedir a CPI?

Não somos parlamentares, somos empresa. O que o Senado está fazendo não é nosso movimento. Fui ao Senado e propus: se vocês querem ir a fundo em qualquer assunto, estamos dispostos a vir aqui quantas vezes forem necessárias, digam o que temos de explicar. Mas uma CPI em que vale tudo cria um chamamento ao linchamento de tudo o que pode acontecer. Numa empresa do tamanho da Petrobras, com 40 mil contratos, que representa mais de 6% das exportações brasileiras, mais de 12% da arrecadação federal, mais de 25% da receita da maior parte dos Estados, com milhares de fornecedores e gerentes, você vai encontrar alguma coisa. E é preciso punir os desvios e melhorar os processos. Então vamos dar solução a esses problemas. É inevitável achar alguma coisa.

Não é de hoje que surgem denúncias contra a Petrobras...

Vêm de 1954 (ano de fundação da empresa). A primeira tentativa de CPI foi no governo JK. Começou como um grande escândalo. A única conclusão foi que os gastos com publicidade estavam acima do que deveriam.

Já naquela época?

(Risos.) Que eu saiba, foi a única CPI instalada.

Denúncias chegaram a afetar a reputação da empresa?

Comparo ao boxe. O soco no fígado pode até não derrubar o lutador, mas vai enfraquecendo. Nos últimos quatro meses, todo grande jornal publicou uma grande denúncia no domingo. Dias depois, um parlamentar diz que isso também será investigado pela CPI. É sistemático.

O senhor disse que o blog daria mais transparência à relação com a imprensa. Mas recebeu muitas críticas...

É um debate, mas os leitores dos jornais apoiam.

O senhor acha realmente que o blog foi uma boa ideia? Por que a empresa voltou atrás?

É excelente. Não tem vazamento. Hoje publicamos as perguntas enviadas pelos jornalistas e nossas respostas à meia-noite. Antes publicávamos às sete da noite. Não voltamos atrás. A informação é da Petrobras, vocês estão reclamando propriedade intelectual da pergunta.Época

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