A cidade de São Paulo deve estar preparada para novas chuvas fortes no período úmido, que foi antecipado em um mês e que acaba em março do ano que vem, segundo especialistas. As políticas para evitar novas enchentes como as vistas na terça-feira, porém, não são de curto prazo, nem isoladas, nem dependem de ações apenas dos governos.
Antônio Carlos Zuffo, professor da Faculdade de Engenharia da Unicamp, alerta que até março a região terá mais chuvas fortes por influência do fenômeno climático El Niño. "Provavelmente neste ano e no início do ano que vem vamos ter mais notícia de enchentes." Como a chuva é uma "variável aleatória", sobre a qual o governo não tem controle, ele diz que é preciso ações conjuntas com a população.
Segundo Zuffo, obras como os piscinões são necessárias, mas não resolvem. "Não é uma política equivocada, mas não é o suficiente. Tem que haver ações simultâneas." Uma ação que poderia ser aplicada em regiões altas é a de forçar a entrada da água no solo com tubos.
Paulo Pelegrino, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, também diz que é preciso investir em modelos alternativos que fixem da água no solo. Exemplos seriam os chamados telhados verdes, com jardins, pisos porosos nas calçadas e o aumento de canteiros nas ruas. "É preciso criar áreas permeáveis, que absorvam a água das chuvas." Segundo ele, são iniciativas baratas e fáceis de ser executadas. "Se começar a se pensar nisso em cada quintal, cada calçada, são pequenas ações que em conjunto fazem a diferença."
O especialista da FAU-USP considera que o plano de macrodrenagem da cidade de São Paulo está sobre bases erradas por privilegiar o escoamento de água. Assim como Zuffo, ele diz que os piscinões são insuficientes para evitar enchentes. "Você canaliza a água e ela vai parar no rio numa determinada hora, num local mais baixo. As soluções vão sempre nessa direção, como se fosse possível se livrar da água."
Na opinião dos especialistas, o governo deveria chamar a responsabilidade da população. Pelegrino cita o exemplo de cidades como Seattle e Chicago, onde são cobradas taxas pela água pluvial que escorre das casas. "Isso incentiva as pessoas a investirem em soluções."
Para Zuffo, da Unicamp, todos precisam saber de sua responsabilidade. "Todo o cidadão que cimenta o seu quintal é responsável pelas enchentes." Assim como Pelegrino, ele defende que os imóveis sejam responsáveis por reter as águas que caem na sua área. "Há soluções pontuais, mas que multiplicadas têm um impacto significativo."
Pelegrino afirma que as obras de ampliação das marginais vão na contramão dessa política por aumentar ainda mais a impermeabilização do solo. "Mais pistas na marginal significam mais áreas impermeáveis." O uso de concreto na margem do rio também atrapalha a absorção da água, diz ele.
"A cidade cresceu sem planejamento. As enchentes são um problema que São Paulo terá que conviver", diz Zuffo. Segundo ele, se o risco de enchentes tivesse sido considerado no início, o rio Tietê deveria de ter uma área de 100 metros sem ocupação nas suas margens. "Isso deveria ter sido previsto, agora não dá mais. O custo da retirada das vias marginais é inviável", diz.
Além de não ter sido suficiente para escoar as águas das chuvas de terça passada, o sistema de drenagem teve seu funcionamento afetado pelo excesso de lixo nas ruas. A capital paulista enfrenta problemas com a limpeza urbana após o anúncio de corte de 20% no orçamento do serviço neste semestre.
Com o risco de demissões, os trabalhadores do serviço de varrição e coleta de entulho poderão iniciar greve a partir do dia 16. A decisão foi tomada ontem após audiência no Ministério do Trabalho com o Siemaco SP, sindicato da categoria, mas pode ser revertida dependendo do resultado da audiência entre sindicato e prefeitura dia 15. Segundo o sindicato, foram demitidos 1,6 mil trabalhadores desde agosto e a previsão é que até o fim de setembro sejam demitidos outros 1,4 mil. Há 8 mil empregados nesse serviço na cidade
Culpa da chuva
ResponderExcluirCusto a entender como o paulistano suporta diariamente esse indescritível colapso dos transportes urbanos e continua elegendo a mesma casta política para administrar o Estado. Ninguém jamais será responsabilizado pelo cenário apocalíptico das enchentes e dos congestionamentos monstruosos? O eleitor entregou-se a tamanha catatonia que simplesmente acredita na culpa do temporal, do feriado, do “grande fluxo de veículos”?
São décadas de continuidade administrativa ininterrupta, com uma fortuna já incalculável pretensamente gasta em investimentos, obras faraônicas e propaganda. A malha metroviária continua ridícula e os rios infectos, transbordando sob qualquer chuvisco passageiro (não, isso não acontece apenas com precipitações intensas). E o máximo que o cidadão consegue fazer é dar de ombros e concordar que vida nas cidades piorou muito nos últimos tempos...
Claro, essa passividade tem a colaboração militante da imprensa paulista. Um governo petista seria trucidado pelo espetáculo ignóbil destes dias chuvosos (e não mencionei segurança, educação, saúde). Mas, como a reeleição de Lula provou, a mídia não fabrica eleições sozinha. É impossível assistir ao martírio da população da capital sem constatar um sutil lampejo de merecimento.