Furnas descarta falha humana em blecaute

O presidente de Furnas Centrais Elétricas, Carlos Nadalutti Filho, desprezou a hipótese levantada por técnicos do setor elétrico de que o blecaute da semana passada, que afetou 18 Estados, ter sido causado por erro humano. Disse também que a justificativa dada pelo governo para o incidente, atribuído a fenômeno meteorológico, não quer dizer que as linhas de transmissão que se desligaram tenham sido atingidas por raios.

Já o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, admitiu a possibilidade de que a segurança energética seja incluída nos cálculos para tomada de decisão sobre ligar ou não ligar as usinas termelétricas, que existem para funcionar em situações de escassez de energia de outras fontes, especialmente hidrelétrica. O critério atual é baseado no preço, sendo ligadas, em condições normais, sempre as fontes de energia mais baratas. Atualmente, com os reservatórios das hidrelétricas cheios, pouquíssimas termelétricas, mais caras, estão sendo ligadas.

Tudo, segundo Lobão, dependerá dos resultados que serão apresentados pelo grupo de trabalho criado pelo governo para analisar o blecaute, buscando precisar sua causa e apontar medidas a serem tomadas para evitar uma repetição. "A modicidade tarifária (menor preço) interessa a todo o povo brasileiro, mas é claro que não podemos procurar a modicidade em prejuízo da segurança", afirmou o ministro após abrir o seminário sobre o setor de energia, no Rio.

Sobre a causa do blecaute, Nadalutti disse que "não há necessariamente associação a raio". Segundo ele, "existem, sim, comportamento climatológico em cima desses equipamentos (das linhas de transmissão), não necessariamente raios". Nadalutti participou da abertura do mesmo seminário ao qual compareceu Lobão. A um pedido para que explicasse melhor, o presidente de Furnas disse apenas que a explicação teria que ser buscada "a nível da física", dando a entender que seria muito complicado para o senso comum entender. Segundo ele, "em outras oportunidades já houve coisas semelhantes e nada aconteceu".

Furnas é a dona das linhas de transmissão que levam energia elétrica da usina de Itaipu para a Região Sudeste. Na noite da terça-feira, dia 10, as três linhas que transportam a energia se desligaram simultaneamente nas proximidades da subestação de Itaberá, São Paulo, um comportamento típico de proteção contra algum tipo de curto-circuito, provocando uma reação em cadeia que desligou 28,8 mil megawatts da carga média total de cerca de 54 mil megawatts do Sistema Interligado Nacional (SIN) naquele dia.

Nadalutti disse que não havia nenhuma interferência humana na operação dos equipamentos de controle das linhas que pudesse justificar a hipótese de erro de algum operador. Quanto à possibilidade de vir a ser feita uma linha de transmissão por uma rota diferente, que sirva de alternativa às linhas atuais, dando maior confiabilidade ao sistema, o presidente de Furnas disse que o sistema elétrico brasileiro "está dimensionado sob a ótica da melhor engenharia no sentido de otimizar os gastos", dando a entender que qualquer obra adicional deve ser examinada sob a ótica do custo e do seu benefício.

A sua breve entrevista foi interrompida pela assessoria do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) que o levou pelo braço, alegando que Nadalutti precisava despedir-se do ministro Lobão que naquele momento preparava-se para deixar o local do evento, que termina amanhã e tem o patrocínio de Furnas. Cunha, responsável pela escolha de Nadalutti para presidir a geradora federal de energia elétrica, mostrou que hoje detém o poder político em Furnas.

Ao longo dos últimos dois anos o deputado foi apontado como responsável pela tentativa de trocar dois dirigentes da Fundação Real Grandeza (o presidente e o diretor de investimentos), fundo de pensão dos empregados de Furnas e da Eletronuclear) antes de vencerem os respectivos mandatos. Os participantes do fundo resistiram, mas os dois deixaram os cargos ontem, sem terem conseguido renovar seus mandatos, como faculta o estatuto da instituição.

Cunha foi uma das estrelas do primeiro dia do seminário e feira "Brazil Global Energy", com marcada presença do PMDB, fazendo uma longa palestra sobre o petróleo na camada pré-sal e sobre o setor elétrico do ponto de vista da tramitação de projetos no Congresso. Basicamente, defendeu as posições do governo, mas, tendo como pano de fundo o blecaute da semana passada, criticou a pouca ação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) como agente fiscalizador e cobrou explicações do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Outro palestrante foi o diretor da Área Internacional da Petrobras, Jorge Zelada, também indicado pelo PMDB.

Hoje, na sede do Operador Nacional do Sistema, no Rio, haverá reunião dos órgãos e empresas envolvidos com o blecaute para preparar um relatório à Aneel.

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