O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), retirou ontem a sua pré-candidatura à Presidência sem antecipar o seu próximo passo político: em uma carta, lida por Aécio ao lado do presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, do vice-governador Antonio Junho Anastasia e do secretário-geral do partido, deputado federal Rodrigo de Castro (MG), o destino do governador em 2010 é mencionado em uma única frase. "Ao deixar a condição de pré-candidato à Presidência, permito-me novas reflexões, ao lado dos mineiros, sobre o futuro". Aécio não mencionou na carta, ao contrário do que fez publicamente em três ocasiões, a candidatura ao Senado.
A omissão reacendeu a possibilidade de Aécio compor a chapa de José Serra como candidato a vice-presidente, hipótese que o governador rechaçou no dia 28 de outubro. "No meio oposicionista, há uma insistência generalizada para que ele aceite ser candidato a vice", comentou o deputado federal Carlos Melles, presidente regional do DEM, aliado de Aécio dentro do partido. Mas o próprio Aécio, em entrevista ao portal "G1" dada pouco depois do anúncio formal, afirmou que a melhor forma que encontraria para ajudar a eleição de Serra no próximo ano seria sendo candidato ao Senado.
"Sem mandato ele não deve ficar. Acho que ele encontrou uma saída para retirar a candidatura e ao mesmo tempo adiar a própria decisão, de maneira a testar cenários, examinar pesquisas e optar apenas em março. Penso que ele disputará o Senado", opinou o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, pré-candidato do PT ao governo estadual e aliado circunstancial de Aécio na eleição municipal de 2008.
A retirada de Aécio causou ainda ontem uma primeira repercussão. Os partidos de menor porte já começaram a se alinhar em torno das candidaturas presidenciais de Serra ou da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Algumas horas antes do anúncio de Aécio, cumprindo agenda em Belo Horizonte, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), afirmou que o apoio do seu partido a Dilma tornou-se "uma tendência natural" com a presença de Serra como cabeça de chapa do PSDB. O DEM, que estava dividido entre a ala serrista e outra que se aproximou de Aécio, unificou o discurso e aumentou a pressão para que Serra assuma a candidatura à Presidência da República. Em mensagens em redes sociais na Internet, o líder da bancada na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), o líder no Senado, José Agripino Maia (RN) e o ex-prefeito do Rio Cesar Maia afirmaram que Serra torna-se automaticamente candidato.
Desaparece, com a retirada, a possibilidade de a oposição conseguir adesões de siglas governistas na coligação presidencial, como Aécio explicitamente mencionou na carta. "Ao apresentar o meu nome, o fiz com a convicção, partilhada por vários companheiros, de que poderia contribuir para uma construção política diferente, com um perfil de alianças mais amplo do que aquele que se insinua no horizonte de 2010. E as declarações de líderes de diversos partidos nacionais demonstraram que esse era um caminho possível, inclusive para algumas importantes legendas fora do nosso campo", leu o governador.
A eleição de 2010 tende a contrapor, de um lado, Serra, o DEM e o PPS e do outro, Dilma e a aliança governista. A senadora Marina Silva (PV) tenderá à terceira via com apoio do P-SOL e a candidatura presidencial de Ciro Gomes (PSB-CE) permanece como dúvida. Já em sua carta de retirada, Aécio advertiu que este será um cenário adverso para a oposição. "Devemos estar preparados para responder à autoritária armadilha do confronto plebiscitário e ao discurso que perigosamente tenta dividir o país ao meio, entre bons e maus, entre ricos e pobres", afirmou.
A segunda repercussão da retirada de Aécio é de caráter eleitoral. Pesquisas recentes apontavam que o governador conseguiria em Minas Gerais 70% da preferência para a eleição presidencial, enquanto Serra ficaria com 40%. Dilma e Ciro estariam em um patamar entre 10% e 15%. A virtual candidata petista tem domicílio eleitoral em Porto Alegre (RS), mas nasceu em Belo Horizonte (MG) e esta condição será agora explorada pelos petistas para explorar algum sentido de frustração do eleitor aecista. "Minas tende a ficar mais simpática com a candidatura de Dilma. Sempre trabalhamos com este cenário", afirmou Pimentel.
A terceira consequência é regional. Nos próximos 30 dias, o cenário da disputa mineira deve ficar definitivamente desenhado. "Janeiro será um mês de definição no Estado", afirmou Melles. Aécio irá arbitrar quem, dentre os aliados, ficará com uma vaga ao Senado e a candidatura a vice na chapa de Anastasia. Melles, pelo DEM, e o presidente da Assembleia Legislativa, Alberto Pinto Coelho (PP), disputam as vagas, mas Aécio poderá tentar atrair o PMDB estadual, sob o comando do ministro das Comunicações, Hélio Costa. Pré-candidato a governador, Costa encontra dificuldades de compor com o PT, o que inviabilizaria sua pretensão.
Em sua carta, Aécio afirma que precisaria de tempo para articular a ampliação das alianças do partido e por isso o partido precisaria fazer uma definição rápida entre o seu nome e o de Serra. "O que me propunha tentar oferecer de novo ao nosso projeto estava irremediavelmente ligado ao tempo da política, que, como sabemos, tem dinâmica própria. E se não podemos controlá-lo, não podemos, tampouco, ser reféns dele", escreveu. Mas na entrevista ao "G1", o governador admitiu que constatou que havia uma preferência por Serra dentro do PSDB.
A decisão de Aécio foi comunicada ontem pela manhã, em um encontro com Sérgio Guerra no Palácio das Mangabeiras, a residência oficial do governo. De lá, foram avisados da decisão, por telefone, Serra e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. O meio político em Minas tinha certeza da desistência desde a convenção estadual do PSDB, no dia 7, quando Aécio afirmou que iria "mergulhar em Minas Gerais".
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